|FRANCISCO PALMA

Tudo respirava desejo de liberdade e de mudança

Exposição «Bonecos para o povo» de João Abel Manta, Lisboa; exposição de fotografia «Abril de 1975» de Erik Van de Belt, Braga; Bienal Internacional de Arte de Gaia e Bienal da Festa do «Avante!».

Exposição «Bonecos para o povo: João Abel Manta, artista revolucionário» de João Abel Manta, na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, até 31 de maio de 2025
Créditos / João Abel Manta

Na Sociedade Nacional de Belas Artes1, Galeria Pintor Fernando de Azevedo, em Lisboa, poderá ainda visitar a exposição «“Bonecos para o povo”: João Abel Manta, artista revolucionário» de João Abel Manta, inaugura a 24 de abril, pelas 18h30, e decorre até 31 de maio de 2025.

A exposição «Bonecos para o povo», que agora podemos ver na SNBA, é comissariada por Pedro Piedade Marques, e baseada parcialmente em duas grandes exposições realizadas em 2024, «Uma coisa nunca vista» no Museu Abel Manta de Gouveia e «João Abel Manta livre» no Palácio Anjos de Algés, apresentando peças do Museu de Lisboa e do Museu Abel Manta de Gouveia e também são exibidas peças das coleções particulares dos herdeiros do general Vasco Gonçalves e dos herdeiros do colecionador Manuel de Brito.

«Cinquenta anos após a Revolução de Abril, e pela primeira vez em Lisboa, esta exposição permite o contacto com a mais vasta amostra de material relacionado com o trabalho gráfico revolucionário de João Abel Manta (nascido em 1928, em Lisboa). Não se limitando ao período de 1974-75, ela mostra peças da década de 1940 à de 1990, provando que o artista foi revolucionário muito antes da revolução, e que continuou a gerir a memória desta muito depois do seu termo», segundo texto de Pedro Piedade Marques.

Pedro Marques revela-nos também que, nesta exposição, «podem ver-se reunidos pela primeira vez não apenas todos os esboços para algumas das mais marcantes imagens da revolução portuguesa de 1974-75, como desenhos da sua fase de arranque, que coincidiu com o fim da adolescência e o início da idade adulta, e que incluem os que realizou na Prisão de Caxias, em 1948. Encontram-se também exemplos da sua revolucionária contribuição para a imprensa sob a censura de Marcello Caetano (1969-1973, incluindo, pela primeira vez numa exposição do artista, dois originais da série "Reportagem fotográfica" de 1972, entre os quais o "Festival" que levou João Abel Manta à barra do tribunal em 1973) e durante o PREC. A tudo isto se acrescenta um precioso conjunto de documentos provindos do arquivo do artista (originais, fotografias, cartas, recortes de imprensa).»

A Livraria Centésima Página2, em Braga, apresenta a Exposição de Fotografia «Abril de 1975: Primeiras Eleições Livres Pós-Revolução» de Erik Van de Belt, inaugura a 24 de abril, pelas 18 horas, decorre entre 26 de abril e 31 de maio de 2025.

Exposição de Fotografia «Abril de 1975: Primeiras Eleições Livres Pós-Revolução», de Erik Van de Belt, na Livraria Centésima Página, em Braga, até 31 de maio de 2025 Créditos

Erik estudou Fotografia e Cinema na Academia St. Joost, em Breda, nos Países Baixos. «Durante todo o ano após a Revolução dos Cravos de 25 de abril de 1974, houve muita atenção na Rádio Vara para as eleições livres prometidas para o ano seguinte. Isso chamou-me a atenção. Fiquei curioso. E em vez de um estágio num estúdio fotográfico, foi-me permitido ir a Portugal durante três meses para fazer uma reportagem fotográfica sobre as eleições.», escreveu o fotógrafo holandês Erik Van de Belt no testemunho que enviou para a Livraria Centésima Página.

Foi assim que Erik criou um enorme interesse e expectativa e resolveu partir para o nosso país, recordando que «na verdade, fui para lá completamente despreparado … não falava a língua, não tinha feito qualquer pesquisa e não tinha um passe de imprensa. Tudo o que sabia era que Portugal tinha sido, durante muito tempo, governado por um regime ditatorial e que estava a travar uma guerra colonial sangrenta em África, nomeadamente na Guiné-Bissau.»

Já em Portugal, depois de ter viajado à boleia, visitou Lisboa, Coimbra, Porto, Chaves, Évora e o Alentejo, assistiu a «comícios eleitorais dos partidos políticos, manifestações. Tudo respirava desejo de liberdade e de mudança…», recordando que «tinha liberdade para fotografar em todo o lado, ninguém me questionava nada».

Quando chegou aos Países Baixos, revelou os filmes, e fez uma seleção de 90 fotografias, que nunca viriam a ser publicadas, e como referiu Erik no testemunho que enviou, «o plano agora é reproduzir as páginas, na íntegra, em alta resolução para que sejam preservadas e mais fáceis de compartilhar.»

No dia da inauguração da exposição das fotografias e apresentação dos vídeos do fotógrafo holandês, haverá também a presença de Erik Van de Belt e do fotógrafo Alfredo Cunha, autor do livro «25 de Abril de 1974 — Quinta-Feira».

