Desde o passado dia 20, a Avenida Luísa Todi acolhe uma exposição, organizada pela Câmara Municipal de Setúbal, em homenagem às mulheres setubalenses resistentes à ditadura salazarista.
Desta forma, o município presta tributo a cerca de duas dezenas de mulheres, «colocando-as no epicentro da história da oposição ao regime ditatorial».
O historiador e investigador Diogo Ferreira apresentou a mostra, que resultou da consulta de vários processos individuais do fundo da PIDE no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, da leitura de obras do professor Albérico Afonso e da realização de cerca de uma dezena de entrevistas, revela o município no seu portal.
Mulheres na Resistência à Ditadura em Setúbal possui uma extensão complementar no Museu do Trabalho Michel Giacometti, com um documentário produzido a partir das entrevistas realizadas, informa ainda a autarquia, frisando que, «apesar de centrada em histórias e testemunhos de vida de cerca de vinte mulheres, é dedicada a todas as setubalenses que, directa ou indirectamente, resistiram à ditadura em Setúbal, que foram presas pela PIDE/DGS ou que participaram na oposição clandestina no contexto local».
Uma obra para desvendar a miséria em que vivia um quarto da população antes do 25 de Abril
O livro Outro Mundo no Mesmo Lugar – A Cidade das Barracas, de Alberto Lopes, Jaime Pinho, Lia Antunes e Vanessa Iglésias Amorim, foi apresentado esta semana no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Setúbal.
Com 112 páginas, a obra mostra, por via de fotografias inéditas, entrevistas e pesquisa documental, o que era a cidade do Sado na madrugada de 25 de Abril de 1974. «Nesse dia as moradoras e moradores destes bairros de barracas, que cobriam grandes partes da cidade, iniciaram uma luta pelo direito mais básico que o fascismo negava violentamente: o direito à habitação», afirma Jaime Pinho, na nota de abertura do livro.
Presente na apresentação, a vice-presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Carla Guerreiro, destacou que o livro revela «o que foi a miséria, a pobreza, a desgraça em que milhares de pessoas viveram nos tempos da ditadura fascista e do salazarismo», numa «cidade em crescimento, mas em zonas que eram, então, absolutamente periféricas, quase como se não existissem».
A autarca disse que esses «eram os tempos da miséria de não ter casa digna, da pobreza de quase não ter o que comer, da desgraça de ser condenado a viver excluído nas margens mais distantes da cidade e da sociedade», notando que em 1970 «mais de 11 mil pessoas» viviam nos 22 bairros da lata, os chamados «bairros da folha de Setúbal» ou «bairros dos índios».
Neles, sublinhou, apesar das carências, «vivia gente digna», que «lutava diariamente para sobreviver» com «trabalhos mal pagos», muitos deles na indústria conserveira, e se levantava de madrugada para «acartar com baldes de água para encher os precários depósitos de tão precárias casas de lata e madeira».
Graças ao 25 de Abril de 1974, «muitos milhares de pessoas, por todo o País, mostraram o que podiam fazer com a sua vontade e as suas mãos» e, lembrou a autarca, os «índios setubalenses» fizeram «a revolução nas suas casas e nos seus bairros», revolucionando as suas vidas.
«O fascismo tornava a cidade sombria. As fotos mostram a cidade marcada pela pobreza e pela miséria, para não nos esquecermos», disse, recordando que nos bairros SAAL – Serviço Ambulatório de Apoio Local, criados após a revolução, «as pessoas quiseram ficar no mesmo lugar» onde viviam, «quiseram um outro mundo no mesmo lugar».
As fotografias e o relatório que estão na base do livro encontram-se disponíveis no portal do Arquivo Municipal, podendo as fotografias ser vistas aqui.
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