Num artigo publicado na página da IHP, Sanam Monteiro (Instituto de Medicina Tropical de Antuérpia, Bélgica) e Sana Contractor (Centro para a Saúde e Justiça Social de Nova Déli, Índia) afirmam que os investigadores sobre desigualdades no acesso a cuidados de saúde ignoram as relações e os interesses económicos envolvidos.
Apesar de as «análises sobre as desigualdades na Saúde baseadas nos rendimentos, pobreza ou gradiente socioeconómico abundarem», os discursos não saem da dicotomia entre pobres e ricos, ignorando as razões estruturais: as estruturas que reproduzem as desigualdades económicas e os seus efeitos no acesso aos cuidados de saúde.
Monteiro e Contractor consideram que a ausência de uma abordagem de classe leva, por exemplo, a uma «abordagem neocolonial da cooperação» internacional no sector, chamando-lhe «ajuda». Em vários países, os sistemas de saúde ignoram as posições de classe, o que promove as dificuldades de acesso aos cuidados de saúde.
As autoras lembram o «Relatório Preto» encomendado pelo governo britânico em 1980 e suprimido pelo executivo de Margaret Tatcher, que demonstra que o serviço público de saúde não está desenhado a partir de uma perspectiva de classe – o que determina as suas insuficiências. Usando como exemplo uma investigação de uma jornalista francesa, lembram que, naquele país, um trabalhador comum não tem acesso aos serviços públicos de saúde dentária «até que todos os seus dentes estejam podres» – só então um implante dentário é comparticipado.
As investigadores concluem que «o acesso a cuidados de saúde não se resume a construir os equipamentos certos nos locais certos».
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