Nos dias 1,2 e 3 de setembro, voltamos a poder assistir a mais uma edição da Bienal de Artes Plásticas da Festa do «Avante!», na Quinta da Atalaia1, Seixal. No concurso da Bienal do Avante de 2023, a sua 23.ª edição, participaram 160 concorrentes, muitos deles participando pela primeira vez, e destes o júri selecionou obras de 50 artistas. Sobre a seleção do júri sente-se ter havido uma preocupação com a «diversidade de linguagens e áreas artísticas», apresentando-se colagens, desenho, escultura, fotografia, gravura, instalação, pintura, vídeo e técnicas mistas, segundo o texto do catálogo.
Além das obras selecionadas no concurso será também apresentado, no espaço da bienal, um projeto do artista Sérgio Teixeira, que envolve trabalhos em fotografia, vídeo e instalação. Segundo o texto do artista, o projeto apresentado «… assume-se como uma sátira social, refletindo na forma como a própria sociedade é criada, manipulada, manietada, sustentada e destruída pelos interesses de organismos "parasitários".»
A Bienal do Avante, uma vez mais, apresenta características diferentes de outras bienais que se realizam em Portugal, se por um lado muitos dos artistas demonstram a preocupação em aproximar a arte à vida, assinalando que, nesta bienal, algumas das obras selecionadas apresentam temáticas que assumem reflexões sobre a atualidade, como a liberdade, a utopia, a violação, a pedofilia, a sátira social, a degradação de valores e a afirmação de universos privados ou referentes a acontecimentos como a Revolução de Abril e o 1.º de Maio, entre muitas outras, também assinalamos que a Bienal do Avante sempre atraiu públicos diversos e oriundos de todo o país, sendo que uma parte significativa dos seus visitantes não são frequentadores assíduos de museus ou galerias.
Segundo dados registados das várias bienais, nesta edição, o concurso foi o mais participado de sempre, demonstrando que a Bienal do Avante continua a ser um espaço cultural privilegiado para se poder ter uma experiência única, que se traduz num derrubar de barreiras e ao mesmo tempo ser um encontro especial entre artistas e público. Este derrubar de barreiras que a arte sempre propõe, como potência criadora, vai de encontro à proposta da necessidade de formação de um «corpo colectivo comum» proposto por Suely Rolnik2, como resistência e oposição aos regimes de apropriação «da subjetividade do desejo, do pensamento e da relação com o outro»3 na sua versão contemporânea. Regimes de apropriação que se afirmam e têm vindo a ser impostos, através de algumas narrativas de poder hegemónicas e restritivas. Como já tem sido afirmado por diversos críticos e curadores da arte é necessário envolver todos os que intervêm no meio artístico, num coletivo de resistência, permitindo a «reapropriação da potência vital de criação»4 e a germinação de outros mundos.
A Galeria Municipal do Porto5 apresenta uma exposição resultante da terceira edição do «Prémio Paulo Cunha e Silva», que pode ser visitada até 27 de agosto. Tal como já divulgámos no AbrilAbril, em 2020, por altura da sua 2.ª edição, este Prémio foi criado em 2015, pela Câmara Municipal do Porto, como homenagem ao antigo vereador da cultura Paulo Cunha e Silva, direcionando-se a artistas com menos de 40 anos.
O Prémio Paulo Cunha e Silva apresenta nesta edição um novo formato, foram convidadas três pessoas com um percurso reconhecido na Arte Contemporânea, a artista Ângela Ferreira, Hicham Khalidi, diretor da Jan van Eyck Academie, e a programadora cultural Tabitha Thorlu-Bandura, que ficaram encarregues da nomeação de nove artistas para integrar uma exposição coletiva, de onde serão escolhidos os três artistas vencedores. Euridice Zaituna Kala (Moçambique), Eve Stainton (Reino Unido), Hira Nabi (Paquistão), Kent Chan (Singapura), Luis M. S. Santos (Moçambique), Malik Nashad Sharpe (Marikiscrycrycry) (EUA), Maren Karlson (Alemanha), Marilú Mapengo Námoda (Moçambique) e Rouzbeh Akhbari (Irão), são os artistas nomeados para esta exposição, sendo provenientes de diferentes geografias culturais e com práticas artísticas bastante distintas, cujas obras, na opinião dos nomeadores, articulam o momento atual e o que está por vir.
O prémio consiste na atribuição de três residências artísticas em espaços internacionais de referência: o Arquipélago Centro de Artes, na ilha açoriana de S. Miguel, o Cove Park, na costa oeste da Escócia, e o Pivô Arte e Pesquisa, em São Paulo, no Brasil.
