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Com empresas a facturar, aumento das tarifas da luz em Espanha liberta dramas sociais

O aumento do preço da luz teve tal impacto social que há quem «prefira» ir buscar um saco de comida aos bancos alimentares a ter de utilizar os electrodomésticos para cozinhar em casa.

Protesto contra as tarifas eléctricas em Valência (imagem de arquivo)
Créditos / elconfidencial.com

María del Rosario Quelez é voluntária num banco alimentar há três anos e faz um diagnóstico claro sobre o aumento da pobreza e o risco de exclusão social, na sequência da «escalada histórica» no preço da energia eléctrica em Espanha.

«Vemo-lo todos os dias, famílias que preferem ir para as filas dos nossos centros para receber um saco com comida a ter de utilizar os seus electrodomésticos para cozinhar em casa. O preço das coisas, não apenas da luz, também da água, dos serviços, da gasolina, está a provocar verdadeiros estragos no tecido social», disse em declarações ao diário mexicano La Jornada.

«Enquanto nalgumas terras do Sul de Espanha se atingiram os 47 ºC na hora mais quente do dia, as empresas de electricidade [...] ganhavam dinheiro especulando nos mercados financeiros para aumentar os preços e fazer com que os clientes espanhóis pagassem um preço nunca antes pelo serviço»

O governo parece incapaz de fazer frente à «crise» e, neste contexto, o preço da luz bate recordes sucessivamente em Espanha, tendo chegado aos 122,7 euros por megawatt. Isto significa que pôr a funcionar uma máquina de lavar a roupa, uma máquina de lavar a louça, um aparelho de ar condicionado ou um ventilador em casa custa mais do dobro do que há apenas um ano.

O diagnóstico da voluntária do banco alimentar, que também trabalha numa operadora de telefonia e sofre na própria pele com a subida dos preços, segundo explicou ao La Jornada, agravou-se ainda mais este Verão. Sobretudo em Agosto, quando, além do preço histórico no preço da energia eléctrica, foram atingidas temperaturas insuportáveis, que só o ventilador ou ar condicionado ajudavam a aguentar.

A mistura foi letal. Enquanto nalgumas terras do Sul de Espanha se atingiram os 47 ºC na hora mais quente do dia, as empresas de electricidade, a partir dos escritórios dos grandes administradores, ganhavam dinheiro especulando nos mercados financeiros para aumentar os preços e fazer com que os clientes espanhóis pagassem um preço nunca antes pelo serviço, diz o La Jornada.

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Preço da luz bate recordes em Espanha

O preço médio da luz no mercado regulado atingiu esta quarta-feira um novo máximo, pouco antes da chegada prevista de uma onda de calor. A luz é 190% mais cara que em igual período do ano passado.

Manifestante contra os cortes da luz num bairro de Sevilha (Andaluzia) 
CréditosLucía Aragón Luque / El Salto

A tarifa da luz no mercado regulado atingiu ontem em Espanha o seu terceiro recorde consecutivo, refere El Salto, acrescentando que o preço médio de 113,99 euros por megawatt hora (MWh) bate o recorde de 111,88 euros alcançado na terça-feira.

O aumento da procura devido à utilização intensiva de aparelhos de ar condicionado e outros, por causa da onda de calor que deve durar até à próxima segunda-feira, faz prever que novos recordes sejam atingidos, destaca o portal espanhol.

O ano passado por esta altura, o preço médio era de 39,3 euros, pelo que o aumento é de 190%, ou seja, o preço desta quarta-feira quase triplica o verificado há exactamente um ano, segundo dados recolhidos pela agência espanhola Europa Press.

Organizações exigem mais do governo

A medidas de regulação apresentadas pelo governo têm sido classificadas em reiteradas ocasiões como «remendo» por organizações como a Aliança contra a Pobreza Energética (APE) ou a Facua – Consumidores em acção.

