São call centers da EDP, mas na verdade os trabalhadores são contratados a uma empresa de trabalho temporário, a Randstad. Encontram-se em regime de prestação de serviços há mais de 25 anos sem que a EDP assuma qualquer responsabilidade social e laboral sobre eles. No entanto, os trabalhadores consideram que praticam actividades de primeira linha e imprescindíveis para que a EDP cumpra as suas obrigações legais de distribuidor e comercializador de energia, assegurando ainda actividades internas que garantem o funcionamento dos seus próprios serviços. Prestam actividade em instalações pertencentes à EDP, os equipamentos e instrumentos de trabalho são propriedade da EDP e o seu horário de trabalho é determinado pelas necessidades da EDP.
Foi denunciado nos plenários o assédio moral, com a informação de que muitos trabalhadores são acompanhados por psicólogos e psiquiatras e que se vêem forçados a colocar baixa médica ou a tomar calmantes antes de ir trabalhar.
Depois da realização de greves em 2016, com adesões quase totais, os trabalhadores de Lisboa voltam à carga, até porque não têm resposta da administração da Randstad ao caderno reivindicativo entregue pela comissão sindical, do Sindicato das Indústrias Eléctricas do Sul e Ilhas (SIESI). Assim, realizaram recentemente, nos dias 16 e 17 de Fevereiro, seis plenários, três no Lambert e três no Parque das Nações, apanhando o turno da manhã, tarde e noite.
Depois de anunciados os plenários, a Randstad, através das chefias, passou a mensagem para as equipas de que estes se iriam realizar, desta vez, na sede da Randstad, na Avenida da República, e não no local de trabalho como é habitual e garantido pela lei, sob o pretexto de que «lá têm mais condições». O sindicato considera que esta foi uma clara tentativa de desmobilização dos trabalhadores, pois assim teriam mais dificuldade em deslocar-se.
Contrariamente às intenções da Randstad, os plenários foram realizados nos locais de trabalho e amplamente participados pelos trabalhadores, oscilando entre os 100 e os 150 trabalhadores em cada um dos plenários da manhã e da tarde, e mais de 50 nos da noite, número mais reduzido de participação, também reflexo do número mais reduzido de trabalhadores naquele período. Registou-se, segundo o sindicato, uma crescente participação, envolvimento e discussão nos plenários, bem como a participação de muitos jovens pela primeira vez.
Baixos salários e bloqueio à contratação colectiva
Para além da precariedade existente, estes trabalhadores vivem com baixos salários, consequência da não aplicação da contratação colectiva – como a EDP recorre à prestação de serviços, consegue «fugir» à contratação colectiva, deixando de estar obrigada a praticar as tabelas salariais vigentes nos contratos colectivos, bem como a garantir aos seus trabalhadores vários direitos aqui salvaguardados.
Os salários não são revistos desde 2012 e a administração recusa-se a aumentar o salário em 30 euros mensais, limitando-se a aplicar um aumento de um euro por mês à grande parte dos trabalhadores que, apesar do seu elevado grau de qualificação académica e profissional, auferem o salário mínimo nacional, referiram os trabalhadores numa moção entregue na Assembleia da República aquando da greve realizada a 19 de Outubro.
Assédio moral e doenças profissionais
Foi denunciado nos plenários o assédio moral, com a informação de que muitos trabalhadores são acompanhados por psicólogos e psiquiatras e que se vêem forçados a colocar baixa médica ou a tomar calmantes antes de ir trabalhar. Há relatos de trabalhadores que têm ataques de pânico antes de entrarem nas instalações.
Informam que tal resulta da constante pressão para que trabalhem a «ritmos alucinantes», para que limitem as idas à casa de banho e o tempo em que comem durante os períodos das pausas, para que trabalhem mais horas, para que sejam mais produtivos.
As doenças profissionais também foram abordadas. Tendinites, problemas na garganta e na coluna, são temas recorrentes nas conversas entre colegas, resultantes da má ergonomia ali existente, nomeadamente com a ausência de tapetes de rato adequados e que permitam repousar o pulso.
Organização e acção
Os trabalhadores continuam com greve ao dia de Carnaval, retirado pela empresa depois da medida do governo do PSD e CDS-PP de retirar o feriado. Este foi reposto, mas neste local de trabalho isso não foi uma realidade.
Foi proposta uma acção convergente para o dia 28 de Março com o call center de Seia, onde esta discussão também está a ser feita, através da realização de uma acção conjunta, em Lisboa, com posterior participação na manifestação da juventude trabalhadora, marcada para este dia, até à Assembleia da República.
A proposta foi aprovada e votada por unanimidade em cinco plenários, registando-se no sexto uma abstenção. Segundo o SIESI, os plenários terminaram com a entrega de fichas de sindicalização preenchidas e com outros a levar a ficha e a perguntar onde ou a quem é que podem entregar «amanhã ou depois». Terminaram sempre «com uma mancha de gente a vir ter com os delegados e dirigentes presentes para esclarecer dúvidas resultantes da discussão, bem como para denunciar situações particulares e esclarecer algumas temáticas específicas».
Ali, o reconhecimento do trabalho feito pelo SIESI é grande, pelo que fez no passado e faz actualmente. Um trabalhador deu o exemplo da importância que teve o SIESI para que os trabalhadores não perdessem direitos aquando da passagem do projecto EDP da CRH para a TempoTeam/Randstad, em que se perspectivava a perda de vários direitos, como aconteceu em Seia – onde ainda hoje os salários são mais baixos.
Recorde-se que os trabalhadores do call center da EDP de Seia, contratados através da Manpower, fizeram no dia 13 de Fevereiro uma greve de 24 horas pelo aumento dos salários. A adesão à greve rondou os 90% e mais de uma centena de trabalhadores concentraram-se à porta da empresa.
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