O Festival de Cinema de Havana acabou ontem, mas, segundo referem os organizadores, não se trata de um encerramento, pois as portas ficam abertas até Dezembro do próximo ano, para mais dez dias de «encontro do público cubano com a cinematografia documental e de outros países em modo de panorâmica, para nos inserir na realidade concebida a partir da sétima arte».
A cerimónia de atribuição de prémios ocorreu na sexta-feira no cinema Chaplin – uma das quatro salas habaneras onde o certame decorreu desde o passado dia 1 –, e o cantautor cubano Silvio Rodríguez teve direito a um Coral de Honra.
A 43.ª edição do Festival Internacional do Novo Cinema Latino-americano começou, esta quinta-feira, com um convite a desfrutar «a lo grande», depois de dois anos de restrições devido à Covid-19. Na gala inaugural, que decorreu na sala Charles Chaplin, foi exibido o filme Argentina, 1985, do realizador Santiago Mitre, que trazia consigo o prémio do público do festival Zinemaldia, em Donostia, e integra a selecção de longas-metragens de ficção a concurso. Yumey Besú Bayo, director de um dos mais prestigiados festivais de cinema da América Latina, precisou que a selecção oficial do evento, que decorre até 11 de Dezembro, reúne 185 títulos, 103 dos quais a concurso. Entre estes, contam-se 15 longas-metragens e 15 médias e curtas-metragens de ficção, documentários (17 longas e dez curtas), 29 títulos de animação e 15 obras-primas. Besú Bayo explicou que o júri recebeu mais de 2000 obras, representando todos os países do continente, em especial da Argentina, do México e do Brasil, das quais fizeram uma selecção para integrar a mostra «América Latina em Perspectiva« e a secção «Apresentações Especiais». Em conferência de imprensa, os responsáveis pelo festival destacaram a presença de produções da Bolívia e da Costa Rica, que «são as grandes surpresas da desta edição», competindo com novos realizadores, jovens, nas secções de longas de ficção e obras-primas. A Costa Rica apresenta a longa-metragem de ficção Domingo y la niebla (de Ariel Escalante) e as obras-primas Clara Sola (de Nathalie Álvarez Mesén) e Tengo sueños eléctricos (de Valentina Maurel), enquanto a Bolívia trouxe a Havana a obra-prima Utama (de Alejandro Loayza Grisi) e a longa de ficção El gran movimiento (de Kiro Russo). O festival não foge ao «Panorama Contemporâneo Internacional» (com obras de outros quadrantes), mas é no contexto latino-americano actual que se centra, propondo uma selecção de documentários que mostram as realidades do continente, os seus problemas e desafios. Segundo destacaram os responsáveis, ganham presença no grande ecrã as feridas das ditaduras sul-americanas do século passado, as marcas da colonização, o impacto da violência e a repressão, a resistência de movimentos e povos à direita hegemónica. Com participação em 60 festivais e quase três dezenas de prémios, Utama (2022) é um dos filmes enviados ao Festival de Havana para eventual exibição, confirmou o seu realizador, Alejandro Loayza. «Um dos nossos grandes desejos é participar nesse acontecimento cultural [1-11 de Dezembro]. Enviámos o filme e esperamos ser seleccionados, pois muitos amigos me disseram que é um festival imperdível e uma experiência única», afirmou o jovem cineasta boliviana em declarações à Prensa Latina. Loayza (1985) defendeu que os espectadores do continente americano devem apoiar as criações cinematográficas da região, contribuir com a sua presença nas salas para o consumo do cinema latino-americano. «Se fazemos mais filmes e temos um mercado mais saudável, vamos conseguir produzir e ver mais realizações na nossa própria língua e da nossa própria cultura», afirmou o realizador à agência cubana. Questionado sobre o êxito internacional de Utama desde a sua participação, em Janeiro deste ano, no festival norte-americano de Sundance, sobre as distinções que se seguiram na Europa e sobre a grande aceitação que está a ter agora no seu país, onde acabou de estrear nas salas comerciais, Loayza mostrou-se muito satisfeito. «Estávamos muito ansiosos por este momento, e saber que as pessoas reagem positivamente é muito gratificante», comentou, referindo-se também à emoção que sentiu na noite de estreia em La Paz, quando uma família se aproximou da equipa de realização e, com lágrimas nos olhos, abraçou e saudou os protagonistas, que não são actores profissionais. Alejandro Loayza disse que, antes de chegar à Bolívia, o filme já tinha participado em 60 festivais, tendo recebido 29 prémios, algo que o faz sentir-se muito orgulhoso, na medida em que este projecto, produzido em conjunto com o seu pai, o também cineasta Marcos Loayza, e com o seu irmão Santiago, conseguiu