A coordenadora do BE, Catarina Martins, reconheceu esta quarta-feira que «a posição do Governo português de reconhecer Guaidó não tem precedente e viola o direito internacional», sublinhando que «não é este o caminho para proteger o povo venezuelano e a comunidade luso-venezuelana».
Mas a condenação do golpe de Estado e das ingerências externas na República Bolivariana da Venezuela não se efectivou esta manhã na Assembleia da República.
Perante o voto apresentado pelo PCP, de solidariedade com o povo venezuelano e condenação da posição assumida pelo Governo português de apoio ao golpe, o BE absteve-se, apesar de já ter identificado no reconhecimento de Juan Guaidó o interesse pelas «enormes reservas de petróleo da Venezuela».
A aparente desorientação dos bloquistas e falta de sentido para o termo «ingerência» já tinham vindo a público esta semana, com a coordenadora Catarina Martins a pedir «eleições livres» e, numa tentativa de se desmarcar da operação montada por Donald Trump e seus aliados, sugerir «uma mediação internacional [...] para eleições livres que permitam uma solução escolhida pelo povo venezuelano e que evitem um banho de sangue».
Em matéria de consequências, o BE sabe do que fala. Em 2011, e depois de recorrer a um argumentário (correcto, aliás) sobre a NATO, com Marisa Matias a afirmar que o negócio da Aliança Atlântica era «a guerra», os bloquistas votaram a favor da Resolução do Parlamento Europeu que abria caminho à intervenção da NATO.
Na altura, tal como agora, impunha-se «levar a democracia» e acabar com o «regime» de Khadafi – termo a que a propaganda neoliberal recorre para apelidar governos com projectos políticos avessos aos interesses capitalistas. Mas nem por isso o BE evitou a esparrela.
Depois veio a Síria, com a dita comunidade internacional a entoar em coro que Assad tinha que se ir embora, e a incoerência do Bloco voltou à tona ao aprovar na Assembleia da República moções antagónicas de condenação do massacre.
Regressando à Venezuela, o BE parece mais interessado em continuar a cavalgar a onda oportunista dos países que realmente têm a lucrar com a agressão do que em explicar as verdadeiras tormentas por que têm feito passar aquele povo, através de sanções que apenas pretendem acabar com a Revolução Bolivariana. Mas podia ao menos ser coerente.
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