|Reino Unido

Facturas da energia vão aumentar pelo menos 164 euros para milhões de britânicos

Milhões de famílias no Reino Unido vão pagar as contas mais altas de energia da última década, depois de o regulador ter dado luz verde aos fornecedores para subirem os preços até 180 euros por ano.

Organizações sociais alertam que o aumento dos preços da energia, em conjunto com as dificuldades económicas sentidas por milhões de famílias no Reino Unido, vai conduzir a uma «tempestade perfeita» no próximo Outono 
Créditos / The Guardian

As casas que no Reino Unido usam uma tarifa de energia padrão para pagar as despesas de gás e electricidade podem esperar um forte aumento nas suas facturas a partir de Outubro, depois de o regulador ter levantado o tecto que fixa um limite para o preço da energia para o Inverno.

Para 11 milhões de casas que pagam por débito directo, a conta média da energia vai passar de 1342 para 1506 euros a partir de Outubro próximo; ou seja, pagam mais 164 euros. Para outros quatro milhões de famílias, que utilizam contadores de pré-pagamento, a factura média de energia passará de 1363 para 1544 euros, mais de 180 euros, noticia o The Guardian.

O Gabinete dos Mercados do Gás e Electricidade (Ofgem), que é o regulador governamental, anunciou esta sexta-feira que o limite de preço para os contratos de energia doméstica seria aumentado para cobrir «os custos extra» dos fornecedores.

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Centenas perdem o emprego no esquema «despede e recontrata» da British Gas

«30 anos de serviço leal não contam para nada», disse um engenheiro da British Gas, a maior empresa de energia do Reino Unido. Centenas ficaram sem trabalho ao não aceitarem piores condições.

Trabalhadores em luta contra o esquema de «despedimento e recontratação» da British Gas 
Créditos / The Guardian

Estima-se que entre 300 e 400 funcionários da British Gas tenham perdido o posto de trabalho na quarta-feira passada, depois de se recusarem a alinhar no esquema de «despedimento e recontratação» que lhes foi imposto pela empresa.

No passado dia 1 de Abril, o maior fornecedor de energia do Reino Unido entregou cartas de despedimento a cerca de mil dos seus engenheiros, que instalam e reparam caldeiras e sistemas de calefacção para os nove milhões de clientes da empresa.

Os trabalhadores tinham duas semanas para decidir se saíam para regressarem assinando novos contratos, que implicavam uma redução salarial e mais horas de trabalho, com turnos também aos fins-de-semana e feriados – de borla.

De acordo com The Guardian, o polémico esquema de «despedimento e recontratação» é legal, e a maioria dos sindicatos aceitou o agravamento das condições laborais, sendo que, até terça-feira, centenas de funcionários assinaram os novos contratos.

Luta contra o despedimento colectivo e «coerção»

O sindicato GMB destacou-se na oposição ao «esquema», ao longo de uma luta de nove meses travada contra a administração da empresa, e levou a cabo mais de 40 dias de greve, em protesto contra o «despedimento colectivo» e o «tratamento vergonhoso» dos trabalhadores, acusando o fornecedor de fazer «bullying» sobre os funcionários.

Andy Prendergast, dirigente do GMB, denunciou que muitos dos 8000 engenheiros aceitaram as novas condições «sob coerção», e sublinhou que o tratamento «chocante» dos funcionários provocou danos na sua moral.

A dona da British Gas, Centrica, anunciou os planos de emagrecimento no Verão passado, alegando para tal a perda de mais de três quartos do seu valor de mercado nos últimos cinco anos, os efeitos da pandemia e a necessidade de proteger a qualidade do serviço e milhares de postos de trabalho.

No entanto, muitos dos engenheiros visados não se mostraram convencidos com esta argumentação, tendo denunciado nas redes sociais o «esquema» e o modo como foram tratados depois de anos e anos de serviço, e expressando a recusa em aceitar piores condições de trabalho: «Não vou assinar um contrato inferior», escreveu no Twitter um dos engenheiros da British Gas que ficaram sem trabalho.

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Este anúncio ocorre depois de, há seis meses, o preço limite já ter sido aumentado em 113 euros anuais – uma subida que entrou em vigor em Abril último, com os preços do gás natural a baterem recordes, num contexto de inflação galopante.

O director executivo do Ofgem, Jonathan Brearley, disse que «facturas mais altas de energia nunca são bem-vindas e que o momento e a dimensão deste aumento serão particularmente difíceis para muitas famílias ainda a lutar com o impacto da pandemia».

Brearley referiu os grandes aumentos nos preços dos combustíveis fósseis, do gás e da electricidade como a principal razão para fazer subir o limite de preço da energia no Reino Unido.

Uma «tempestade perfeita» a caminho

Este aumento súbito nas facturas da energia, depois do que se verificou em Abril, levantou preocupações entre várias organizações, que estimam que mais de meio milhão de pessoas não sejam capazes de pagar as contas, numa altura em que abrandam os apoios governamentais relacionados com a Covid-19, como o apoio às empresas que mantinham os trabalhadores em lay-off e o corte, a partir de Setembro, no crédito universal.

A Resolution Foundation afirmou que o aumento vai afectar de forma desproporcionada as famílias com baixos rendimentos, muitas das quais ainda estão a sofrer os impactos económicos da crise que a pandemia aprofundou.

Por seu lado, a Citizens Advice alertou que mais de dois milhões de residências tinham em atraso o pagamento de contas de energia, ainda antes do novo aumento e do corte planeado do crédito universal. Num estudo realizado por esta organização, indica o The Guardian, seis milhões de famílias manifestaram preocupação com o pagamento das facturas da energia.

James Plunkett, um dos directores executivos da Citizens Advice, disse que o aumento do preço conduzirá as famílias a uma «tempestade perfeita» neste Outono.

«Com as contas a subir e os rendimentos a descer, muitas famílias terão dificuldades em escapar. Para muitos, o resultado inevitável será o endividamento», alertou.

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