A resistência palestiniana, representada pelo Hamas, não marcou presença nas negociações em Doha, no Catar, limitando-se a manter contactos com alguns mediadores, ao contrário da ideia que Israel e os EUA pretendem fazer passar, de que o Hamas estaria a participar no processo de negociação, mas se manteria irredutível em alguns aspectos. No fundo, procurando responsabilizar a resistência palestiniana pelo fracasso das negociações.
As negociações no Catar assumiram-se, assim, como um retrocesso em relação aos acordos alcançados no início de Julho, e que a parte palestiniana se preparava para aceitar. Israel, por um lado, recusou várias propostas do Catar e do Egipto e, por outro, retomou questões inaceitáveis para os palestinianos, nomeadamente a pretensão de retomar os ataques militares e de permanecer no chamado corredor de Filadélfia, que liga o Egipto a Gaza, e em Netzarim, dividindo em duas partes o território palestiniano.
Trata-se, portanto, de uma posição irredutível de Israel que, uma vez mais, impede a concretização de um cessar-fogo e que conta com a cumplicidade e o apoio dos EUA, sustentado, por exemplo, no anúncio feito pelo Pentágono, no dia 13 de Agosto, vésperas das negociações, relativo a mais um fornecimento de armamento a Israel no valor de 20 mil milhões de dólares. Depois, os ataques a Teerão e a Beirute, que mataram o líder do Hamas e dois dos principais dirigentes militares do Hezbollah, ou ao Iémen e à Síria, não seriam feitos sem o conhecimento dos Estados Unidos da América.
Por outro lado, a reunião realizada esta segunda-feira entre o secretário de Estado dos EUA, Blinken, e o primeiro-ministro israelita, Netanyahu, teve lugar em Jerusalém, o que não pode deixar de representar uma provocação à parte palestiniana. Em 2018, Trump mudou a embaixada norte-americana para Jerusalém, mas Biden não só manteve a decisão, como agora a utiliza, alegadamente, para reuniões de paz. Uma realidade que mostra como são ténues as diferenças entre democratas e republicanos, pelo menos na política externa.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui