Das temáticas campestres e marinhas de Pedro Botelho, passando pelas «buscas de ritmo» nos desenhos de Jorge Rodrigues e pela «autonomia do desenho» na coletiva «O Lápis Mágico» e por «pensar o corpo, enquanto um repositório político» em Pedro Barateiro, ou interrogar o que é «ser artista hoje» nos trabalhos de Adriana Proganó, refletir sobre o «estado do mundo e da arte» com Ricardo Nicolau e ainda sobre um dos temas mais atuais como as crises globais da migração e dos refugiados em Tania Bruguera, são ótimas razões para iniciarmos este novo ano de 2021 com uma melhor compreensão sobre a situação da arte e ajuda a fortalecer-nos para os desafios que aí vêm.
A Galeria Municipal do Castelo de Pirescouxe1, em Santa Iria de Azóia (Loures) recebe, na sala dois, a exposição «Mar até Cá» de Pedro Botelho, até 9 de janeiro de 2021. Uma exposição de escultura e pintura com obras de Pedro Botelho, abordando temáticas campestres e marinhas, as esculturas são realizadas em diversos materiais como a madeira, a pedra e o ferro.
A Artadentro - Arte Contemporânea é uma associação com associados e colaboradores algarvios mas também de outras regiões de Portugal, está em atividade desde Agosto 2003 e constituiu-se a 14 de Agosto de 2007, em Faro, como associação cultural sem fins lucrativos. Esta associação tem como objetivos estimular a criação, dando particular atenção a artistas em fase de afirmação, à dinamização cultural na promoção e divulgação da Arte Contemporânea, e à ampliação e desenvolvimento de públicos no Algarve.
No Museu Municipal de Faro2 inauguram, em simultâneo, duas exposições integradas no ciclo de arte contemporânea Eklektikós3, «Entre Espaços», de Jorge Rodrigues4, e «O Lápis Mágico», com António Olaio, Tiago Batista e Xana, até 17 de janeiro de 2021.
No texto da exposição informa-se que «os desenhos que Jorge Rodrigues agora nos apresenta, a um tempo, dão continuidade e contrariam um corpo de trabalho anterior. Surgem “pela vontade de trabalhar entre espaços”, agora delimitados no interior da área a trabalhar, introduzindo um elemento dramático, perturbador, que vem ritmar a serenidade luminosa das suas habituais superfícies. Nestes desenhos, Jorge Rodrigues, utilizando um vocabulário frugal, prossegue a sua demanda artística olhando a vastidão do espaço-tempo, na busca do “belo” utópico. Mas, desta vez, preservando um retorno seguro guiado pelo seu “novelo de Ariadne”». Acerca da exposição coletiva «O Lápis Mágico», afirma-se a autonomia do desenho, enquanto «género artístico», em que o desenho se apresenta como representação, mas também, como «Puro Pensamento Visual das “coisas” do Mundo»5.
A Casa da Cerca6 é um Centro de Arte Contemporânea e um equipamento cultural da Câmara Municipal de Almada, existente desde 1993. A Casa da Cerca inaugurou em setembro quatro novas exposições, que podem ser visitadas até 31 de janeiro de 2021: «O meu corpo, este papel, este fogo», de Pedro Barateiro, na Galeria Principal; «Somos todos patos a querer ser cavalos», de Adriana Proganó, na Galeria do Pátio; na Sala de Leitura do Centro de Documentação e Investigação Mestre Rogério Ribeiro podemos visitar «Duvida Press», de Ricardo Nicolau e ainda «Narciso», de Tania Bruguera, apresentada na Capela.
Pedro Barateiro7 desenvolve «uma investigação continuada sobre modos de produção e de significação da linguagem, da imagem e do corpo». Nesta exposição podemos ver o vídeo «My body, this paper, this fire» (O meu corpo, este papel, este fogo)8 que dá nome à exposição, mas também são apresentados desenhos, esculturas, instalações e texto «num percurso que pensa o corpo enquanto um repositório político». A exposição tem cocuradoria de Elfi Turpin e Filipa Oliveira. No texto da exposição é referido que o trabalho de Pedro Barateiro «tem como ponto de partida o exercício do desenho e da escrita, e aquilo que acontece no embate de ambos. (…) É a partir desse confronto que o artista questiona e tenta desconstruir o pensamento binário ocidental, que a ciência e o desenvolvimento científico tentaram impor em todo o mundo através de um sistema financeiro desigual, no qual a produção de capital é o fator de destruição das condições de vida e permanência no nosso ecossistema». Salientamos que o referido vídeo, «My body, this paper, this fire», se inicia com uma descrição e imagens da manifestação contra o aumento das propinas de 24 de novembro 1994, mais conhecida como manifestação da «geração à rasca», referindo-se ainda, que o vídeo parte deste acontecimento para «pensar em formas de entretenimento que se estabeleceram nos anos 1990 como os festivais de Verão; mas também formas de controlo, como drogas legais que tratam ansiedade e depressão, sintomas de uma crescente abstração de uma população exposta ao neoliberalismo mais selvagem.»
