|Sugestões culturais

Originalidade, Mitologia e Memória nas Artes

Originalidade, mitologia e memória nas artes plásticas. Miguel Cheta em Loulé, Helena Tomás e Sofia Areal em Setúbal, Catarina Lira Pereira, colectiva e Prémio Amadeo de Souza-Cardoso em Amarante.

«O lugar da derrota», de João Louro, 1170x911cm. Exposição coletiva «Fuck Art, Let’s Eat», no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso (Amarante), até 30 de agosto
Créditos / João Louro

Para esta próxima quinzena, além de continuarmos a apresentar mais alguns espaços, associações e projetos nas artes plásticas do nosso país, sugerimos a proposta artística de Miguel Cheta, no Centro de Experimentação de Loulé, onde se questiona a complexidade da sociedade contemporânea, a arte colaborativa, o papel do artista na transformação dos territórios e a originalidade nas artes, três exposições em Setúbal, onde podemos revisitar a mitologia grega através do mito de Perséfone com as fotografias de Helena Tomás e ver os trabalhos recentes de Sofia Areal, e em Amarante destacamos um dos mais importantes prémios de artes plásticas em Portugal, o Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, e duas exposições que estão no Museu Municipal de Amarante, com obras de Catarina Lira Pereira e uma coletiva, que nos apresentam propostas artísticas sobre a memória e a relação entre Arte e Gastronomia.

O Centro de Experimentação e Criação Artística de Loulé (CECAL) está sediado na Casa da Cultura de Loulé, realiza uma programação regular de exposições, cinema ao ar livre, teatro, sessões de poesia, concertos de música, atividades para famílias, palestras e um programa de residências artísticas em parceria com outros espaços culturais municipais. As «Residências Artísticas» deste espaço são nas áreas das artes plásticas, artes performativas, música, fotografia, vídeo ou som, numa vertente que poderá ser multidisciplinar e onde serão valorizados os projetos que operem uma reflexão ou que tomem como objeto de trabalho o território plural do Concelho de Loulé e do Algarve.

Na sequência do projeto «Portugal Entre/Patrimónios» promovido pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, que pretende, entre outros objetivos, «questionar a complexidade da sociedade contemporânea através de leituras do património material e imaterial», o Município de Loulé desafiou o artista Miguel Cheta a «refletir sobre as questões dos processos colaborativos, dos diálogos (im)possíveis, dos conflitos latentes (ou não) entre públicos e artistas, do que é a arte colaborativa, do papel do artista na transformação dos territórios!...». Surge, assim, a exposição «Todos nós nascemos originais e morremos cópia» de Miguel Cheta, no Centro Experimental de Loulé (CECAL)1, que na sequência da pandemia, prolongou a data de abertura até 25 de agosto.

Sobre a exposição de Miguel Cheta, diz-nos um texto de Mirian Tavares2, que o autor «assume a máxima de Carl Jung que deu origem ao nome da exposição: tornamo-nos cópia a cada livro que lemos, a cada imagem que consumimos, a cada texto, fotografia, desenho, a cada gesto que executamos desde tempos imemoriais. A maneira de tornar seu o gesto é através da organização de um percurso, da criação de uma narrativa através da disposição das obras. Assim, o artista organizou, no espaço, objetos díspares e, ao mesmo tempo, semelhantes. Objetos mais ou menos densos, objetos que parecem não ocupar espaço. O que é uma contradição ou um paradoxo – um objeto ocupa espaço. A imagem escolhida para figurar no convite da exposição foi a de um desenho abstrato, em tons de terra. Círculos raiados como se algo contundente tivesse ferido a sua perfeita circularidade, maculado a forma pura. Na exposição descobrimos que esta imagem, um desenho, não está lá, como objeto palpável, mas sim como pura visualidade: o dispositivo utilizado pelo artista para nos mostrar este e mais um conjunto de desenhos é um projetor de ‘slides’ e o desenho foi realizado sobre a própria película do diapositivo, uma imagem diminuta hiper dimensionada pela projeção».

A «CAOS - Cartel de Artes e Ofícios de Setúbal», é um coletivo cultural em Setúbal, que afirma ter nascido de «uma inquietação individual de criar coletivamente» pretendendo, com a sua atividade, afirmar “a Poesia e os próprios tempos” como opção à «fornecida vigente lógica imediatista e consumista que destrói os tempos e a vontade.»

A exposição de fotografia «Despertar, Perséfone e os Ciclos da Vida» de Helena Tomás, até 29 de agosto, é produzida pela CAOS - Cartel de Artes e Ofícios de Setúbal, nos espaços Bardo Taverna Medieval3 e La Bohème Bar4 em Setúbal.

Cada espaço terá diferentes fotografias correspondentes a cada «ciclo» do mito de Perséfone. «No pico do ano solar, quando a Terra está no auge da fertilidade, assinalamos o início deste Litha/Solstício de Verão, o dia mais longo e a noite mais curta do ano, onde se celebra o auge da fertilidade da Terra, mas também se lembra o regresso ao seu lado mais sombrio, com a abertura da Exposição “Despertar, Perséfone e os Ciclos da Vida”. Há algum tempo que o mito de uma mulher ecoava. No início de 2020, a vontade de o trabalhar manifestou-se e materializou-se. Juntaram-se assim, para o criar, três mulheres: Perséfone, em mito; Helena, fotógrafa; e Patrícia, intérprete.»

