Recorrendo a granadas atordoantes, gás lacrimogéneo, balas de borracha e canhões de água, as forças israelitas têm reprimido com grande violência [vídeo] os protestos dos manifestantes palestinianos que se opõem à expulsão das comunidades beduínas das suas terras.
Registaram-se fortes confrontos ao longo de todo o dia de ontem em várias aldeias beduínas, depois dos que já tinham ocorrido na quarta-feira. O canal libanês Al Maydeen dá conta de espancamentos de manifestantes, de dezenas de detenções e de feridos.
De acordo com a fonte, os palestinianos resistem aos planos de expulsão das suas terras, que têm estado a ser arrasadas com bulldozers, e de realojamento noutras áreas. Israel alega que quer «plantar árvores» no local, algo a que as comunidades beduínas se referem como «eco-lavagem» dos «crimes de Israel».
As «aldeias não reconhecidas» por Israel
A maioria das comunidades beduínas no deserto do Neguev (al-Naqab, em árabe), no Sul da Palestina histórica, tem o estatuto de «não reconhecidas» e tem enfrentado uma política de demolições sucessivas e confisco de terras, por parte do Estado de Israel, que visam forçar a população a mudar-se para zonas designadas pelo governo israelita.
As aldeias com esse estatuto «desaparecem» dos mapas oficiais. As autoridades israelitas, que não lhes reconhecem os seus direitos sobre a terra e os consideram «ocupantes» em «terras estatais», não lhes fornecem serviços básicos como água e electricidade, e excluem-nos do acesso a serviços de saúde e educação.
«Limpeza étnica» e os interesses estratégicos
Alif Sabbagh, especialista em questões israelitas, disse à Al Mayadeen que a primeira coisa que Israel pretende alcançar é juntar os habitantes do Neguev numa pequena faixa de terra, longe das suas casas, na medida em que pretende transformar o deserto numa zona de bases militares que sirvam os interesses israelitas e norte-americanos no Médio Oriente.
Al-Araqib, habitada por membros da tribo árabe beduína al-Turi, é uma de dezenas de aldeias beduínas no deserto do Negev (Naqab, em árabe) «não reconhecidas» pelo Estado sionista. Ontem de manhã, bulldozers israelitas, acompanhados de um amplo dispositivo militar de protecção, irromperam na aldeia de al-Araqib e deitaram abaixo as tendas e outras estruturas habitacionais, deixando na rua centenas de pessoas, incluindo crianças e idosos, revela o Palestinian Information Center. Desde Julho de 2010, é a 177.ª vez que a aldeia beduína é demolida. Este ano, al-Araqib já tinha sido arrasada cinco vezes pelas forças israelitas, a última das quais em 5 de Março. Estas demolições levadas a cabo sucessivamente por Israel visam forçar a população beduína a mudar-se para zonas designadas pelo governo israelita, que não lhes reconhece os seus direitos sobre a terra e os considera «ocupantes» em «terras estatais». Dessa forma, fazem-nos «desaparecer do mapa» e não lhes fornecem serviços básicos como água e electricidade, e excluem-nos do acesso a serviços de saúde e educação. Os cerca de 220 palestinianos de al-Araqib têm sido duramente multados pelo Estado sionista, que lhes imputa os custos dos processos de demolição – e também já foram parar à cadeia na luta pelo reconhecimento da posse das suas terras. Apesar disso, mostram-se determinados em permanecer na aldeia e insistem em reconstruí-la repetidamente. As autoridades israelitas emitiram ordens de demolição para três casas na cidade palestiniana de Nahalin, a oeste de Belém (Margem Ocidental ocupada), bem como ordens para parar as obras de construção de outras seis casas, informa o Palestinian Information Center. O presidente do Município de Nahalin, Subhi Zaidan, confirmou que os militares israelitas já tinham notificado três habitantes da «decisão de os deixar a eles e às suas famílias na rua», revela a mesma fonte. Também na quarta-feira, as autoridades israelitas permitiram a anexação de cerca de 500 mil metros quadrados de terras que são propriedade de palestinianos em Nahalin, tendo-as registado como propriedade do chamado Fundo Nacional Judaico. Shlomo Neiman, líder do conselho regional dos colonatos de Gush Etzion, localizados a sul de Jerusalém e de Belém, louvou a decisão judicial e referiu-se à anexação como uma «medida histórica ao cabo de 76 anos». Acrescentou que as terras agora ocupadas serão usadas para expandir os colonatos. O Palestinian Information Center refere que os habitantes de Nahalin apresentaram documentos em tribunal a provar que as terras lhes pertenciam; no entanto, os tribunais israelitas rejeitaram as suas alegações. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Israelitas arrasam aldeia palestiniana no deserto do Negev pela 177.ª vez
Várias casas sob ameaça de demolição em Nahalin
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Sabbagh explicou a importância estratégica do Neguev ao afirmar que tem reservas de água estimadas em 11 mil milhões de metros cúbicos.
Por seu lado, a jornalista Sabreen Al-Asam disse ao canal libanês que a situação é uma «acumulação» e não uma questão de momento, sublinhando que o Neguev representa metade da Palestina histórica e que o povo do deserto o está a defender com meios ínfimos.
Já Nasser Abu Nassar, outro comentador, sublinhou que aquilo a que se assiste hoje no Neguev é a continuidade do «projecto de limpeza ética» levado a cabo por Israel na região, acrescentando que Israel promove a narrativa de que os beduínos do deserto são «nómadas» e, como tal, não há ligação «genuína» entre eles e a terra.
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