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MST celebra a conquista de um novo assentamento no Sul do Brasil

As 71 famílias da comunidade Resistência Camponesa, no estado do Paraná, estão acampadas desde 1999. A ocupação torna-se, 26 anos depois, um assentamento da reforma agrária. E há festa.

Marcha de abertura da Vigília Resistência Camponesa, em Dezembro de 2019, quando as famílias resistiram às ameaças de despejo CréditosDiangela Menegazzi / MST

Este sábado, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vai celebrar a conquista do assentamento de cerca de 71 famílias da comunidade Resistência Camponesa, localizada em Cascavel, na região ocidental do estado do Paraná.

O acto de abertura está marcado para as 10h, com a presença de dirigentes e autoridades locais e estaduais, informa o MST no seu portal, onde revela que a iniciativa dura o dia todo e inclui um churrasco gratuito oferecido pela comunidade a todos os que ali se deslocarem.

Nestes 26 anos de existência do acampamento, «a organização local garantiu a melhoria nas condições de vida das famílias sem terra e a estruturação da comunidade», destaca o movimento, que elenca várias «conquistas», nas quais se incluem, entre outras, o barracão comunitário, o campo de futebol ou a agro-indústria para a comercialização da produção de mandioca orgânica.

Longa luta e resistência

O «preto no branco» da transformação do espaço de 479 hectares em assentamento da reforma agrária ocorreu em Maio do ano passado, quando o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) informou, numa portaria, que a Fazenda São Domingos iria ser adquirida pela União para «fins de reforma agrária».

Tal como o Brasil de Fato notou em Junho último a propósito desse facto, desde 1999, ano da ocupação, até 2024, «o destino das 71 famílias viveu reviravoltas dignas de filme».

No local onde foi realizada uma vigília contra o despejo está agora uma placa a indicar a entrada do Assentamento Resistência Camponesa // Gabriela Moncau / Brasil de Fato

Durante o governo de Dilma Rousseff, em 2015, o espaço esteve a «milímetros» da regularização, mas, antes que tal acontecesse, Dilma foi destituída pelo golpe parlamentar e seguiram-se os governos de Temer e Bolsonaro, e as ameaças de despejo.

Só em 2019, primeiro ano de mandato presidencial de Bolsonaro e de Ratinho Jr. (direita) no Paraná, oito comunidades rurais foram despejadas neste estado do Sul do Brasil. Em meados de Dezembro desse ano, as famílias da Resistência Camponesa souberam que vinha lá a sua vez.

Então, quase à beira do novo ano, iniciaram uma vigília, em que também participaram membros dos acampamentos Dorcelina Folador e 1.º de Agosto, igualmente ameaçados de despejo, que se prolongou por 83 dias.

A vigília, que era em defesa do território, para mostrar que ali se fazia vida e se produzia, acabou com a irrupção da pandemia de Covid-19. Neste contexto, as mobilizações populares levaram a que o Supremo Tribunal Federal suspendesse temporariamente todos os despejos no país, furando os planos que, segundo os moradores, a Polícia Militar já tinha na mesa para evacuar as ocupações na região de Cascavel.

Conquista em terra da fundação do MST

Cascavel é uma cidade simbólica para o MST. Há 41 anos, em Janeiro de 1984, mais de 100 pessoas, de 12 estados brasileiros, juntaram-se no Seminário Diocesano de Cascavel para participar no 1.º Encontro Nacional Sem Terra – evento do qual surgiria o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Ângela Gonçalves, moradora na comunidade Resistência Camponesa // Gabriela Moncau / Brasil de Fato

José Damasceno, membro da coordenação nacional do movimento e morador no assentamento Dorcelina Folador, destaca que esta conquista «vem como um reconhecimento da história por esses 41 anos de luta, exatamente em Cascavel».

«A gente pode dizer que está pisando em território sagrado, da nossa conquista. Recebemos muito apoio de pessoas que moram perto, da sociedade, e agora é hora de comemorar», disse Ângela Gonçalves, moradora na comunidade.

Na antevéspera da celebração desta conquista, o MST afirma que existem 80 áreas da reforma agrária no Paraná a necessitar de efectivação de assentamento. «Mais de sete mil famílias seguem em luta», sublinha.

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