«Criada no final dos anos 30, a bomba nuclear tinha dois propósitos: funcionar como arma de destruição maciça e como arma dissuasora. Preventiva. A intenção era não ser usada. É assim que o governo está a olhar para a possibilidade de taxar as grandes empresas que registem lucros inesperados devido à guerra na Ucrânia.» É assim que o Expresso começa um artigo de jornal, de 5 de Agosto de 2022, com o sugestivo título de «Costa guarda bomba atómica contra eléctricas».
Vamos por partes, que os disparates são muitos. As bombas nucleares foram criadas durante a Segunda Guerra Mundial, que decorreu entre 1939 e 1945. A primeira detonação de uma bomba nuclear ocorreu em Julho de 1945, no Deserto de Los Alamos, pelos EUA, e a sua utilização como arma contra uma cidade inimiga (Hiroxima) ocorreu em 6 de Agosto de 1945, ou seja, três semanas depois do primeiro teste.
Quando passam 79 anos sobre os bombardeamentos nucleares norte-americanos das duas cidades japonesas, é imperioso lembrar o crime e as suas circunstâncias, reafirmando a luta pela paz. O AbrilAbril republica o artigo, de há 2 anos, alusivo aos acontecimentos. Os horrores da Segunda Guerra Mundial devem continuar vivos na memória dos povos, neles se incluindo o holocausto cometido pelos nazis alemães e os bombardeamentos nucleares norte-americanos sobre as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasáqui – ocorridos a 6 e 9 de Agosto de 1945. A dimensão do crime nuclear fica também patente no número de vítimas e na brutalidade dos seus efeitos: mais de 100 mil mortos no momento das explosões e outros tantos até ao final de 1945, na sequência dos ferimentos, sendo que, entre os sobreviventes e os seus descendentes, disparou a incidência de malformações e doenças oncológicas, devido à radiação. Para justificar o crime cometido, os EUA alegaram a necessidade de derrotar o Japão e pôr fim à Segunda Guerra Mundial. No entanto, em Agosto de 1945, o militarismo japonês estava à beira da derrota, pelo que a utilização da arma atómica pelos Estados Unidos, único país que na altura a detinha, representou uma afirmação de força do imperialismo norte-americano e da sua ambição de hegemonia, uma expressão extrema da natureza militarista e agressiva do imperialismo, visando em particular a URSS. A necessidade de evocar o lançamento, pelos EUA, da bomba atómica sobre as cidades japonesas e de apreender o seu significado, não o deixando falsificar, ganha uma importância acrescida num momento em que o imperialismo promove a tensão nas relações internacionais, que têm expressão na escalada de guerra e de confrontação em várias regiões do mundo, como na Europa, no Médio Oriente ou na Ásia-Pacífico. Quando passam 74 anos sobre os bombardeamentos nucleares norte-americanos das duas cidades japonesas, o CPPC reafirma «a necessidade e urgência de pôr fim a este tipo de armamento». O crime que constitui o lançamento de bombas atómicas em Hiroxima e Nagasaki – perpetrado a 6 e 9 de Agosto de 1945, respectivamente – fica na história como um dos mais bárbaros actos de agressão contra populações civis. A sua dimensão fica desde logo «expressa no número de vítimas e na brutalidade dos seus efeitos: mais de 100 mil mortos no momento das explosões e outros tantos até ao final de 1945, na sequência dos ferimentos», lê-se num comunicado emitido esta quinta-feira pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC). «Entre os sobreviventes e seus descendentes, disparou a incidência de malformações e doenças oncológicas, devido à radiação – realidade que se sente ainda hoje, mais de 70 anos depois dos acontecimentos», explica ainda o texto. Para justificar o crime, os EUA alegaram a necessidade de derrotar o Japão. No entanto, em Agosto de 1945, o militarismo japonês estava à beira da derrota. Neste sentido, o CPPC denuncia que «o facto de estes bombardeamentos terem sido perpetrados sobre um Japão na prática já derrotado e sobre cidades sem importância militar estratégica só aumenta a brutalidade do crime». «Na sequência do horror da II Guerra Mundial e dos bárbaros bombardeamentos atómicos, o desarmamento geral, simultâneo e controlado» é «um objectivo central da acção de todos quantos, em Portugal e no mundo, defendem a paz e a segurança internacionais», afirma o organismo português, sublinhando que «recordar Hiroxima e Nagasaki é, acima de tudo, um grito de alerta para os riscos hoje existentes», na medida em que, «pela dimensão e potência dos actuais arsenais nucleares, uma guerra nuclear não se limitaria a replicar o horror vivido» nas duas cidades japonesas, «antes o multiplicaria por muito». De acordo com o CPPC, existem actualmente cerca de 16 mil ogivas nucleares, a maior parte das quais «muito mais potentes do que as que arrasaram as cidades japonesas em Agosto de 1945». Quinze mil estão em poder dos Estados Unidos da América e da Federação Russa, e as restantes em poder de França (300), China (270), Grã-Bretanha (215), Paquistão (120-130), Índia (110-120), Israel (80) e República Popular Democrática da Coreia (cerca de dez). Além disso, outros cinco países – Alemanha, Bélgica, Holanda, Itália e Turquia – acolhem no seu território armas nucleares dos EUA, país que tem «ainda armas nucleares espalhadas pelo mundo, em centenas de bases militares, esquadras navais e