Um delas – a descida temporária do IVA de 21 para 10%, anunciada depois de saltar pelos ares o objectivo da contenção de preços previsto na última reforma da estrutura tarifária (há apenas dois meses) – foi apontada como «insuficiente».

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Facturas da energia vão aumentar pelo menos 164 euros para milhões de britânicos

Milhões de famílias no Reino Unido vão pagar as contas mais altas de energia da última década, depois de o regulador ter dado luz verde aos fornecedores para subirem os preços até 180 euros por ano.

Organizações sociais alertam que o aumento dos preços da energia, em conjunto com as dificuldades económicas sentidas por milhões de famílias no Reino Unido, vai conduzir a uma «tempestade perfeita» no próximo Outono 
Créditos / The Guardian

As casas que no Reino Unido usam uma tarifa de energia padrão para pagar as despesas de gás e electricidade podem esperar um forte aumento nas suas facturas a partir de Outubro, depois de o regulador ter levantado o tecto que fixa um limite para o preço da energia para o Inverno.

Para 11 milhões de casas que pagam por débito directo, a conta média da energia vai passar de 1342 para 1506 euros a partir de Outubro próximo; ou seja, pagam mais 164 euros. Para outros quatro milhões de famílias, que utilizam contadores de pré-pagamento, a factura média de energia passará de 1363 para 1544 euros, mais de 180 euros, noticia o The Guardian.

O Gabinete dos Mercados do Gás e Electricidade (Ofgem), que é o regulador governamental, anunciou esta sexta-feira que o limite de preço para os contratos de energia doméstica seria aumentado para cobrir «os custos extra» dos fornecedores.

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Centenas perdem o emprego no esquema «despede e recontrata» da British Gas

«30 anos de serviço leal não contam para nada», disse um engenheiro da British Gas, a maior empresa de energia do Reino Unido. Centenas ficaram sem trabalho ao não aceitarem piores condições.

Trabalhadores em luta contra o esquema de «despedimento e recontratação» da British Gas 
Créditos / The Guardian

Estima-se que entre 300 e 400 funcionários da British Gas tenham perdido o posto de trabalho na quarta-feira passada, depois de se recusarem a alinhar no esquema de «despedimento e recontratação» que lhes foi imposto pela empresa.

No passado dia 1 de Abril, o maior fornecedor de energia do Reino Unido entregou cartas de despedimento a cerca de mil dos seus engenheiros, que instalam e reparam caldeiras e sistemas de calefacção para os nove milhões de clientes da empresa.

Os trabalhadores tinham duas semanas para decidir se saíam para regressarem assinando novos contratos, que implicavam uma redução salarial e mais horas de trabalho, com turnos também aos fins-de-semana e feriados – de borla.

De acordo com The Guardian, o polémico esquema de «despedimento e recontratação» é legal, e a maioria dos sindicatos aceitou o agravamento das condições laborais, sendo que, até terça-feira, centenas de funcionários assinaram os novos contratos.

Luta contra o despedimento colectivo e «coerção»

O sindicato GMB destacou-se na oposição ao «esquema», ao longo de uma luta de nove meses travada contra a administração da empresa, e levou a cabo mais de 40 dias de greve, em protesto contra o «despedimento colectivo» e o «tratamento vergonhoso» dos trabalhadores, acusando o fornecedor de fazer «bullying» sobre os funcionários.

Andy Prendergast, dirigente do GMB, denunciou que muitos dos 8000 engenheiros aceitaram as novas condições «sob coerção», e sublinhou que o tratamento «chocante» dos funcionários provocou danos na sua moral.

A dona da British Gas, Centrica, anunciou os planos de emagrecimento no Verão passado, alegando para tal a perda de mais de três quartos do seu valor de mercado nos últimos cinco anos, os efeitos da pandemia e a necessidade de proteger a qualidade do serviço e milhares de postos de trabalho.

No entanto, muitos dos engenheiros visados não se mostraram convencidos com esta argumentação, tendo denunciado nas redes sociais o «esquema» e o modo como foram tratados depois de anos e anos de serviço, e expressando a recusa em aceitar piores condições de trabalho: «Não vou assinar um contrato inferior», escreveu no Twitter um dos engenheiros da British Gas que ficaram sem trabalho.

