O relatório Perspetivas Sociais e de Emprego no Mundo desenvolvido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) acaba de ganhar uma actualização. O complemento de Setembro traz novas perspectivas sobre as variações nos rendimentos dos trabalhadores a nível mundial.
A OIT, como uma agência sob a tutela da Organização das Nações Unidas (ONU), utiliza os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável – que integram a Agenda 2030 da ONU – como parâmetros nas análises das mudanças do mercado de trabalho. Entre os objectivos, os mais intimamente relacionados com o trabalho são: «Erradicação da pobreza», «Igualdade de gênero», «Trabalho decente e crescimento económico», «Indústria, inovação e infraestrutura» e «Redução das desigualdades», entretanto todos os 17 objectivos podem relacionar-se com o universo do trabalho.
Entre 2019 e 2022, o estudo revela que houve uma queda de 0,6 pontos percentuais dos rendimentos a nível mundial, tendência decrescente que tem a crise da Covid-19 como um dos principais motores – cerca de 40% da redução ocorreu durante os dois primeiros anos de pandemia. Passado esse momento de descida o que se seguiu foi uma estagnação – que ainda é sentida. Os salários dos trabalhadores não aumentam e se pelo menos voltassem para os números de 2004, significaria mais 2,4 mil milhões de dólares para os trabalhadores só em 2024. Significa isto que há 20 anos se ganhava mais do que hoje.
A crise sanitária também reforçou outras tendências, como o agravamento da desigualdade nos rendimentos de capital. O maior retorno de capitais é sempre nos meios mais ricos, gerando um sistema vicioso e aumentando o abismo económico entre classes. A OIT admite que neste caminho, a resolução do objectivo da «Redução das desigualdade» está comprometida.
Além das desigualdades entre salários e capitais, o relatório também aborda as diferenças nos rendimentos entre homens e mulheres – mais amplamente tratadas no Relatório Global sobre Salários de 2024/25. Nos últimos 21 anos a equidade de ganhos entre géneros teve uma melhoria muito ligeira, quase residual, indo de uma razão de 46,8% em 2005 para 51,8% em 2024, o que significa que hoje, por cada dólar que um homem ganha, uma mulher ganha aproximadamente 52 cêntimos. Entretanto, o estudo salienta que este aumento global também é mascarado por diferenças regionais. Há diferenças significativas dependendo da região no mundo que é aferida.
O emprego jovem é outro ponto referido no estudo, com destaque para a elevada taxa dos chamados NEET, sigla em inglês para indicar aqueles que não estão no mercado de trabalho, mas também não estão a estudar ou a realizar qualquer tipo de formação. A preocupação sobre a taxa de 20,4% dos jovens, também se deve às projecções futuras que indicam uma estabilização dos valores e não uma queda para os próximos dois anos. Somado a isto, dentro da média global, os valores das mulheres jovens nessa situação são ainda mais graves, tendo sido registado, em 2024, mais do que o dobro dos casos dos homens – comprometendo o objetivo da «Igualdade de gênero».
Contudo, um dos pontos de maior interesse no relatório da OIT está na análise sobre a influência das tecnologias orientadas para a automatização no mercado de trabalho. O relatório relaciona a queda dos rendimentos dos trabalhadores aos avanços tecnológicos dos últimos anos. A produtividade e os resultados possíveis com as inovações tecnológicas não significaram a partilha equitativa dos valores gerados. Esta inclinação, observada nos últimos anos, não deve ser tomada como fatalidade diz a OIT. Celeste Drake, directora- geral adjunta da OIT, sugere que para que os benefícios tecnológicos possam ser partilhados por todos, a sua implementação deve ser acompanhada de políticas públicas abrangentes que contrariem a redução dos rendimentos e que apoiem a liberdade de associação e a negociação colectiva.
Faltam apenas seis anos para a chegada da data onde os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável já deveriam ser uma realidade – de acordo com o esperado pela ONU– no entanto o que se vê e lê no próprio relatório é que a realização deles está «cada vez mais fora de alcance».
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