|literatura

Obra de Maria Judite de Carvalho celebrada no São Luiz

Paisagens sem história é o título do ciclo de leituras encenadas a partir de obras da escritora Maria Judite de Carvalho, que tem início este sábado, no Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa. 

Maria Judite de Carvalho
Créditos / margaridafoiafeira.com

«Dar alguma visibilidade à escrita e obra de Maria Judite Carvalho, que toca particularmente» a actriz e encenadora Cristina Carvalhal, foi um dos motivos que a levou a idealizar a iniciativa, que também dirige, e que ganhou «ainda mais sentido» por este ano se assinalar o centenário de nascimento da autora.

Mariana, Água parada e Uma conversa são as três leituras encenadas, a apresentar no teatro lisboeta, com a segunda e terceiras a decorrerem nos dias 26 e 30 deste mês, respectivamente.

Apesar de ter descoberto a obra de Maria Judite de Carvalho «há muito pouco tempo, apeteceu-me muito pô-la em palco e divulgá-la», sublinhou Cristina Carvalhal.

Para a actriz e encenadora, ler a escritora é «mergulhar num imenso caldeirão de coisas sem nome, porque tratadas com extremo pudor, e que parecem explicar-nos, como a copa de uma árvore espelha as suas raízes escondidas na terra».

Tanta gente, Mariana, conto publicado em 1959, está na base da primeira leitura que, tal como as duas seguintes, decorrerá na sala Bernardo Sassetti, no Jardim de Inverno do S. Luiz, onde, num dos janelões, está colocado um desenho com um rosto de mulher, uma instalação de Adriana Molder, artista plástica que «foi convidada para visitar o universo» da escritora de Os armários vazios.

|

Obra completa de Maria Judite de Carvalho nos 20 anos da sua morte

Maria Judite de Carvalho, escritora do silêncio e da solidão, dona de uma escrita «acutilante e atenta ao pormenor quotidiano», vai ter a sua obra completa, e quase desconhecida, publicada na íntegra.

A escritora Maria Judite de Carvalho, em Novembro de 1988
Créditos / Lusa

O primeiro volume, que inclui as suas primeiras colectâneas de contos – Tanta Gente, Mariana (1959) e As Palavras Poupadas (1961), esta última vencedora do Prémio Camilo Castelo Branco, chegou hoje às livrarias.

A aposta na obra desta autora é da Almedina, que, através da chancela Minotauro, se prepara para lançar, até ao final do próximo ano, seis volumes que incluem a obra completa de Maria Judite de Carvalho (1921-1998), considerada pela crítica uma das escritoras mais proeminentes da literatura nacional do século XX, não obstante ser pouco conhecida do público em geral.

Apelidada por Agustina Bessa-Luís como «flor discreta da nossa literatura», Maria Judite de Carvalho, também jornalista, dedicou 30 anos da sua vida à carreira literária, durante a qual publicou 13 livros, privilegiando as novelas, as crónicas e os contos, e escreveu sobre a solidão, histórias sombrias da vida quotidiana que observava.

A editora apercebeu-se de que a escritora «já estava na sombra há demasiado tempo», e aproveitou o facto de alguns contos terem surgido nos manuais do Ensino Secundário, embora a maioria continue fora do mercado e das livrarias há muito tempo.

«Decidimos que seria a altura ideal, 20 anos após a sua morte, para fazer renascer a sua obra, e para apresentá-la a esta nova geração de leitores, que começa a ler Maria Judite de Carvalho na escola e que nas livrarias não iria ter acesso a toda a sua escrita em vida; portanto estamos a querer juntar toda a sua obra em seis volumes», disse à Lusa Sara Lutas, editora da Almedina.

A editora entrou em contacto com Isabel Fraga, filha de Maria Judite de Carvalho e do também escritor Urbano Tavares Rodrigues, que lhe apresentou toda a obra da mãe.

Dona de uma personalidade «recatada» e «zelosa da sua privacidade», Maria Judite de Carvalho nunca gostou de se expor, e «a obra dela sempre falou por si mesma», explica Sara Lutas, que decidiu, por isso, respeitar essa vontade e não dar grande destaque à figura da escritora, que é apresentada na badana dos livros «de forma discreta e bastante lírica».

A obra vai ser publicada cronologicamente, e a autora vai «envelhecendo» nas fotografias escolhidas e nos retratos que ilustram as capas e os separadores dos livros, revelando outra faceta da escritora: o desenho e a pintura.

«As capas, em vez de ter em grande plano a autora, são quadros dela, que também pintava, e decidimos dar uma roupagem diferente às obras dela através de uma Maria de Judite de Carvalho pintora», explica Sara Lutas.

Uma autora «quase etérea»

Inês Fraga, neta da autora, recorda que Urbano Tavares Rodrigues «era um leitor extremamente generoso, hiperbólico no elogio e que amava profundamente a literatura», e que foi graças à leitura dele que Maria Judite de Carvalho publicou, porque «ele disse "este livro é maravilhoso, tu tens que publicar isto, isto é genial"».

Este episódio reflecte aquilo que foi a personalidade da própria Maria Judite de Carvalho, «uma pessoa e autora quase etérea».

«Era fácil, numa era em que cada vez mais a escrita está ligada à promoção da imagem do indivíduo – para além do que escreve, do indivíduo que escreve –, que, com uma personagem tão etérea, a própria obra se começasse a desmaterializar, e creio que foi por isso, embora tenha sido profundamente reconhecida no seu tempo, que não chegou ao grande público», afirma Inês Fraga.


Com Agência Lusa 

Tipo de Artigo: 
Notícia
Imagem Principal: 
Mostrar / Esconder Lead: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Imagem: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Vídeo: 
Esconder
Mostrar / Esconder Estado do Artigo: 
Mostrar
Mostrar/ Esconder Autor: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Publicação: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Actualização: 
Esconder
Estilo de Artigo: 
Normal

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui

A primeira leitura incidirá também sobre algumas crónicas que Maria Judite de Carvalho escreveu para revistas e jornais, acrescentou Cristina Carvalhal. A terceira leitura será «mais curta», já que contará com a presença de Inês Fraga, neta da escritora e estudiosa da sua obra, que estará à conversa com o elenco.

As três leituras têm diferentes intérpretes, à excepção de Cristina Carvalhal e de Madalena Palmeirim, que está a cargo da música, presentes em todas elas.

Na primeira leitura vão estar as actrizes Cucha Carvalheiro, Maria Rueff e Sofia de Portugal; na segunda estarão Manuela Couto, Nuno Nunes e Sílvia Filipe; na terceira, Cucha Carvalheiro e o Bruno Huca.

Cada leitura terá uma duração de 50 a 60 minutos. As de hoje e do dia 30 realizam-se às 16h e a de dia 26 de Outubro às 19h.

Maria Judite de Carvalho nasceu em 18 de Setembro de 1921, em Lisboa, cidade onde morreu, em 18 de Janeiro de 1998, aos 76 anos.

Vencedora de vários prémios, entre os quais o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, com Palavras Poupadas, em 1961, e, em 1965, com Seta Despedida, a escritora também conquistou o Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora, o Prémio Máxima e o Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literários.

Com Este tempo, livro publicado em 1991, venceu o Prémio da Crónica da Associação Portuguesa de Escritores. Em 10 de Junho de 1992, a escritora foi condecorada pela Presidência da República como Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.


Com agência Lusa

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui