Segundo o mais recente balanço da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado esta segunda-feira, os sismos que flagelaram o sul da Turquia e o noroeste da Síria causaram pelo menos 40 943 mortos, 31 643 mortos na Turquia e cerca de 9 300 na Síria.
Nos últimos dias, esta catástrofe tem ocupado a agenda mediática, dada a dimensão das vítimas que provocou, assim como o nível de destruição do edificado.
A propósito desta catástrofe, muitos cidadãos têm-se interrogado: o edificado dos nossos aglomerados populacionais oferece condições de segurança para mitigar os efeitos de um sismo de grau elevado? O nosso sistema de proteção civil está em condições de responder com prontidão e eficácia às exigências do socorro? Sabemos todos – novos e velhos, mulheres e homens deste país – o que devemos fazer, numa situação análoga?
É importante que aproveitemos esta circunstância, que tanto impacto teve na opinião pública, para respondermos à pergunta síntese que emerge das anteriores: estamos preparados?
Tendo presente que não são os sismos que matam, mas sim os edifícios, importa reter alguns dados referentes à Área Metropolitana de Lisboa (AML).
Dos 452 582 edifícios existentes na AML, cerca de 68% foram construídos antes da implementação efetiva de legislação para proteção sísmica do edificado, ou seja, em 1990, o que os torna muito vulneráveis. É certo que este facto não impede que estes edifícios sejam alvo de intervenções de reabilitação. Mas não temos razões para alimentarmos muitas expectativas quanto a esta matéria. Isto já para não falarmos da comprovada falta de fiscalização da validade da qualidade das intervenções realizadas.
«É importante que aproveitemos esta circunstância, que tanto impacto teve na opinião pública, para respondermos à pergunta síntese que emerge das anteriores: estamos preparados?»
Quanto à questão de sabemos ou não o que fazer perante uma crise sísmica, também podemos afirmar que não sabemos. É certo que as crianças têm tido nas escolas ações de esclarecimento quanto aos 3 gestos que podem salvar vidas: BAIXAR, PROTEGER, AGUARDAR. Mas isto só por si não chega.
Na abordagem do conceito de risco devemos ter em consideração as duas dimensões que lhe estão diretamente associadas: o risco objetivo e a perceção do risco.
Cada pessoa ou grupo social possui uma noção subjetiva do risco, devido à noção de perigo, grau de possibilidade de ocorrência dos eventos com efeitos negativos e avaliação das perdas. Esta avaliação resulta de fatores culturais e sociais que exercem influência na reação de cada indivíduo.
A perceção do risco é aplicada individualmente, pelo facto de o risco ter diferentes significados para diferentes pessoas.
Existem algumas justificações para as pessoas sentirem os riscos de forma diferente, nomeadamente localização geográfica, grau de conhecimento e a representação do mesmo.
Por estas razões é essencial adotar estratégias adequadas para a criação de uma efetiva consciência de risco em cada cidadão.
Um dos veículos mais eficazes para a massificação duma cultura de risco na sociedade são os meios de comunicação social. Daí ser determinante a mobilização da sua colaboração nesta missão.
As catástrofes são, em grande parte, inevitáveis; mas são também, em boa parte, previsíveis, pelo que a preparação para serem enfrentadas constitui um imperativo, individual e coletivo. O investimento para este efeito é relativamente pequeno. Mas caso a catástrofe aconteça, o benefício é enorme.
A falta de formação do cidadão comum em matéria de autoproteção constitui a mais grave vulnerabilidade do nosso sistema de proteção civil.
E neste domínio, está quase tudo por fazer!
É então tempo de o governo, das autarquias, da academia e de cada um de nós fazer o papel que lhe cabe, na salvaguarda da segurança de todos, sem alarmismos especulativos, mas também sem irresponsável laxismo.
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