Os organizadores da mostra explicam que se trata da primeira exposição da reportagem do fotógrafo em telas de grande formato, contendo um total de 60 registos que, a partir dos negativos originais de 35 milímetros, foram digitalizados em scanner-tambor e depois sujeitos a impressões em PVC de 60 por 80 centímetros e de 90 por 120.
«Sempre que revejo estes negativos sinto que gostaria de "viajar até lá", regressar a 1974, fotografar tudo de novo e assim resolver uma angústia que me persegue ao longo destes anos. Mas a vida é assim mesmo e estas fotografias são o trabalho possível de um miúdo de 20 anos, numa selecção com algumas novidades e até algumas surpresas para mim mesmo», explica Alfredo Cunha à Lusa.
Para o fotógrado esta recolha tem um impacto emocional e histórico: «parece que o tempo não passou. Foi um privilégio fotografar uma Revolução precisamente aos 20 anos e é sempre bom fazer a revisitação do 25 de Abril e mostrar como fomos felizes naquele dia».
A ideia de recuperar parte desse arquivo e afirmá-lo num suporte «visualmente mais forte» foi do fotógrafo Aníbal Lemos, director do Centro de Arte de São João da Madeira e docente na IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia.
«Decidimos lançar um ciclo de exposições sobre fotografia de reportagem e quisemos começar com o Alfredo Cunha, mas de uma forma diferente, porque nunca vimos estas imagens numa escala assim e o facto é que, em tamanho maior, elas se tornam mais poderosas e emotivas - impõem mais o conteúdo», afirma o professor.
Este leque de registos sobre a Revolução em Lisboa foi seleccionado entre «umas 600 fotografias, o que representava um custo enorme naquele tempo, quando ainda era tudo analógico e revelado em papel», o que também proporciona uma reflexão «sobre a juventude» de espírito e profissional.
«Mesmo sem os conhecimentos ou os recursos de hoje, o Alfredo soube colocar-se do lado certo do que poderia ter sido só uma revolta militar, se o povo não tivesse transformado tudo aquilo numa Revolução. Ele ainda estava no início da sua carreira jornalística, mas foi percebendo o que podia sair dali: pôs-se a deambular pela cidade, acompanhou as sensações daquela gente toda e fê-lo com um tal "amadorismo", com tal "inocência", que isso confere pureza àquela abordagem», defende Aníbal Lemos.
Tendo em conta o actual contexto, Alfredo Cunha afirma que «nestes tempos difíceis de pandemia ainda mais agradeço o esforço e o interesse de São João da Madeira pela nossa memória e pelo 25 de Abril libertado».
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