Só em Paris manifestaram-se 700 mil pessoas, de acordo com a Confederação Geral do Trabalho (CGT), que nunca tinha avançado com um número tão elevado de manifestantes na capital – a contagem mais alta do sindicato dizia respeito à mobilização de 19 de Janeiro, com 500 mil pessoas nas ruas.
Depois das jornadas de mobilização de 19 e 31 de Janeiro e de 7, 11 e 16 de Fevereiro contra a reforma das pensões de Macron e Borne, a aposta do movimento sindical unitário passava por aumentar a pressão e paralisar o país numa jornada de greve geral que, em diversos sectores, vai continuar (nomeadamente na ferrovia e na energia).
Ao aumento da idade legal da reforma dos 62 para os 64 anos, à eliminação dos regimes especiais e ao aumento do período de cotização, os sindicatos responderam com aquilo a que chamaram o «endurecimento da luta», afirmando que não aceitam o «roubo de dois anos de vida» e uma reforma que vai no caminho oposto ao da igualdade e penaliza bastante as mulheres, que já recebem pensões 40% inferiores às dos homens.
As empresas de transportes SCNF e RAPT deram contam de «fortes perturbações» nos serviços, que também se fizeram sentir no Metro e nos comboios suburbanos parisienses. Educação, energia, distribuição de combustível e recolha de lixo foram áreas onde também teve impacto a greve geral em França, que, segundo referiu o secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, só se manteve porque o governo teima em ignorar a rejeição do projecto.
«Ninguém pode dizer que a paralisação não foi evitada, porque nós avisámos que a íamos fazer caso o executivo continuasse a não ouvir as reivindicações dos sindicatos», disse Martinez à Franceinfo no âmbito da greve geral.
Por seu lado, Laurent Berger, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), mostrou-se confiante em que a jornada de mobilização fosse «imensa», sublinhando que não pode haver reforma das pensões sem o apoio dos trabalhadores.
Estavam previstas entre 250 e 300 manifestações em todo o país contra o projecto que está a ser estudado actualmente no Senado e que o ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, esta tarde voltou a defender na Assembleia Nacional.
A manifestação em Paris foi gigantesca, mas outras houve com grande dimensão, nomeadamente em Marselha, onde, de acordo com os sindicatos, se mobilizaram 245 mil pessoas. Em Toulouse, foram 120 mil, em Bordéus e Lille, 100 mil.
Outras grandes manifestações tiveram lugar em Nantes (75 mil pessoas), Grenoble (53 mil), Saint-Étienne e Lyon (50 mil), Le Havre (45 mil), Rennes (40 mil), Orléans (37 mil), Clermont-Ferrand e Caen (33 mil), Brest, Perpignan e Nice (30 mil) ou Lorient (25 mil).
Trabalhadores alertam para penosidade e riscos de prolongar o tempo de trabalho
Em Saint-Brieuc, na Bretanha, manifestaram-se cerca de 20 mil pessoas. Duas delas, Patrick Evain, de 57 anos, e Didier Delourme, de 55, trabalham numa fábrica em Kermené, filial agroalimentar do grupo Leclerc, e são sindicalizados na CGT.
Ao Le Monde, disseram: «Se o governo quer falar sobre dificuldades no trabalho, que venha aos nossos matadouros.» E falaram dos turnos às 4h da manhã, dos intervalos diários de 20 minutos, dos movimentos repetitivos que provocam problemas musculoesqueléticos, do barulho… «Aos 50 anos, o corpo está moído. Os trabalhadores do agroalimentar não podem durar até aos 64 anos», frisaram.
Em Paris, Samantha, uma maquinista de 38 anos da SNCF na Gare de Lyon, tem horários escalonados, e o nível de concentração que lhe é exigido desgasta a sua saúde. Ao Libération disse: «Uma estupidez da nossa parte pode custar a vida a milhares de pessoas», referindo-se ao acidente mortal ocorrido na Grécia.
Por isso, preocupa-se. De três em três anos, tem de fazer um exame médico exaustivo (electrocardiograma, teste de urina, da visão, etc.). Se não passar, o trabalho de maquinista acaba. E os bónus acabam. «Perderia metade do meu salário», diz. Se agora passa no «limite-limite», como vai ser com mais de 60 anos, pondera.
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