O projecto propõe-se a lançar, todos os dias, um capítulo de um folhetim, em que participam mais de 40 escritores em isolamento. Começou sexta-feira, com Mário de Carvalho, e terminará no final de Abril, com Luísa Costa Gomes.
Em declarações ao AbrilAbril, a escritora Ana Margarida de Carvalho sublinhou que a iniciativa partiu da vontade de se construir algo colectivamente a partir desta situação excepcional de isolamento. «Há uma ânsia e uma urgência de ajudar fazendo aquilo que nós sabemos fazer. Não somos médicos nem epidemiologistas, podemos levar comida aos nossos vizinhos e podemos ir cantar para as janelas, mas aquilo que sabemos fazer melhor é escrever», disse a autora.
O nome do projecto faz várias referências. Segundo a escritora, pareceu-lhes adequado por ser um trocadilho com a expressão «bode expiatório», que tem o significado de atribuir culpas a alguém: «ora, em relação à pandemia não temos um bode expiatório. Seria tranquilizador, mas não temos. Bode inspiratório traduz o lado da inspiração artística mas também da inspiração respiratória, porque é isso que está em causa com esta doença.»
Assim, os escritores pretendem oferecer a quem está em casa escritos «inéditos» que serão testemunho, igualmente, daquilo que está «na cabeça» destes artistas enclausurados.
«Esta é uma maneira de continuarmos a comunicar com os nossos leitores, mas dando-lhes algo que pode ser historicamente interessante: o que é que vai na cabeça dos escritores num momento tão inverosímil como este», referiu Ana Margarida de Carvalho.
Para além disso, como as agendas dos autores ficaram «despovoadas» de um momento para o outro, com feiras e encontros cancelados, esta é uma maneira de criar um elo com o público. «Os leitores podem comentar e interpelar os escritores na página de Facebook do projecto e tudo isso está a acontecer a um ritmo muito dinâmico», disse a escritora, acrescentando que existe já uma sensação de que o isolamento «se vai esbatendo».
Os artistas plásticos, que também viram as suas exposições canceladas e não têm forma de mostrar o seu trabalho ao público, também são outro dos intervenientes. «A ideia é produzir uma obra em tempo recorde, em poucas horas, que também seja inédita e tenha a ver com este momento em que vivemos, nestes tempos de clausura e confinamento social», disse a autora.
«Espero no futuro fazermos um livro e uma exposição com estes trabalhos, com este tema: trabalhos feitos sob o efeito desta pandemia e das medidas de contingência e isolamento», disse.
Entre os escritores que participam estão Inês Pedrosa, Afonso Cruz, Ana Cristina Silva, Isabela Figueiredo, Valério Romão, Luís Miguel Rainha, Afonso Reis Cabral, Patrícia Reis e Helena Vasconcelos.
Participam ainda, entre outros, Gabriela Ruivo Trindade, Adélia Carvalho, José Fanha, Domingos Lobo, Licínia Quitério, Tiago Salazar, Ricardo Fonseca Mota, Álvaro Laborinho Lúcio, Rita Ferro e Luís Castro Mendes.
Entre os artistas plásticos encontram-se António Olaio, Ana Vidigal, Catarina Domingues, Gabriel Abrantes, Julião Sarmento, Manuel João Vieira, Manuel Justo, Pedro Cabrita Reis, Pedro Proença e Sara Bichão.
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