bombardeiros». «Bastaria que fosse utilizada uma pequena parte das bombas nucleares existentes para que toda a vida na Terra ficasse seriamente ameaçada» alerta a nota. Neste sentido, o CPPC destaca «a necessidade de uma mais forte acção em prol da paz e do desarmamento» e reafirma «a validade da exigência da adesão de Portugal ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares». Estas exigências ganham força num tempo em que «os EUA têm promovido a corrida aos armamentos, incluindo nucleares», têm dado passos como a retirada do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio – que fora assinado em 1987 com a URSS e que ficou hoje mesmo sem efeito, segundo confirmou o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros – e em que Donald Trump e outros elementos da sua administração proferem declarações a criticar e a pôr em causa a renovação, em 2021, do Tratado de Redução de Armas Estratégicas (New START). Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. É o próprio destino da Humanidade que corre enormes perigos, num contexto marcado, já desde o desaparecimento do importante contrapeso que os países da área socialista representavam, pelo aumento das despesas militares, a produção de armas mais e mais sofisticadas, o abandono de acordos internacionais de desarmamento, também no âmbito nuclear, o reforço e o alargamento da NATO, o desrespeito pelos princípios da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional, os sucessivos actos de ingerência e guerras de agressão, por parte do imperialismo, contra diversos países. O incitamento à guerra e as sanções impostas por EUA, União Europeia e NATO estão a arrastar o mundo para uma situação social e económica de dimensões graves e preocupantes, em que se aprofunda a exploração dos trabalhadores, o ataque às condições de vida das populações, aumentam de forma vertiginosa os preços dos alimentos e da energia, a especulação não tem freio – com os grandes grupos económicos e financeiros a acumularem gigantescos aumentos de lucros. Torna-se evidente que a luta contra o militarismo e o imperialismo anda de mãos dadas com a luta contra a exploração e pela defesa dos direitos económicos e sociais dos trabalhadores. O Estado português tem uma excelente arma ao seu dispor para promover a paz – a Constituição da República Portuguesa, que o obriga a uma política de paz e cooperação, que passa pela dissolução dos blocos político-militares, pelo desarmamento geral, simultâneo e controlado, nele se incluindo a abolição das armas nucleares e outras armas de destruição massiva. O CPPC chama a atenção para os efeitos que teria uma explosão nuclear e reitera a necessidade de Portugal aderir ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares, lembrando que PS, PSD e CDS-PP votaram contra. No Dia Internacional para a Eliminação Total das Armas Nucleares, que hoje se assinala, o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) lembra, com base em alertas científicos, que a «explosão de apenas 1% das armas nucleares operacionais hoje existentes no mundo equivaleria a cerca de 4000 vezes a energia libertada pela bomba atómica lançada pelos EUA sobre Hiroxima, em 1945». Em comunicado, o organismo português alerta que «uma conflagração nuclear, mesmo de carácter regional ou continental, terá efeitos duráveis sobre o ambiente, conduzindo a alterações globais catastróficas no plano da meteorologia que poderão persistir por vários anos», com consequências que levariam «a maior parte dos seres humanos e outras espécies animais a sucumbir à fome». O CPPC, que se afirma herdeiro dos movimentos em defesa da paz surgidos no início da década de 1950 – que tiveram na exigência do fim das armas atómicas uma das mais importantes causas e no Apelo de Estocolmo a sua maior expressão –, «apoia desde sempre essa reivindicação tão importante para o assegurar da paz mundial e o futuro da Humanidade», e que tem actualmente no Tratado de Proibição de Armas Nucleares «um significativo instrumento para a sua concretização». O Tratado, que foi negociado em 2017 por uma conferência das Nações Unidas e aprovado na altura por 122 países, precisa de ser ratificado por mais de 50 estados para entrar em vigor, informa o texto, precisando que, «até ao momento, já foi assinado por 70 estados e ratificado por 26». No entanto, nenhuma das potências nucleares ou países membros da NATO assinou ou ratificou este Tratado, «sendo todo o processo marcado por múltiplas pressões para a sua não subscrição, vindas sobretudo dos Estados Unidos da América», denuncia o CPPC. O organismo português lançou uma petição em defesa da assinatura e da ratificação do Tratado por parte de Portugal, que recolheu mais de 13 mil assinaturas, entregues na Assembleia da República, que a debateu em Julho último. Ao pronunciarem-se «sobre projectos de resolução que concretizavam o essencial do conteúdo da petição, PS, PSD e CDS votaram contra a adesão de Portugal ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares, optando por manter o País amarrado a "compromissos internacionais" que colidem abertamente com o interesse de Portugal, a aspiração pela paz por parte do povo português e com o espírito e a letra da Constituição da República Portuguesa – que, entre outras matérias, pugna pelo "desarmamento geral, simultâneo e controlado" e pela "dissolução dos blocos político-militares"», lê-se na nota. Para o CPPC, a «exigência da erradicação total das armas nucleares e de destruição massiva, a bem da sobrevivência da Humanidade e da vida no planeta», afigura-se «ainda mais urgente», tendo em conta os desenvolvimentos recentes da situação internacional, «nomeadamente o desenvolvimento de nova tecnologia de armamento nuclear e a desvinculação unilateral por parte dos EUA de acordos e tratados internacionais que visam a contenção de armamento nuclear». Neste sentido, defende que a adesão de Portugal ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares representará um contributo importante a favor da paz e do desarmamento. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. No entanto, pela mão de sucessivos governos de PS, PSD e CDS, a política externa e de defesa de Portugal não só tem comprometido a soberania e independência nacionais, como envolve o país na estratégia militarista agressiva do imperialismo. O Tratado de Proibição de Armas Nucleares foi aprovado há cinco anos no âmbito da Organização das Nações Unidas, mas o Governo português continua a recusar-se a subscrevê-lo. A propósito de Hiroxima e Nagasáqui ou noutros contextos, o Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) não se tem cansado de insistir para que Portugal assine, ratifique e promova esse tratado, alertando para o presente e para o futuro da Humanidade. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
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Lembrar Hiroxima e Nagasáqui para que o horror jamais se repita
Alertas para hoje e amanhã
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Lembrando Hiroxima e Nagasaki, CPPC apela ao fim das armas nucleares
Alerta para o futuro
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Grandes grupos económicos estão a facturar
Respeitar a Constituição
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É urgente a «erradicação total das armas nucleares»
A luta pela adesão de Portugal ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares
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Portanto, a arma foi criada para ser usada e foi imediatamente usada assim que disponível. Aliás, na altura da construção da bomba já a Alemanha Nazi tinha sido derrotada pelo Exército Vermelho (a capitulação incondicional ocorreu a 8/9 de Maio de 1945). E foi só por isso que se livrou de ser o primeiro alvo: os criminosos que arrasaram Dresden, num bombardeamento que matou dezenas de milhar de civis, não teriam hesitado em fazer da Europa o triste destino da primeira bomba nuclear.
Durante quatro anos, o Exército dos EUA era o único que dispunha desses arsenais, o que lhe permitiu alguns atrevimentos como, por exemplo, a intervenção militar na Grécia para derrotar o Exército de Libertação, onde os comunistas tinham um papel decisivo. Winston Churchill apresentou propostas concretas para que a nova arma fosse imediatamente utilizada contra a URSS, atacando todas as suas principais cidades e matando dezenas de milhões de soviéticos, mas tal plano foi recusado pelos EUA por razões muito práticas: o prestígio da URSS, que derrotara o nazi-fascismo e libertara a maior parte da Europa, era imenso, e um tal ataque exigia uma prévia e gigantesca campanha anti-comunista e anti-soviética ou poderia virar-se contra os seus criminosos autores.
Essa campanha foi lançada, mas não tinha ainda criado essas condições quando, em 1949, os soviéticos realizam o seu primeiro ensaio nuclear. A possibilidade de utilização da bomba nuclear contra a URSS ou contra qualquer país desapareceu, e entrou-se, então sim, num quadro em que as armas tinham um efeito dissuasor porque existia a forte certeza da imediata destruição maciça tanto do agredido como do agressor. Que com o desenvolvimento dos arsenais, e o conhecimento do efeito de inverno nuclear, tornou-se a certeza da destruição planetária e não apenas dos países directamente intervenientes. É o quadro que ainda vivemos hoje.
«Aliás, a asneira maior é mesmo esse uso normalizado, corriqueiro. Quem não se lembra de ouvir Marcelo Rebelo de Sousa falar da bomba atómica que seria a utilização do poder de dissolução da Assembleia da República?»
Feita a correcção histórica, com as consequências que são fáceis de deduzir, terminemos abordando a sua utilização no contexto em que o Expresso a usa.
A coisa não é propriamente original, e, sendo asneira, é usada de forma regular. Aliás, a asneira maior é mesmo esse uso normalizado, corriqueiro. Quem não se lembra de ouvir Marcelo Rebelo de Sousa falar da bomba atómica que seria a utilização do poder de dissolução da Assembleia da República? Ora, a Assembleia foi dissolvida, realizaram-se eleições, existe um novo governo. O que é que a dissolução tem a ver com uma bomba atómica? Há um depois depois de a Assembleia da República ser dissolvida. Como haverá um depois se alguma vez o actual governo aceitar a proposta de taxar os lucros «inesperados» que alguns estão a ter com a guerra.
Mas não haverá um depois depois de a humanidade voltar a utilizar – militarmente – uma bomba atómica. Porque nada de humano lhe sobreviveria, e até a história desse acto final da nossa espécie ficaria por fazer.
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