Sem rodeios, o programa eleitoral dos liberais liderados por Rui Rocha é um «programa de privatizações e redução empresarial do Estado», com o argumento de assim «reduzir a despesa pública», «aumentar a eficiência económica e melhorar os serviços públicos ao cidadão com gestão privada», como se a receita das empresas que quer alienar não fosse o garante dos serviços públicos que a população reclama.
Depois de o País ter aberto mão de empresas estratégicas para a soberania e o desenvolvimento nacionais, e altamente lucrativas, como a EDP ou a ANA, a IL propõe agora entregar aos privados a companhia aérea nacional, que em 2023, com controlo 100% público, alcançou o seu melhor resultado até então – 177 milhões de euros, e a Caixa Geral de Depósitos, que no ano passado, ajudada por uma actuação que ombreia com a banca privada, alcançou o maior lucro de sempre (1735 milhões de euros). No pacote de empresas públicas que a Iniciativa Liberal quer alienar está igualmente a RTP, onde a RTP2 se destaca pelo serviço diferenciado e de qualidade que presta aos cidadãos.
Apesar disto, a IL alega que estas empresas «têm representado, historicamente, grandes encargos injustificáveis para os contribuintes e perpetuam um modelo de gestão ineficiente e politizado».
Mas a sede dos liberais em cortar nos serviços públicos não fica por aqui. O partido propõe também «a concessão ou privatização de serviços públicos de transporte de passageiro, incluindo a CP – Comboios de Portugal e a Transtejo/Softlusa», com o argumento de assim garantir «maior concorrência, melhor qualidade de serviço e redução de encargos para o Estado». Quando se sabe, e os utentes da Transtejo/Soflusa têm estado nas ruas a denunciá-lo, que o problema passa pelo investimento insuficiente, traduzido na falta de barcos e de pessoal, com os trabalhadores a reivindicar melhores salários.
Do programa dos liberais em nome da «redução empresarial do Estado» faz também parte a alienação dos 25% do capital do Estado no Novo Banco (que em 2024 também viu os seus lucros aumentar para 744,6 milhões de euros), não obstante a resolução do (privado) BES de Ricardo Salgado já ter custado cerca de dez mil milhões de euros aos cofres do Estado.
O partido de Rui Rocha insiste na velha ideia da «reforma do sistema de pensões», alegando que o actual «é insustentável» e propondo a abertura aos privados. Apesar de aludir à «solidariedade intergeracional», conseguida através do modelo com que a IL quer acabar, propõe um sistema misto, com uma «pensão base pública», assegurada por todos, e complementada por um regime de capitalização voluntária, que arredaria os mais pobres.
E pobres foi o que as políticas neoliberais de Javier Milei, até agora modelo para os liberais da IL, mais conseguiram criar – mais cinco milhões no primeiro ano de presidência. Talvez por isso, no debate desta quinta-feira, na RTP, Rui Rocha se tenha recusado a admitir os «pontos de contacto» com o presidente da Argentina. O presidente da IL escudou-se no argumento de que a sua visão ideológica é a do «liberalismo europeu» e que a Argentina, onde milhares têm saído às ruas por sentirem que as políticas neoliberais hipotecam o seu futuro e o das gerações vindouras, «está lá do outro lado do mar».
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