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ONU aceita «ajuda humanitária» de quem comete crimes de guerra

A Arábia Saudita lançou, em Março de 2015, uma grande campanha militar de agressão contra o Iémen. Ofereceu agora 50 milhões de euros para reparar «a pior crise humanitária do mundo», que ela própria causou.

Equipa médica operando no Iémen. Foto de arquivo.
Créditos / MSF

O Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou ontem ter recebido 50 milhões de euros da KSrelief - King Salman Humanitarian Aid and Relief Centre - organização de caridade fundada e gerida pela mesma monarquia saudita que há seis anos vem comentendo crimes de guerra contra a população Iemenita.

A agressão saudita, que já matou mais de 130 mil pessoas e provocou milhões de deslocados, bombardeou intencionalmente alvos civis, como mercados e campos de refugiados, assim como hospitais geridos por organizações de solidariedade como os Médicos sem Fronteiras.

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Sauditas usaram mais de 3000 bombas de fragmentação no Iémen

A coligação liderada pelos sauditas recorreu a bombas de fragmentação de fabrico diverso ao longo da guerra de agressão contra o Iémen, desde 2015, provocando centenas de vítimas civis.

Crianças numa zona bombardeada no Iémen
Créditos / Sputnik News

«As informações e os dados que temos mostram que foram utilizados oito tipos de bombas de fragmentação, de fabrico norte-americano, britânico e brasileiro, durante a guerra no Iémen», revelou Ali Sofra, director-geral do Centro Executivo de Desminagem do Iémen, informaram este domingo os canais de notícias al-Maloumeh e al-Masirah.

O responsável precisou que a Arábia Saudita e os seus aliados lançaram 3179 bombas de fragmentação no Iémen desde o início da campanha de agressão, em Março de 2015, e que as vítimas civis, na sua maioria mulheres e crianças, são mais de mil. Muitas delas perderam a vida quando se encontravam em campos agrícolas e áreas de pasto.

«A monarquia árabe utilizou esse armamento, cujos efeitos são intrinsecamente indiscriminados, nos ataques aéreos que levou a cabo nas províncias de Saada, Saná, Hajjah, Hudayda, Jawf, Amran, Taizz, Dhamar e Mahwit», disse ainda Sofra, citado pela HispanTV.

Em Junho do ano passado, o Ministério iemenita dos Direitos Humanos alertou para os riscos que este tipo de armamento colocava à população civil, uma vez que é pouco preciso, abrange extensas áreas e constitui um perigo mortal para os civis mesmo depois de terminado o conflito. O Ministério acusou então a coligação liderada pela Arábia saudita de ter usado milhares de bombas de fragmentação em áreas residenciais, provocando inúmeras vítimas mortais.


A Organização das Nações Unidas (ONU) condenou a utilização destas munições no Iémen, considerando que se trata de «um crime de guerra». Em 2010 entrou em vigor a Convenção contra as Bombas de Fragmentação, que havia sido assinada dois anos antes por mais de uma centena de países.

Num tweet publicado esta segunda-feira, Ali Sofra criticou as organizações internacionais e de direitos humanos por evitarem falar sobre a existência de ataques aéreos e a utilização de bombas de fragmentação no Iémen. «Quaisquer vítimas de bombas de fragmentação no Iémen não são referidas nos seus relatórios anuais humanitários e de direitos humanos», escreveu, citado pela PressTV.

EUA «congelam» venda e Itália deixa de vender armamento aos sauditas

Joe Biden, o presidente recentemente empossado dos EUA, um dos grandes fornecedores de armamento à coligação liderada pelos sauditas e um dos principais envolvidos no Ocidente, juntamente com o Reino Unido, na guerra de agressão ao Iémen, anunciou na quarta-feira da semana passada o congelamento da venda de armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, cujo volume de negócio tinha incrementado fortemente sob os auspícios de Donald Trump.

Na sexta-feira, a Itália – um de vários países ocidentais envolvidos na venda de armas à Arábia Saudita e que muito lucram com a guerra de agressão ao Iémen – anunciou o fim da exportação de armamento à Arábia Saudita e e aos Emirados Árabes Unidos.

Luigi Di Maio afirmou que se tratava de um «acto necessário», de uma «clara mensagem de paz do nosso país» e que, para a Itália, o «respeito pelos direitos humanos é um compromisso inquebrável». Se for para valer, mais vale tarde que nunca. A guerra e o martírio do povo iemenita começaram há seis anos.

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Alguns destes ataques recorreram ao uso de bombas de fragmentação, fabricadas pelos Estados Unidos, que foram alvo, em 2008, de uma convenção internacional contra o seu uso, ratificado por Portugal, mas linearmente rejeitado tanto pela Arábia Saudita como pelos EUA, que continuam a utilizá-las como parte do seu esforço de guerra

A mesma ONU que denunciou os vários crimes de guerra cometidas na agressão ao Iémen, vem agora saudar, através do PAM, os parcos apoios atríbuidos pelos sauditas, em resposta às «necessidades urgentes de alimentação no Iémen» — como reconhece o comunidade do PAM - e dos quais são os principais responsáveis..

Os EUA e o Reino Unido têm contribuído, debaixo de uma maré de críticas, para o assalto saudita, não só através da venda de armamento bélico mas também com o apoio logístico, político e de quadros técnicos na manutenção do bloqueio marítimo, terrestre e aéreo ao país. O fornecimento de relatórios de inteligência tem sido fundamental para o agravar do conflito.

Desde 2015 que cerca de 20 milhões de pessoas no Iémen necessitam de apoio humanitário, mais de 16 milhões sofrem de insegurança alimentar e cinco milhões está em risco de morrer à fome.

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