A aliança militar liderada pelos Estados Unidos procurou impedir que os aviões russos bombardeassem «as posições dos terroristas do Daesh nas imediações da cidade de al-Bukamal», na província de Deir ez-Zor, perto da fronteira com o Iraque, revelou esta terça-feira, em comunicado, o Ministério russo da Defesa.
A aviação da coligação internacional tentou prevenir os ataques de Moscovo contra os terroristas «para garantir a sua saída segura» da zona, precisa o texto, acrescentando que os representantes norte-americanos também «se recusaram de forma categórica» a bombardear os terroristas, alegando que estes «se entregam voluntariamente como prisioneiros», pelo que devem ser tratados de acordo com as normas da Convenção de Genebra, informa a RT.
Este facto e o facto de terem sido encontradas bandeiras das Forças Democráticas Sírias (FDS) – maioritariamente curdas e apoiadas pela coligação internacional – na cidade de al-Bukamal, que estivera sob domínio do Daesh, «são uma prova irrefutável» de que Washington utiliza os terroristas do chamado Estado Islâmico «para promover os seus interesses no Médio Oriente», quando afirma perante «a comunidade internacional estar a lutar contra o terrorismo», acusa o Ministério russo.
O «segredo sujo de Raqqa»
Numa reportagem ontem publicada, a BBC revelou vários detalhes de um acordo secreto que permitiu que centenas de combatentes do Daesh e as suas famílias saíssem da cidade Raqqa, em meados de Outubro, acompanhados e protegidos pela coligação liderada pelos EUA, pouco antes de as FDS decretarem a libertação da cidade.
O acordo em si mesmo não é novidade. Por um lado, a sua existência já tinha sido admitida pelas FDS e pelo Pentágono – embora os norte-americanos negassem qualquer envolvimento na sua celebração. Por outro, já havia sido denunciado pelo governo de Damasco e pelos russos.
Chegando à fala com condutores de camiões, donos de lojas, contrabandistas – gente que participou na caravana de evacuação ou a viu passar –, a reportagem da BBC evidencia que o que se passou a 12 de Outubro último diverge muito da «aniquilação do Daesh» anunciada pelo secretário norte-americano da Defesa, James Mattis, ao referir-se ao antigo bastião dos terroristas.
Caravana de vários quilómetros
De acordo com o trabalho ontem divulgado, as FDS e a coligação internacional esforçaram-se por manter em segredo o pacto celebrado com o Daesh, que permitiu que 250 combatentes e cerca de 3500 familiares saíssem de Raqqa, no Norte da Síria, numa caravana formada por «cerca de 50 camiões, 13 autocarros e 100 viaturas» do grupo terrorista.
Alguns dos que escaparam da cidade eram líderes destacados e procurados do Daesh. Na caravana, seguiam também dezenas de combatentes estrangeiros, de várias nacionalidades – apesar de o Pentágono ainda hoje não o admitir.
Imagens filmadas secretamente – antes da evacuação, que mais pareceu um «êxodo», as FDS asseguraram-se de que não havia cobertura mediática – mostram que os camiões iam carregados de armamento, que os membros do Daesh levaram todas as armas e munições que puderam, «apesar de o acordo estipular que só podiam levar armas pessoais».
Os condutores dos camiões afirmaram à reportagem que tiveram de os deixar em território controlado pelo chamado Estado Islâmico, e o Pentágono, embora afirmando que não acompanhou a caravana com «pessoal no terreno», assume que assegurou a sua segurança a partir do ar.
Muitos dos combatentes espalharam-se pela Síria – Damasco e Moscovo acusaram o Pentágono de orquestrar toda esta operação com vista a reforçar as fileiras do Daesh na província de Deir ez-Zor, onde os combates com o Exército Árabe Sírio andavam intensos.
Outros conseguiram escapar para o estrangeiro, sobretudo pela Turquia, através de redes de contrabando.
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