A Galeria Zé dos Bois6, em Lisboa, apresenta a exposição «La Révolution R.S.V.P.» de Pablo Echaurren, até 9 de setembro. Com curadoria de Sara de Chiara e Natxo Checa, é a primeira vez que este artista apresenta uma exposição individual em Lisboa, integrando uma vasta selecção de trabalhos sobre papel – desenhos, colagens, fanzines, pinturas, assemblages e dioramas.
Esta exposição tem «como objetivo dar a conhecer a prática multifacetada do artista, especialmente a relacionada com os movimentos de contracultura em Itália nos anos 70…», segundo o texto apresentado. Em 1977, Echaurren participou na criação do Oask?!, o primeiro fanzine dos «Índios Metropolitanos», entre muitos outros fanzines relacionados com o «Movimento de 1977» em Itália. Colaborou, como artista e escritor, nas revistas Linus, Frigidaire, Tango, Comic Art, Alter Alter, Zut e Carta, em diversos jornais como Lotta Continua sendo também autor de inúmeros cartazes, capas de livros, ensaios, panfletos polémicos e romances gráficos.
A exposição «La Révolution R.S.V.P.» destaca «o processo específico e intrigante» do artista «se inspirar na alta cultura oficial e de a traduzir para uma linguagem quotidiana, distorcendo-a de forma provocadora e escandalosa, através de um uso sofisticado do paradoxo e do humor», acrescentando ainda o texto que «ultrapassa a década de 1970 de modo a contar o complexo percurso artístico de Pablo Echaurren, desde os seus inícios, em 1969-70, com desenhos a tinta da china que emulavam a linguagem miniatural de Baruchello, até às suas mais recentes assemblages inspiradas nas novas descobertas sobre os Neandertais, passando por telas, colagens e papéis pintados datados entre 1980 e 2000.»
Refere-se ainda no texto apresentado, que o convite do título, La Révolution R.S.V.P., «dirigido a todos nós…é um convite a pensar contra a corrente, fora da caixa e a aguçar o espírito crítico».
Na Galeria Municipal do 117, em Setúbal, apresenta-se a exposição «Do Micro Ao Macro. Do Macro Ao Micro», até 16 de setembro de 2023. Esta exposição coletiva de arte contemporânea sobre os conceitos do «Micro» e do «Macro», integra obras de 13 artistas plásticos, Alexina, Ana Isa Férias, Ângela Miranda de Penedo, António Galrinho, Dália Vale Rêgo, Eduardo Carqueijeiro, Eurico Coelho, Pedro Castanheira, Ricardo Crista, Rita Cascais, Rita Melo, Teresa Melo e Zévi.
Francisco Ribeiro. o curador da exposição, escreveu que «(…) Enquanto seres vivos, podemo-nos também pensar como um universo dentro do universo. A complexidade do nosso corpo ao nível microscópico não se resume aos genes, às biomoléculas, às células. Somos hospedeiros de muitas espécies, microrganismos que formam uma unidade connosco e contribuem para aquilo que somos. Ou seja, somos entidades coletivas. Entretanto, já noutra realidade, noutra escala (desta vez totalmente apreendida pelos nossos sentidos), o engenho, a produção, a criatividade, a marca humana sobre a terra abrange, igualmente, para o bem e para o mal, em equilíbrio ou desequilíbrio, os conceitos de micro e de macro.
Também na Filosofia e na Sociologia, as noções de micro e de macro tornaram-se imprescindíveis para a compreensão dos fenómenos civilizacionais, sociais e culturais. Existem, assim, muitos caminhos, muitas interrogações, muitos arrebatamentos e reflexões passíveis. Convidámos diversos artistas a expressar e partilhar as suas.»
- 1. Bienal do Avante - Quinta da Atalaia, Avenida Baía Natural do Seixal 2845-415 Amora-Seixal. Horário: Sexta-feira 19:00 - 1:30, Sábado 10:00 - 1:30 e Domingo 10:00 - 23:00.
- 2. Suely Rolnik (São Paulo, 16 de junho de 1948) é uma filósofa, escritora, psicanalista, curadora, crítica de arte e da cultura e professora universitária.
- 3. Suely Rolnik, Esferas da Insurreição, edição Teatro Praga/Sistema Solar, Lisboa, 2020.
- 4. Ibidem
- 5. Galeria Municipal do Porto Rua D. Manuel II Jardins do Palácio de Cristal 4050-346 Porto. Horário: Terça a Domingo 10h00-18h00.
- 6. Galeria Zé Dos Bois, Rua da Barroca n.º 59 1200-047 Lisboa. Horário: Segunda a sábado, das 18h00 às 22h00.
- 7. Galeria Municipal do 11 - Av. Luísa Todi 5, 2900-461 Setúbal. Horário: Terça a sexta, das 11h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00 e Sábado, das 14h00 às 18h00.
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