O encenador e autor do texto, Ricardo Correia, explicou, em declarações à Agência Lusa, que o espectáculo vai abordar sobretudo testemunhos de emigrantes, desertores, refractários e exilados que saíram de Portugal entre 1961 e 1974.
«Este espectáculo é quase um filho de um espectáculo anterior, chamado O meu país é o que o mar não quer e que lidava com a emigração qualificada portuguesa, que saiu à conta da austeridade e da troika», acrescentou.
O trabalho anterior permitiu recolher um conjunto de testemunhos, alguns deles de pessoas com relevância em termos artísticos, tais como Rui Horta e Eugénia Vasques, que permitiram dar vida ao novo espectáculo.
«Podemos dizer que tem uma base documental, é um espectáculo que vai questionando e retratando toda essa geração que decidiu fazer um gesto de luta, muitas vezes incompreendido, que foi sair do País para continuar a lutar lá fora. Às vezes, até como última hipótese, noutros casos para evitar a prisão e a guerra colonial», descreveu.
De acordo com Ricardo Correia, ao longo da encenação são contadas inúmeras memórias e histórias, paralelas com a própria História.
«Não é um espectáculo de recriação, é um espectáculo que, de alguma forma, constrói um puzzle, um mosaico, quase uma polifonia de vozes, que vão contando tudo aquilo que aconteceu», destacou.
A luta contra o regime fascista é o elo comum entre estas pessoas, com percursos e trajectos muito diferentes, e outras que tangencialmente se foram encontrando, nomeadamente em Paris.
A recolha de memórias e vivências não foi tarefa fácil, pois muitas pessoas encontram-se espalhadas pelo País e até fora, no entanto, «foi um bocadinho como pescar à linha».
«Tínhamos uma pessoa, depois essa pessoa diz que temos que falar com não sei quem, que teve um papel relevante e vão-nos enviando de um lado para o outro. Foi assim que fomos conseguindo ter mais e mais pessoas e juntar mais e mais testemunhos», revelou.
Quanto às expectativas para a estreia agendada para as 21h30 desta quinta-feira, no auditório do Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra, Ricardo Correia conta com «casa cheia».
«Penso que vai ser um espectáculo que vai tocar públicos diferentes, alguns que não ouviram falar deste assunto, mas também vamos ter algumas pessoas que deram estes testemunhos ou que estão com muita vontade de ver a ideia deste espectáculo», concluiu.
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