Em Setúbal poderá ainda ver a exposição de pintura e desenho de Sofia Areal5 «Dança da Roda», na Casa da Cultura, onde poderá ver trabalhos recentes da artista, até Setembro.

O Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, organizado pelo município de Amarante, realizou em 2019 a sua 12ª sessão. Este prémio é atribuído a um artista português, tem a periodicidade bienal e subdivide-se em três categorias: Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, Prémio Amadeo de Souza-Cardoso e Prémio de Aquisição do Grupo dos Amigos da Biblioteca-Museu. 

Já em 2020, no âmbito das comemorações do centenário da morte de Amadeo de Souza-Cardoso, natural de Amarante, e após a decisão do júri do 12.º Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, constituído por António Cardoso, Raquel Henriques da Silva, Bruno Marchand, Laura Castro e Lúcia Matos, foi divulgado o vencedor do Grande Prémio, o pintor Eduardo Batarda6. No âmbito deste prémio, o Município fará uma aquisição de uma ou mais obras de Eduardo Batarda, até ao montante de 25 mil euros, e convidará o artista a realizar uma exposição das suas obras no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso. O Prémio Amadeo de Souza-Cardoso foi atribuído a diversos artistas portugueses desde 1997, nomeadamente Fernando Lanhas (1997), Fernando Azevedo (1999), Costa Pinheiro (2001), Júlio Pomar (2003), Nikias Skapinakis (2005), Ângelo de Sousa (2007), João Vieira (2009), António Sena (2011), Paula Rego (2013), Alberto Carneiro (2015), Jorge Pinheiro (2017) e agora a Eduardo Batarda (2019).

No Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso7, em Amarante, poderemos visitar a exposição de Catarina Lira Pereira «Review», até 30 de agosto. A artista apresenta fotografia e pintura, partilhando imagens de momentos e narrativas de memórias difusas de «conteúdo autobiográfico, de um universo privado, criando uma comunicação emocional com o público que fica confrontado com todo um espírito de abertura, com um ambiente familiar e lúdico». Catarina Lira Pereira formou-se em Pintura na FBAP(Porto) e fez uma pós-graduação em desenho na FBAL(Lisboa), participou em diversas edições do Prémio Amadeo de Souza-Cardoso e em várias exposições individuais e coletivas, desde 2003, no país e no estrangeiro.

Poderemos ainda poder visitar no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso uma exposição dedicada à relação entre Arte e Gastronomia, «Fuck Art, Let’s Eat»8, até 30 de agosto. Esta exposição reúne obras de cerca de 30 artistas, onde se encontram obras de artistas como Ana Vidigal, João Jacinto, João Louro, Jorge Pinheiro, Julião Sarmento, Nikias Skapinakis, Pedro Cabrita Reis e Rui Sanches, entre outros.


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AE90)

  • 1. CECAL. Parque Municipal de Loulé, 8100 Loulé. Horário: terça a sexta-feira, 11h0-14h e 15h-19h; sábado, 11h-17h30.
  • 2. «O Objeto ocupa espaço e lugar», texto da investigadora e professora Mirian Tavares sobre a exposição do artista Miguel Cheta «Todos Nós Nascemos Originais E Morremos Cópia» no Centro de Experimentação e Criação Artística de Loulé, publicado na Revista Artecapital. O texto completo pode ser lido aqui.
  • 3. Bardo Taverna Medieval. Rua Detrás da Guarda, 18-20, 2900-347 Setúbal. Horário: segunda e quarta-feira a domingo, 14h-23h.
  • 4. La Bohème Bar. Rua Pereira Cão, n.º 11, 2900-549 Setúbal. Horário: terça-feira a sábado, 17h às 20h.
  • 5. Sofia Areal (1960), inicia a formação no Hertfordshire College of Art and Design no Reino Unido (1979) e estudou gravura e pintura no Ar.Co. (Centro de Arte e Comunicação Visual). Participa e organiza exposições desde 1982, referindo a sua retrospectiva na Cordoaria Nacional (2011), quARTel das Artes em Abrantes (2016) e trabalhou com a galeria Raton em Lisboa. A nível internacional expôs em Macau, Oslo, Dublin e em Luxemburgo.
  • 6. Eduardo Batarda (1943), natural de Coimbra, licenciou-se na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa e obteve uma pós-graduação no Royal College of Art, em Londres, com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Eduardo Batarda é um homem cujos interesses se estendem «da literatura à filosofia, da Estética à arte antiga»... e um cidadão construtivamente «crítico», como o demonstra a sua obra, desde as aguarelas dos anos 70 - «uma caricatura violentíssima da sociedade portuguesa» (J. Pinharanda).
  • 7. Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso. Alameda Teixeira de Pascoaes, 4600-011 Amarante. Horário: terça-feira a domingo, 9h30-12h30 e 14h-18h.
  • 8. Título recuperado da obra homónima do artista Filipe Marques, que também participa nesta exposição organizada pela Galeria Fernando Santos (Porto).

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