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Cinco décadas depois, vítimas do massacre de Ballymurphy declaradas «inocentes»

A decisão de um tribunal de Belfast é considerada histórica, ao pôr em causa a versão do Exército britânico e o terrorismo de Estado. Para os familiares das vítimas, o sabor não deixa de ser agridoce.

Mural figurando as vítimas so massacre de Ballymurphy 
CréditosPaul Hurst / flickr.com

«Não devia ter demorado 50 anos a haver um inquérito para fazer as perguntas que deviam ter sido feitas em 1971», disse Carmel Quinn, citada pelo Irish Times.

O seu irmão, John Laverty, foi uma das pessoas atingidas a tiro e mortas por militares britânicos em Belfast Ocidental, no Norte da Irlanda, durante os confrontos e episódios de grande violência que se viveram no território sob administração britânica, no âmbito da Operação Demétrio, que foi levada a cabo pelo Exército britânico a 10 e 11 de Agosto de 1971, alegadamente contra pessoas suspeitas de pertencerem ao Exército Republicano Irlandês (IRA).

Quase 50 anos depois, no passado dia 11 de Maio, a juiz Siobhan Keegan desmentiu a versão dos militares, de acordo com a qual as vítimas de Ballymurphy eram elementos armados [gunmen e gunwomen] e declarou que as dez vítimas do massacre são «completamente inocentes de qualquer delito».

A juiz declarou que pelo menos nove foram mortas por pára-quedistas britânicos «sem justificação» e de forma unilateral, durante a época dos chamados Troubles (entre os anos 60 e 1998). No que respeita à décima vítima do massacre, disse que a «falha abjecta» em investigar na altura dos factos implicou que não haja provas sobre as quais fundamentar qualquer «descoberta».

Justiça, esperança e sabor agridoce

O inquérito que esteve na base deste veredicto resulta da campanha iniciada pelas famílias em 1998, com o objectivo de «limpar» os nomes dos seus seres queridos.

Isso, destaca o Times, foi algo que as famílias de Ballymurphy de facto conseguiram, assim como todos aqueles que os apoiaram ao longo dos anos e todos os residentes que deram a cara como testemunhas, em grande número.

Vítimas do massacre de Ballymurphy, em Agosto de 1971 / Irish Times

A decisão judicial também traz esperança para muitas outras famílias que continuam à procura de respostas sobre as mortes dos seus seres queridos, através de inquéritos similares ou de outras formas, como investigações levadas a cabo pela Polícia (PSNI).

Pádraig Ó Muirigh, advogado das famílias de Ballymurphy, destacou o modo como o inquérito «estreitou mais a permissibilidade das mentiras que o Estado pode contar».

Para as famílias, será sempre uma vitória, um alívio, justiça, mas, como destacou Quinn, teve de passar meio século para que as mentiras do Estado fossem deitadas abaixo. O sabor é «agridoce».

CPI: «terrorismo de Estado britânico não deve ser varrido para debaixo do tapete»

O Partido Comunista da Irlanda (CPI) afirmou, em comunicado, que se trata de uma «vitória para as famílias e os seus apoiantes, bem como um testemunho da sua crença inabalável, ao longo de 50 de anos, de que os seus seres queridos eram inteiramente inocentes e de que tinham sido assassinados pelo Exército britânico», informa o Peoples Dispatch.

«O veredicto traz mais uma vez à luz o papel das forças do Estado britânico nas mortes de muitas centenas de pessoas inocentes, bem como no assassinato de centenas de opositores políticos. Há muitos mais casos como o do massacre de Ballymurphy. O terrorismo de Estado britânico não deve ser varrido para debaixo do tapete, nem deve ser introduzida uma moratória sobre crimes históricos», afirmou o CPI.

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