O estudo desenvolvido na Universidade de Coimbra, cujos resultados foram publicados num artigo científico em Janeiro, concluiu que apenas 14% das notícias dos três jornais desportivos nacionais (A Bola, O Jogo e Record) falam exclusivamente de desporto feminino, disse à agência Lusa o principal autor do artigo, Pedro Saraiva, salientando que a análise excluiu à partida a cobertura do futebol para não enviesar os resultados.
«Quando temos em consideração que a percentagem de mulheres a participar nos dez desportos incluídos para a análise era de cerca de 40% em 2016, conseguimos perceber como todos os jornais têm um défice de cobertura de desportos femininos», concluiu o artigo, que partiu das conclusões da tese de mestrado de Pedro Saraiva em Sociologia, na Universidade de Coimbra.
O estudo recorreu a uma amostra que passou por escolher uma semana, de forma aleatória, em cada um dos anos investigados, e estudar a cobertura de três dias dessa semana, nos mesmos jornais diários de desporto, ao longo de 20 anos.
Ao todo, foram analisados 1207 artigos e 1207 fotografias, num total de 186 edições de cada um dos jornais entre 1996 e 2016, que cobrissem as dez federações desportivas que contassem com o maior número de federados em 2014 em Portugal, excluindo o futebol.
Ao longo dos 20 anos, apesar de um aumento substancial de mulheres a participar em desportos federados (cinco vez mais), não houve qualquer tendência de crescimento ou redução do número de artigos publicados, quando a expectativa seria «um aumento da cobertura», refere o estudo.
Para além da análise quantitativa, o estudo fez também uma análise qualitativa da representação das mulheres nos jornais desportivos. Na análise, foram encontrados «alguns exemplos de infantilização» de atletas e objectificação sexual.
Também nas imagens há diferenças de tratamento, com os jornais desportivos a optarem, por vezes, por usarem fotografias de atletas não a competir, mas em fotografias em pose, na praia ou em eventos.
«Mais do que mulheres, são atletas de alto rendimento que devem ser respeitadas por aquilo que são. Estão lá por mérito e não por se despirem para a Playboy. Há uma tenista que se despiu para a Playboy e esse era o destaque, quando ela tinha participado nos Jogos Olímpicos de Sidney. É preciso uma mudança nos media», vincou Pedro Saraiva, que assina o artigo com as docentes da Universidade de Coimbra Virgínia Ferreira e Maria João Silveirinha.
Com agência Lusa
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