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Enfermeira acusa Rui Rocha de «não saber nada do que era a PPP de Braga»

Paulo Raimundo já tinha denunciado a falácia da IL: em 2024, «a gestão pública [Hospital de Braga] fez praticamente o dobro das cirurgias» que as PPP. Agora, enfermeira da instituição desmente afirmações de Rui Rocha.

Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal 
CréditosPaulo Cunha / Agência Lusa

A posição da Iniciativa Liberal (IL), veiculada pelo seu presidente, Rui Rocha, não se alterou desde as últimas eleições legislativas, em 2024. Há pouco mais de um ano, numa acção de campanha em Braga (distrito pelo qual volta a ser cabeça de lista), Rocha lamentou que a esquerda não tenha descansado «enquanto não reverteu a PPP» (parceria público-privada) do Hospital de Braga: «As consequências são evidentes: o serviço piorou, os utentes estão pior, é esta a consequência clara da região por decisões tomadas por mero e exclusivo interesse ideológico».

A falácia desta situação já tinha sido exposta por Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, durante o debate da IL com a CDU da semana passada, na SIC Notícias. Em 2024, «a gestão pública [do Hospital de Braga] fez praticamente o dobro das cirurgias» do que era normal na PPP (o aumento, embora substancial, é de 42%). Nada disto é novo. Uma auditoria do Tribunal de Contas realizada em 2016 apontava já as várias fragilidades da parceria público-privada: a gestão do Grupo José Mello Saúde não dava resposta «às necessidades efectivas da população», destacando-se o aumento das listas de espera e dos tempos de espera para consultas e cirurgias em relação à gestão pública.

Dois dias depois do debate, uma enfermeira que exerceu funções ao longo dos 10 anos da PPP (2009 a 2019), publicou uma carta aberta a denunciar o total desconhecimento do líder da Iniciativa Liberal sobre o Hospital de Braga, com a agravante de estarmos perante um cabeça de lista pelo distrito

«Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, não sabe nada do que era a PPP em Braga», afirma a enfermeira Gorete Pimentel, que acusa ainda o líder da IL de ter um discurso «decorado» transmitido por aqueles que lucraram, e muito, com a privatização desta unidade hospitalar.

A «primeira medida» da gestão privada do Grupo José Mello Saúde para com os trabalhadores do Hospital de Braga, «foi retirar o lanche noturno, que consistia num bolo, num café instantâneo,  iogurte, pão e uma peça de fruta»

Eram «mais de 12 horas a trabalhar sem ter uma cantina aberta» refere a enfermeira. Na PPP «passávamos fome, caso não conseguíssemos levar alguma coisa para comer de casa». «Na PPP, houve períodos em que me proibiram de usar [almofadas de maternidade de] celulose grandes nas mulheres em trabalho de parto». O objectivo era sempre o mesmo: «para conter gastos, só estavam disponíveis celuloses pequenas, e só as podia substituir quando estivessem "cheias"».

Na PPP, foram tranferidos «muitos doentes com casos mais demorados no tratamento, para não haver um aumento dos gastos e ferir as metas» da parceria público-privada. Faltava material na PPP, «chegámos a não ter fitas métricas para medir o perímetro cefálico dos recém nascidos», denuncia Gorete Pimentel, ressalvando que «nunca tivemos o mesmo número de trabalhadores por turno como agora», na gestão pública, para tratar dos doentes.

Em obstetrícia, na PPP, «eram 2 enfermeiros para 8 salas de partos e um enfermeiro para a urgência», durante o turno nocturno. Hoje, num Hospital de Braga público, «são 3 enfermeiros para 8 salas de partos, 1 para a urgência e um para a sala cirúrgica». Dos 3 médicos por turno no bloco de partos da gestão privada, «agora são 5 médicos» nesse turno. «No internamento, éramos menos de 3 enfermeiros por dia».

Na PPP de Braga, os salários dos enfermeiros com contrato de trabalho «eram os mais baixos do país, compensados com um subsídio de assiduidade de cerca de 150 euros».

«É melhor que o senhor Rui Rocha, que é de Braga, não minta»: os enfermeiros não se esquecem do que passaram, «de quão mal foram tratados» durante a década de gestão privada.

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