Esta exposição é organizada em parceria com a Comissão de Homenagem aos Democratas de Braga, que tem como intenção homenagear os protagonistas do 25 de Abril no distrito de Braga que se destacaram na luta contra a ditadura e pela liberdade. «Esta homenagem pretende que não caiam no esquecimento aqueles que estiveram na frente desta grande batalha de resistência ao fascismo», sublinhou Paulo Sousa, dirigente da Comissão.

A 6.ª edição da Bienal Internacional de Arte de Gaia está a decorrer desde 5 de abril e pode ser visitada até 12 de julho na Quinta da Fiação de Lever3.

Obra de Jaime Silva. 6.ª edição da Bienal Internacional de Arte de Gaia, na Quinta da Fiação de Lever, até 12 de julho Créditos

A Bienal de Gaia é organizada pela «Artistas de Gaia – Cooperativa Cultural», fundada em 1985, que desde então tem vindo a desenvolver diversas atividades artísticas como exposições, debates, concursos e homenagens a grandes vultos das artes plásticas. Nesta edição da Bienal são apresentadas 55 exposições, onde participam 350 artistas.

Lagoa Henriques é o artista homenageado nesta edição, com uma exposição com dezenas de desenhos e esculturas. Quanto às exposições apresentadas, destacamos a coletiva «A Comemoração dos 50 anos de Abril de 1974 vai às Escolas», que vai contar com trabalhos de vários alunos e a exposição coletiva de 40 cartoonistas de vários países no âmbito do Porto Cartoon – World Festival «Um Hino à Liberdade». Tem também destaque nesta Bienal, a apresentação da exposição coletiva, «Livros de Artistas», onde também participam os escritores Valter Hugo Mãe, Rui da Graça, Nazaré Álvares, Celeste Ferreira e Miguel Carvalho, a exposição «Bandeiras pela Paz», organizada pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação, tendo Ilda de Figueiredo como curadora. 

Quanto às 11 exposições individuais, salientamos «Revisitações» de Jaime Silva, com curadoria de Inês Falcão, a exposição «Inquietações» de Gonçalo Alves, Rui Carvalho apresenta a exposição «Ativia 40», Rosa Godinho com «Entre-Linhas» e a exposição «Sem-abrigo», entre outras.

«Lançámos este concurso, concorreram cerca de 180 artistas, foram selecionados 80 e poucos, de várias nacionalidades. Portanto vêm pinturas de vários continentes e é, de facto, sinal de que a nossa arte, a arte da Bienal e a Bienal já chega aos mais diferentes locais do mundo e do universo e temos cada vez, edição a edição, estamos a contar com essa colaboração. E o grande objetivo é que a nossa internacionalização cada vez se solidifique, cada vez avance mais, para conseguirmos levar, além-fronteiras o nome da Bienal Internacional de Arte de Gaia», disse Agostinho Santos, o Diretor da Bienal, sobre os objetivos e os resultados do Concurso Internacional.

A Bienal de Artes Plásticas da Festa do «Avante!» vai voltar a realizar-se em 2025, todos os artistas interessados poderão concorrer à participação na exposição da sua 24.ª edição, que decorre no Espaço das Artes da Festa do «Avante!», nos dias 5, 6 e 7 de setembro de 2025 na Quinta da Atalaia, no Seixal.

Segundo o regulamento do concurso da Bienal do Avante, podem participar todos os artistas e é aberto a todas as linguagens artísticas consideradas hoje património da arte contemporânea, às diversas técnicas das artes plásticas, multimédia, performance e​instalação. O regulamento de participação e inscrição encontram-se disponíveis no site da Festa do Avante, podendo, no entanto, fazer a sua candidatura diretamente através do Formulário, até 31 de maio de 2025.

Inscrições no concurso da Bienal da Festa do «Avante!», até 31 de maio

Depois do enorme êxito da participação de cerca de 200 artistas no concurso na Bienal do Avante em 2013, este acontecimento artístico vai certamente voltar a caracterizar-se pela afirmação de novos valores emergentes e na confirmação de muitos artistas de destaque na arte nacional. A Bienal do Avante, como se tem referido nos diversos textos publicados nos catálogos de edições anteriores, pretende contribuir para a construção um povo cultural e politicamente emancipado, reforçando a ideia de se constituir como um espaço de abertura, de diversidade, de afirmação, de combate e de construção, através das diferentes linguagens e tendências artísticas, de democratização e pluralidade na experimentação das artes, da cultura e da vida, rejeitando as concessões elitistas da cultura e da arte.

  • 1. SNBA – Rua Barata Salgueiro, n.º36, 1250-044 Lisboa, Portugal. Horário: Dias úteis das 12h às 19h e sábados das 14h às 19h.
  • 2. Livraria Centésima Página - Av. Central 118-120 4710-229 Braga. Horário: Segunda a sábado, das 9h às 19h30.
  • 3. Quinta da Fiação de Lever (antiga Companhia de Fiação de Crestuma) – Rua das Hortas, 370 4415-655 Lever – Vila Nova de Gaia. Coordenadas GPS – 41.064783, -8.485807.

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