Ao apelo de várias organizações de mulheres, «centenas de milhares de pessoas» manifestaram-se «em 65 cidades» do Brasil para repudiarem a candidatura de Jair Bolsonaro às próximas eleições presidenciais brasileiras, afirma o El Pais/Brasil.
Segundo a mesma fonte, «o acto na capital paulista, termómetro dos protestos no Brasil, reuniu centenas de milhares de pessoas, certamente mais de 100 mil (…) apenas em São Paulo», tratando-se do «maior protesto popular» no Brasil desde que, em Setembro de 2016, uma enorme manifestação saíu às ruas contra o presidente golpista Michel Temer, após o impeachment de Dilma Rousseff.
Vários meios de comunicação, entre os quais o El Pais/Brasil e o Sputnik/Brasil, incluíram imagens e vídeos que ilustram a dimensão e a combatividade dos protestos em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Salvador (onde a cantora Daniela Mercury animou os manifestantes), entre outras cidades.
Mulheres contra Bolsonaro
As manifestações tiveram origem no #EleNão, movimento de mulheres contra Bolsonaro que ganhou as redes sociais no início de Setembro. Os apoiantes do candidato da extrema-direita tentarem responder com um movimento em sentido inverso, que apenas conseguiu atingir «pouco mais de um terço do volume de perfis engajados contra o candidatos», segundo o El Pais/Brasil. Vendo os seus esforços fracassados desencadearem um contra-ataque no Facebook e outras redes sociais, recorrendo a meios ilegais, incluindo usurpação de identidades e um ataque informático destinado a paralisar o movimento anti-Bolsonaro nas redes.
A reacção foi exactamente a contrária às expectativas dos reaccionários. Em artigo publicado na véspera dos protestos, comentando os resultados de um estudo do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (LABIC), da Universidade de São Paulo, a jornalista Fernanda Becker escrevia que «ao atacar as criadoras do grupo "Mulheres contra Bolsonaro" e invadir a mobilização no Facebook, há duas semanas, os apoiadores do militar da reserva acabaram por provocar uma reação em cadeia» a favor do movimento anti-Bolsonaro. Registe-se, no mesmo artigo, a menção a uma pesquisa da empresa Datafolha, acabada de publicar, indicando que «52% do eleitorado feminino rejeita o militar da reserva» – contra 44% de rejeição na média nacional, para ambos os sexos.
As manifestações alastraram às comunidades brasileiras no estrangeiro – incluindo Portugal. O jornal Folha de São Paulo referiu Berlim, Paris, Londres, Barcelona, Lisboa – o Sputnik/Brasil acompanhou a acção –, Nova Iorque, Washington e Buenos Aires como tendo sido palco de protestos que adquiriram maior notoriedade mediática ao juntarem-se-lhe, com o hashtag #NotHim, conhecidos artistas internacionais como Madonna, Cher, Mark Hammill, Ellen Page ou Stephen Fry – este gravou um vídeo para os seus admiradores brasileiros.
O protesto Mulheres contra Bolsonaro é tanto mais importante quanto é sabido que uma parte significativa das mulheres mais pobres e iletradas do Brasil, que reproduzem comportamentos sociais submissos e conservadores, se juntam às mulheres da classe média/alta no apoio ao candidato fascista, como documentam a pesquisa já referida e as manifestações pró-Bolsonaro – estas de muito menor dimensão do que as suas rivais, à excepção da ocorrida em Brasília, no coração da burocracia estatal brasileira, em que, «de acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, 25 mil veículos passaram pela Esplanada dos Ministérios» durante a manhã de 29.
O dia 29 de Setembro será decerto recordado como uma data decisiva da campanha presidencial no Brasil.
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