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A fome em Gaza já não é um risco mas uma realidade, alerta Euro-Med

O Monitor Euro-Mediterrânico dos Direitos Humanos (Euro-Med) alerta para a «situação alimentar severa» na Faixa de Gaza, na sequência do bloqueio imposto ao enclave há mais de mês e meio.

Crianças à espera de comida no campo de refugiados de Nuseirat, no Centro da Faixa de Gaza, a 8 de Abril de 2025 Créditos / PressTV

O grupo com sede em Genebra (Suíça) afirma que a ameaça iminente de fome na Faixa de Gaza é profundamente alarmante, sobretudo tendo em conta «o bloqueio ilegal e abrangente em curso» imposto pela ocupação.

«Após 45 dias de bloqueio total israelita, a fome já não é um risco, está a tornar-se uma realidade», sublinha o Euro-Med, acrescentando que se trata da «mais longa restrição ininterrupta de ajuda humanitária e de bens essenciais desde o início do genocídio de Israel na Faixa de Gaza, há mais de 18 meses».

Com base nas observações realizadas pela sua equipa de campo, o organismo humanitário destaca que «o bloqueio israelita em curso provocou uma grave e persistente escassez de alimentos essenciais necessários à sobrevivência, incluindo cereais, proteínas e gorduras».

Grande parte das infra-estruturas agrícolas e alimentares no enclave palestiniano foi bombardeada ou destruída de outra forma, ou está actualmente sob controlo militar israelita, refere o texto, no qual se explica que as pessoas foram forçadas a vender os seus pertences mais básicos só para assegurar alimentos.

De acordo com o Euro-Med, as famílias em Gaza têm sido obrigadas a reduzir o número de refeições diárias, pelo que é notória a perda de peso entre os residentes – que agora «dependem quase exclusivamente do limitado fornecimento de alimentos enlatados» ou dos bancos alimentares.

No entanto, estes têm sido alvo de ataques crescentes das forças israelitas, que, segundo a organização, atacou de forma deliberada 37 centros de distribuição de ajuda e 28 bancos alimentares, no âmbito de uma política sistemática que visa matar os civis à fome ou exacerbar o seu sofrimento.

Fome imposta por Israel na Faixa de Gaza: forma severa e desumana de genocídio

«A fome imposta por Israel aos civis na Faixa de Gaza representa uma das formas mais severas e desumanas de genocídio, bem como uma grave violação da dignidade humana», denuncia o documento.

«Vai para lá da mera negação de alimentos, na medida em que também visa desmantelar a capacidade da população para sobreviver, destruindo os meios de subsistência, obstruindo a ajuda humanitária, atacando fontes de produção de alimentos e interrompendo deliberadamente as cadeias de abastecimento essenciais», sublinha.

O Euro-Med afirma que os impactos mais devastadores desta política recaem sobre as mulheres e as crianças, que «representam mais de dois terços da população da Faixa de Gaza».

«As crianças estão a sofrer mortes lentas e dolorosas devido à má-nutrição severa, ao sistema imunitário enfraquecido e ao crescimento atrofiado, tudo causado pela escassez aguda de alimentos e de cuidados médicos», alerta o texto.

Neste contexto, acrescenta, «as mulheres grávidas e lactantes enfrentam riscos de vida – para elas e os seus fetos ou bebés – devido à ausência de nutrição essencial e ao colapso total do sistema de saúde».

O Euro-Med defende que Israel deve ser responsabilizado pelo facto de usar a fome como arma contra a população civil, que é «um crime de guerra ao abrigo do direito internacional humanitário e uma violação séria das suas obrigações enquanto potência ocupante».

Autoridades palestinianas da saúde confirmaram que 51 201 pessoas foram mortas no enclave desde o início da ofensiva israelita, em Outubro de 2023, tendo registado no mesmo período 116 869 feridos.

As mesmas fontes, referidas pela Wafa, indicam que o número de mortos desde 18 de Março (data da violação por Israel do cessar-fogo em vigor desde 19 de Janeiro último) subiu para 1783 e o de feridos para 4683. Estima-se que milhares de desaparecidos continuem sob os escombros.

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