No 45.º aniversário do início de uma operação que teve o nome de uma mulher africana, negra que assumiu papel destacado numa revolta de escravos na região de Matanzas, no século XIX, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba, Bruno Rodríguez, afirmou que a ajuda militar prestada pelo seu país a Angola foi um «exemplo de solidariedade» e do «internacionalismo do povo da Ilha».
«Os mais de 300 mil cubanos que lutaram pela liberdade e contra o Apartheid em terras africanas honraram os laços históricos que nos unem a este continente», escreveu o chefe da diplomacia cubana na sua conta de Twitter.
Por seu lado, a União de Escritores e Artistas de Cuba (Uneac) lembrou o aniversário do início da gesta cubana em África promovendo uma iniciativa que permitiu reunir testemunhos de artistas e escritores na Sala Villena, em Havana, sobre a operação que é um marco do internacionalismo.
«Carlota», de machete em riste contra a escravatura
Já na província de Matanzas, no município de Limonar, populares evocaram o 45.º aniversário do início da missão internacionalista militar de Cuba em Angola honrando os escravos que foram protagonistas de uma revolta em 1843, entre eles Carlota, «corajosa e de espírito rebelde», que viria a baptizar a operação em África 132 anos depois.
Nos terrenos do antigo engenho açucareiro Triunvirato, declarado monumento nacional em 1978, os populares depositaram flores junto ao Monumento ao Escravo Rebelde, conjunto escultórico inaugurado em 1991 que inclui três figuras de bronze, dois homens e uma mulher, e evoca a revolta de 1843 – uma das sublevações de escravos provenientes de África mais importantes na história de Cuba ao longo do século XIX.
O território de Matanzas «tornou-se um empório açucareiro levantado sobre as costas, o suor e a repressão de servos negros», explica a agência Prensa Latina. Os levantamentos que ali foram ocorrendo desde o início do século e as fugas crescentes das plantações atingiram o clímax a 5 de Novembro de 1843, no Engenho Triunvirato.
Os escravos, armados com machetes e lanças improvisadas, queimaram todos os edifícios do engenho, mataram várias pessoas e avançaram para sudoeste, destruindo seis engenhos em cerca de duas horas, antes de serem dominados – presos e mortos – pelas tropas espanholas.
Operação Carlota: epopeia cubana em Angola
No dia 5 de Novembro de 1975, a pedido do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), o governo cubano decidiu apoiar de forma directa o país africano com o envio inicial de um batalhão de tropas especiais do Ministério do Interior.
A Revolução dos Cravos em Portugal, em Abril de 1974, tornou possível a independência dos territórios sob domínio colonial português. Para preservar a independência em relação à antiga metrópole e fazer frente às ameaças da CIA, de alguns países da NATO, da África do Sul do apartheid e do Zaire (actual República Democrática do Congo), o líder do MPLA, António Agostinho Neto, pediu inicialmente a Cuba armas e instrutores.
A 23 de Outubro de 1975, forças sul-africanas invadem Angola e avançam rapidamente em direcção a Luanda, enquanto tropas do Zaire e mercenários chegaram até 25 quilómetros da capital angolana, refere a Prensa Latina.
Os primeiros instrutores cubanos caíram em combate a 3 de Novembro desse ano e, oito dias mais tarde, Agostinho Neto proclamou a independência de Angola, tornando-se o primeiro presidente do novo Estado africano.
Durante a Operação Carlota, que começou a 5 de Novembro de 1975, teve lugar a batalha de Cuito Cuanavale (a sul de Luanda), entre Dezembro de 1987 e Março de 1988, que permitiu manter a independência do país, teve influência na libertação da Namíbia (Março de 1990) e no fim do apartheid – um sistema de segregação racial – na África do Sul.
De 1975 a 1991, cerca de 300 mil cubanos participaram na epopeia africana e mais de 2000 perderam a vida, cujos restos mortais foram repatriados durante a chamada Operação Tributo.
Nas palavras do líder da Revolução cubana, Fidel Castro, que dirigiu aquela missão internacionalista, tratou-se de «uma extraordinária façanha do nosso povo, muito especialmente da juventude», e «poucas vezes se escreveu uma página igual de altruísmo e solidariedade internacional».
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