Os desenhos apresentados por Adriana Proganó9 situam-se maioritariamente no campo da pintura figurativa. «Nesta exposição, a Casa da Cerca quis mostrar o seu trabalho de desenho, marcado por gestos simples, rápidos (…) intuições, pensamentos aleatórios e sonhos juntam-se a uma figuração onde predomina o humor e a sátira. Proganó constrói um universo pleno de referências, críticas que se prendem com questões de género, feminismo, mas também de interrogações sobre como ser artista hoje.»
A artista cubana Tania Bruguera10 descreve toda a sua obra como uma experiência social. « “Narciso” evoca a crise global da migração e dos refugiados, bem como a falta de empatia do público (europeu, mas não só) para com esta situação. Se muita da arte contemporânea desafia o público a refletir sobre o mundo, nesta escultura o reflexo literal de cada visitante no poço é trocado pela imagem de um migrante. Olham-se nos olhos uns dos outros, numa obra sobre intimidade, proximidade e alteridade».
Apresentada por Ricardo Nicolau, «Duvida Press» é «um projeto artístico anónimo que se apresenta como uma editora que inventa, e desenha, capas para livros que nunca foram escritos. A conjugação das imagens das capas, dos títulos e dos autores instigam à reflexão e meditação sobre o estado do mundo e da arte.»
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Todos os espaços dos eventos, aqui divulgados, cumprem as regras e procedimentos de segurança e proteção sanitária. Informamos que os horários aqui informados poderão ser alterados de acordo com o nível de risco em que os concelhos se encontrem, aconselhamos que os confirmem antes da visita.
O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AE90)
- 1. Galeria Municipal do Castelo de Pirescouxe. Urbanização do Castelo de Pirescouxe, 2695 Santa Iria de Azóia (Loures); Tel: 211150663/219 590 339. Horário: terça-feira a sexta-feira, das 10h às 13h e das 14h às 18h; sábado, das 10h às 12h30. Encerra aos domingo, segunda-feira e feriados.
- 2. Museu Municipal de Faro. Praça Dom Afonso III n.º 14, 8000-149 Faro. Horário: terça-feira a sexta-feira, das 10h às 18h; sábado e domingo, das 10h30 às 17h. Encerra à segunda-feira e feriados.
- 3. O projeto artístico Eklektikós é organizado pela associação Artadentro e pelo Museu Municipal de Faro e decorre até julho de 2021.
- 4. Jorge Rodrigues (Lagos, 1973), vive e trabalha em Lisboa. Fez a sua formação artística no Ar.Co., em Lisboa, e expõe regularmente desde 1992. A sua obra integra importantes coleções públicas e privadas.
- 5. Como nos refere Pedro Cabral Santo, o curador da exposição, no texto de apresentação «O Lápis Mágico».
- 6. Casa da Cerca - Centro de Arte Contemporânea. Rua da Cerca, Almada, Tel: 212724950/51. Horário: terça-feira a domingo, das 10h às 18h. Encerra à segunda-feira e nos feriados. Dadas as limitações impostas pelo atual Estado de Emergência, a Casa da Cerca encerrará aos fins de semana às 12:30h, por esse motivo, todas as atividades irão decorrer durante o período da manhã. Ver Catálogos das exposições de Pedro Barateiro; Adriana Proganó; Ricardo Nicolau e Tania Bruguera.
- 7. Pedro Barateiro (Almada, 1979) vive e trabalha em Lisboa. Teve exposições individuais em diversas instituições nacionais e internacionais, como Kunsthalle Basel, Museu de Serralves, Kunsthalle Lissabon, REDCAT, Museu Coleção Berardo. Participou em exposições coletivas como a 13.ª Sharjah Biennial, 29.ª Bienal de São Paulo, 16.ª Bienal de Sidney, e 5.ª Bienal de Berlim, entre muitas outras.
- 8. Neste link pode ver o vídeo de Pedro Barateiro: «My body, this paper, this fire» (O meu corpo, este papel, este fogo), 2020 (16,59´).
- 9. Adriana Proganó (Luzerna, Suíça, 1992). Vive e trabalha em Lisboa. Graduou-se e faz um mestrado em artes visuais na esad.cr.
- 10. Tania Bruguera (Havana, 1968), vive e trabalha em Havana, Nova Iorque e Cambridge. Participou em inúmeras exposições internacionais como a Documenta 11, Bienal de Veneza 2015, na Tate Modern, em Londres, no Guggenheim e no MoMA, em Nova Iorque, entre outros. Premiada com um Honoris Causa pela Escola do Instituto de Arte de Chicago, pré-selecionada para o Prémio de Liberdade de Expressão #lndex100 e uma vencedora do prémio Herb Alpert.
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