levar ao mundo uma história boliviana que chama a atenção. «O filme vai estrear em salas nuns 18 países e já está em França, Grã-Bretanha, Alemanha, Estados Unidos, Itália, países da ex-Jugoslávia, Roménia, República Checa, e no nosso continente será exibido proximamente no Uruguai, além da Bolívia», disse. O também fotógrafo, cineasta de formação autodidacta – pela influência do pai, por muitas leituras e por muito ver cinema – explicou à Prensa Latina que a ideia do filme lhe surgiu a partir de um grande percurso pela sua terra. «Fizemos uma série de viagens por todo o país com o documentário Planeta Bolivia, vimos diferentes realidades e latitudes, e foi assim que nasceu a vontade de contar a história de um amor único e enorme», disse. O realizador definiu a sua primeira longa-metragem como «uma janela para conhecer a Bolívia», e explicou que Utama significa «nossa casa» em língua aymara. Rodada em 2019 em Potosí (Sudoeste da Bolívia), a obra narra a vida de um casal de idosos na região do Altiplano, onde são confrontados com uma grave seca e com o dilema de migrar, como o resto da comunidade, ou ficar e sobreviver. Com realização independente, o filme contou com fundos promocionais da Bolívia, do Uruguai e de Espanha. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. «Vamos mostrar muito da realidade latino-americana e caribenha no grande ecrã», disse Besú Bayo, acrescentando que se trata de um evento mais pequeno no que respeita ao número de propostas seleccionadas e ao número de salas em que os filmes são exibidos (quatro: Charles Chaplin, Yara, 23 y 12, e Acapulco). O programa inclui um evento teórico como tributo ao realizador cubano Nicolás Guillén Landrián, uma mostra de Clássicos Restaurados, uma exposição de 30 cartazes de artistas provenientes de 11 países e lançamentos editoriais a cargo do Instituto Cubano da Arte e Indústria Cinematográficas (Icaic). Uma das novidades da 43.ª edição do Festival de Cinema de Havana será a atribuição, por um júri independente, do Prémio Arrecife, destinado à melhor obra latino-americana de temática queer. Fundado a 3 de Dezembro de 1979 pelo cineasta cubano Alfredo Guevara, o certame atribui como máxima distinção o Grande Prémio Coral, que simboliza os vastos recifes do Mar das Caraíbas. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Cultura|
Festival de Cinema de Havana começou «a lo grande»
Realidades do continente em destaque
Cultura|
O multipremiado «Utama» é uma «janela para conhecer a Bolívia»
Uma história no Altiplano
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Com o filme El gran movimiento, o realizador boliviano Kiro Russo foi o grande vencedor do 43.º Festival Internacional do Novo Cinema Latino-americano, tendo recebido o Coral para o melhor filme de longa-metragem de ficção, bem como os prémios para a melhor realização, som e edição nessa categoria.
Outra das grandes premiadas do certame foi a obra cinematográfica Argentina, 1985, de Santiago Mitre, cuja história sobre os julgamentos posteriores à ditadura (1976-1983) valeu um Coral ao actor Ricardo Darín, no papel de advogado Julio Strassera. O filme foi ainda premiado em Havana pela direcção artística e pelo guião, indica a Prensa Latina.
O Brasil foi outro dos países que se destacaram, demonstrado a sua solidez no panorama da sétima arte latino-americana ao obter prémios em várias categorias a concurso.
Regra 34, de Júlia Murat, recebeu o Coral especial do júri para longa-metragem de ficção; Mato Seco em Chamas, de Joana Pimenta e Adirley Queirós, foi distinguido com os corais para melhor fotografia e melhor música original; Chão de fábrica, de Nina Kopko, recebeu o Coral de melhor curta-metragem; enquanto Bob cuspe – Nós não gostamos de gente, de César Cabral, foi eleito como o melhor filme de animação.
Os júris de um dos mais prestigiados festivais de cinema da América Latina receberam mais de 2000 filmes, representando todos os países do continente, em especial da Argentina, do México e do Brasil, dos quais fizeram uma selecção para integrar a mostra «América Latina em Perspectiva» e a secção «Apresentações Especiais».
O programa incluiu também um evento teórico como tributo ao realizador cubano Nicolás Guillén Landrián, uma mostra de Clássicos Restaurados, uma exposição de 30 cartazes de artistas provenientes de 11 países e lançamentos editoriais a cargo do Instituto Cubano da Arte e Indústria Cinematográficas (Icaic).
Fundado a 3 de Dezembro de 1979 pelo cineasta cubano Alfredo Guevara, o certame atribui como máxima distinção o Grande Prémio Coral, que simboliza os vastos recifes do Mar das Caraíbas.
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