A continuada falta de investimento nas empresas públicas de transportes acarreta sérios prejuízos para os utentes a quem muitas vezes também falta informação. Quem o diz é Cecília Sales, da Plataforma das Comissões de Utentes da Carris. De acordo com esta responsável, tempos de espera de 17 minutos passam por vezes para 45 e os utentes nem sequer são avisados. «As coisas pioraram muitíssimo nestes últimos dois anos e os tempos de espera são desta ordem», afirma.
Tudo se complica em freguesias grandes ou com uma população envelhecida. Cecília Sales dá o exemplo da freguesia dos Olivais, uma das maiores da cidade de Lisboa mas com uma rede da Carris cada vez menor. «Vão sendo retiradas carreiras sem qualquer justificação, nem sequer a justificação geográfica porque a freguesia está dividida entre o norte e o sul, e os utentes para saírem da freguesia e irem ao centro da cidade têm que fazer alguns transbordos», alerta.
«Por mais que argumentássemos que essa carreira servia o hospital de rectaguarda da freguesia (Curry Cabral), a Carris fez ouvidos moucos e cortou-a.»
Cecília Sales
Entre a fundamentação utilizada pela Carris para a supressão das carreiras está o argumento de que, sempre que possível, as pessoas devem usar o metro em combinação com a Carris. Uma medida que causa alguns transtornos, especialmente a uma população cada vez mais envelhecida. De resto, a responsável alerta para a progressiva degradação do serviço prestado pelo metro, com registos de perturbações nas linhas e tempos de espera aumentados.
Desde 2008 e até 2011, a Carris foi encurtando as carreiras sem aviso prévio. Cecília Sales recorda que «em 2011 tivemos a previsão de várias supressões mas devido a movimentações [dos utentes], como cortes de estrada e bloqueios de autocarros, suprimiu-se apenas a carreira 21 que passava pelo meio da freguesia. Mas, por mais que argumentássemos que essa carreira servia o hospital de rectaguarda da freguesia (Curry Cabral), a Carris fez ouvidos moucos e cortou-a.»
Na próxima semana, a Plataforma prevê uma mobilização junto aos terminais do metro para alertar sobre a degradação dos serviços públicos de transportes.
«As empresas de transportes têm que ser públicas»
Segundo José Manuel Oliveira, coordenador da Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans), «há anos que temos vindo a denunciar na Carris as consequências que a falta de trabalhadores traz do ponto de vista da oferta de transportes».
O que acontece é que em cada carreira há cada vez menos autocarros a circularem durante o dia, o que leva a um aumento dos tempos de espera. José Manuel Oliveira afirma que tudo resulta do desinvestimento dos últimos anos e que os efeitos começam a tornar-se cada vez mais visíveis para os passageiros do ponto de vista da oferta de transporte.
«Para nós é importante a reposição dos quadros de pessoal de modo a que os trabalhadores não sejam sujeitos ao aumento dos horários de trabalho»
José Manuel Oliveira
A questão foi objecto de discussão numa reunião que os trabalhadores tiveram recentemente com o ministro do Ambiente, na qual defenderam que não basta que as empresas sejam públicas, é preciso que elas prestem serviço público.
«Para nós é importante a reposição dos quadros de pessoal de modo a que os trabalhadores não sejam sujeitos ao aumento dos horários de trabalho, não sejam impedidos de utilizarem os seus dias de férias, conforme está contratualmente consagrado, e também para que o nível de oferta possa ser reposto de modo a que haja um sistema de transportes públicos, neste caso concreto da Área Metropolitana de Lisboa», evitando-se a utilização do transporte individual e todas as consequências que acarreta.
Os trabalhadores defendem que as empresas de transportes têm que ser públicas e justificam porquê. «Sendo públicas estão na posse do Estado que pode definir as políticas de mobilidade que a região necessita, o que não tem acontecido, nomeadamente no governo anterior». E acrescenta, «apesar das empresas serem públicas toda a lógica de gestão era privada. O que interessava eram os resultados, levando à redução drástica dos postos de trabalho e ao desinvestimento de modo a tornar mais fácil e apetecível o processo de privatização».
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