Síria refuta relatório da Amnistia Internacional sobre execuções

O Governo sírio classificou como «falso», «infundado» e «politicamente motivado» o relatório ontem publicado pela Amnistia Internacional (AI) sobre alegadas execuções massivas na prisão de Sednaya, perto de Damasco.

Em 2013, o subúrbio damasceno de Ghouta foi atacado com armas químicas; a forte campanha de acusações então lançada pelos países ocidentais contra o Governo sírio acabaria por se desmoronar
Créditos / Sputnik News

O Ministério da Justiça sírio refutou de forma veemente, num comunicado emitido esta terça-feira, as acusações da AI relativas a «enforcamentos massivos», alegadamente levados a cabo entre 2011 e 2015, no centro prisional de Sednaya, nos arredores da capital síria, Damasco.

Na nota oficial, o Governo sírio explica que, no âmbito da legislação síria, uma condenação à morte só é decretada após a realização de um processo judicial, que passa por várias etapas. Neste sentido, classifica o documento da AI como inteiramente «falso» e afirma que a sua publicação visa «prejudicar a reputação» do país.

«Aqueles que estão por trás dessas calúnias procuram alcançar o que os grupos terroristas não conseguiram, especialmente depois das constantes vitórias do Exército sírio», salienta o comunicado, citado pela Prensa Latina.

«O Ministério da Justiça nega todo o conteúdo do relatório e condena-o energicamente, pois não se baseia em provas correctas, mas antes em emoções pessoais que visam lograr fins políticos bem conhecidos», acrescenta.

As acusações vertidas pela AI contra o Governo sírio surgem num contexto em que o Exército Árabe Sírio e os seus aliados estão envolvidos em importantes batalhas e têm alcançado avanços determinantes, no terreno, contra as forças terroristas – nomeadamente nas províncias de Damasco, Homs, Alepo e Deir ez-Zor. Surgem igualmente num momento em quem estão a decorrer conversações de paz entre o Governo sírio e a «oposição armada» em Astana, capital do Cazaquistão, e a menos de duas semanas das conversações de paz sobre a Síria que irão decorrer em Genebra, sob os auspícios da ONU.

Exercício de especulação

No relatório sugestivamente intitulado «Matadouro humano: enforcamentos e extermínio massivo na prisão de Sednaya», ontem publicado, a AI acusa o Governo sírio de ter executado, de forma sumária e sem garantias processuais, entre 5000 e 13 mil pessoas, de 2011 a 2015.

A organização publicou uma extensa nota de imprensa, juntamente com um documento mais detalhado, de 48 páginas. É numa nota ao fundo da página 17 deste texto em anexo que a AI explica como lhe apareceram estes números tão díspares: trata-se de uma especulação, baseada em cálculos do género: «se tiverem sido entre tantos e tantos, chegamos ao número tal.»

Ora, o que se encontra na letra mínima da escondida nota 40 da página 17 – os «cálculos» que permitiram chegar a números extrapolados, não provados – está na base da verdade verdadeira que a comunicação social fez circular em títulos e rodapés. Curiosamente, a explicação do «como se chega a 5000 ou a 13 mil» não se encontra na nota de imprensa publicada pela AI; algo que permitiria a qualquer leitor assustado pelas novas do «Matadouro humano» aperceber-se do «rigor» e da «precisão» dos números.

Campanha em curso

A Al-Masdar News sublinha que o relatório da AI se baseia em entrevistas a testemunhas anónimas, realizadas na sua maioria no Sul da Turquia ou por via telefónica. «Faltam factos concretos. E não basta um relatório de uma organização que cita fontes anónimas», disse Konstantin Kosachev, presidente da Comissão de Assuntos Externos da Câmara Alta do Conselho da Federação Russa. Criticando o documento, acrescentou que «parece integrar-se na campanha mediática em curso contra a Síria», revela a Al-Masdar News.

Por seu lado, o deputado sírio Fares Shehabi disse à Sputnik News que as acusações da AI contra o Governo sírio são «ridículas» e sublinhou que as execuções em massa perpetradas na Síria foram da responsabilidade de grupos terroristas e da chamada «oposição moderada».

Lembrou ainda que não é a primeira vez que o Ocidente lança campanhas de desinformação com o objectivo de prejudicar o Governo sírio, que tem renovado sucessivamente, ao longo dos anos, o decreto de amnistia geral para os desertores e os combatentes takfiris que voluntariamente deponham as armas.

Parcialidade e pouca independência

A Amnistia Internacional, organização que diz ter como propósito zelar pela defesa dos direitos humanos, foi criticada, em múltiplas ocasiões, por emitir publicações selectivas e parciais, obviando aspectos relativos a países que foram alvo de agressões imperialistas, como sejam a Líbia, o Afeganistão ou o Iraque.

As críticas à parcialidade não se alheiam das críticas à sua alegada independência. Embora o grupo se defina como «livre de financiamento governamental», a organização é acusada de ser muito pouco independente a esse nível, recebendo verbas de diversas potências ocidentais – incluindo os EUA, o Reino Unido e a União Europeia –, bem como de instituições e fundações ligadas aos seus interesses, como o milionário George Soros, através da sua Open Society, indica a Sputnik News.

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