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Este anúncio ocorre depois de, há seis meses, o preço limite já ter sido aumentado em 113 euros anuais – uma subida que entrou em vigor em Abril último, com os preços do gás natural a baterem recordes, num contexto de inflação galopante.

O director executivo do Ofgem, Jonathan Brearley, disse que «facturas mais altas de energia nunca são bem-vindas e que o momento e a dimensão deste aumento serão particularmente difíceis para muitas famílias ainda a lutar com o impacto da pandemia».

Brearley referiu os grandes aumentos nos preços dos combustíveis fósseis, do gás e da electricidade como a principal razão para fazer subir o limite de preço da energia no Reino Unido.

Uma «tempestade perfeita» a caminho

Este aumento súbito nas facturas da energia, depois do que se verificou em Abril, levantou preocupações entre várias organizações, que estimam que mais de meio milhão de pessoas não sejam capazes de pagar as contas, numa altura em que abrandam os apoios governamentais relacionados com a Covid-19, como o apoio às empresas que mantinham os trabalhadores em lay-off e o corte, a partir de Setembro, no crédito universal.

A Resolution Foundation afirmou que o aumento vai afectar de forma desproporcionada as famílias com baixos rendimentos, muitas das quais ainda estão a sofrer os impactos económicos da crise que a pandemia aprofundou.

Por seu lado, a Citizens Advice alertou que mais de dois milhões de residências tinham em atraso o pagamento de contas de energia, ainda antes do novo aumento e do corte planeado do crédito universal. Num estudo realizado por esta organização, indica o The Guardian, seis milhões de famílias manifestaram preocupação com o pagamento das facturas da energia.

James Plunkett, um dos directores executivos da Citizens Advice, disse que o aumento do preço conduzirá as famílias a uma «tempestade perfeita» neste Outono.

«Com as contas a subir e os rendimentos a descer, muitas famílias terão dificuldades em escapar. Para muitos, o resultado inevitável será o endividamento», alertou.

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«O que esta medida conseguiu não é que o preço da luz não suba, mas que não suba tanto», criticou a porta-voz da APE, María Campuzano. Mas tanto a APE como a Facua pedem ao governo que mantenha a medida por tempo indeterminado, refere El Salto.

Por seu lado, a Facua exige ao executivo espanhol que altere o cálculo para o acesso a uma tarifa mais baixa dentro do mercado regulado para as famílias que tenham determinado nível de rendimentos, ou seja, tendo em conta duas vezes o salário mínimo.

A federação de consumidores também reclama, entre outras medidas, mudanças no modelo de leilão que serve para estabelecer as tarifas e o controlo das ofertas fraudulentas das empresas de electricidade.

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As alterações da vida quotidiana e os dramas familiares sucedem-se. Um exemplo: um pai de três filhos, que se identificou para um órgão de comunicação como S.H., de 52 anos, e que explicou que precisa de usar um respirador artificial 24 horas por dia por prescripção médica. Como a doença não o deixa trabalhar, recebe apenas 850 euros do Estado e uma boa parte desse dinheiro está a ser engolido todos os meses pela volumosa conta da luz.

Ele e a sua família tiveram que recorrer várias vezes às chamadas filas de fome, para receberem alimentos nos bancos alimentares, que nos últimos meses dão de comer a mais de 600 mil pessoas por dia.

A emigrante equatoriana Mariela Moreno, de 21 anos, tem trabalho, tal como o seu companheiro, mas também tem dois filhos e muitas despesas. Os salários são baixos e não lhes dão para tudo.

«Decidimos não ligar os ventiladores ou o ar condicionado e usar os aparelhos eléctricos o mínimo possível. Ligamo-los uns cinco minutos, duas vezes por dia, para refrescar um pouco a casa. Depois, desligamo-los, para que a conta não suba muito», explica.

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