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Esta semana o destaque não tem fuga possível: é o Carnaval

Da escuridão para a luz, do Inverno para a Primavera, pagão ou cristianizado, o Carnaval está aí. Folguemos, no interregno da luta.

«O Carnaval do Arlequim», de Joan Miró
Créditos/Fonte: blogue «Surrealismo artístico»,, de Miguel García Campos

Nas origens do Carnaval, tal como hoje o conhecemos nos países de tradição cristã nas suas diversas variantes, está a passagem do Inverno  para a Primavera. A transição entre a escuridão e a luz, que desde tempos imemoriais começaram a ser celebradas pelos homens até terem a sua maior expressão nos universos onde se caldeou a nossa cultura. Há registos de festas que se realizavam em Fevereiro, pelo actual calendário gregoriano, por toda a Europa. Na Grécia celebravam-se as festas dionisíacas, em Roma as bacanais e as saturnais. Festins licenciosos com danças, músicas que davam a volta à cabeça, máscaras para dar maior liberdade aos participantes ocultando-lhes a identidade. Grandes festas em que se exorcizava a escuridão e celebrava a luz, as sementeiras e a fertilidade. Na Idade Média o Carnaval começava em Dezembro e  só acabava na Páscoa. A igreja Católica, sempre muito pragmática, percebendo que era impossível apagar aqueles festejos, calou o escândalo que os excessos licenciosos, a «devastação diabólica» que o Carnaval provocava nos mais puristas exegetas, em vez de proibir essas tradições - como alguns exigiam - optou por cristianizar as festividades, incluindo-as no calendário litúrgico. Aos permitidos desaforos seguia-se o jejum.

O Carnaval começou a ser celebrado em função da Páscoa, do domingo de Páscoa, uma data móvel, que determina todas as outras datas maiores do credo cristão, exceptuando o Natal, festa fixa desde o séc. IV, também uma recuperação cristã de rituais pagãos de celebração do solstício de inverno. O Carnaval, desde que foi incorporado nos rituais cristãos, é contado a partir de quarenta e sete dias antes da Páscoa, dia da primeira lua cheia depois do equinócio da Primavera, no hemisfério norte. No hemisfério sul, apesar de ser o equinócio do Outono que se atravessa, os festejos carnavalescos importados da Europa alcançaram expressão significativa. O Carnaval do Brasil tornou-se num quase-padrão universal, com grande impacto turístico.

Durante muitos séculos o Carnaval, no seio da comunidade cristã, não foi pacífico, como se pode ver no quadro A Luta entre o Carnaval e a Quaresma (1559) de Pieter Brueghel, o Velho.

Uma questão que está definitivamente ultrapassada pelo impacto económico que o Carnaval alcançou.

Músicas de Carnaval ou que têm o Carnaval por tema são inúmeras e encontram-se em todos os idiomas. Na música sinfónica o Carnaval, com bem menor expressão que a Páscoa ou o Natal, também encontrou os seus compositores. Registe-se Um Carnaval em Kremsier de Biber, o Carnaval de Schumann, uma composição para piano, O Carnaval de Veneza de Paganini,

a abertura O Carnaval de Glazounov, O Carnaval de Nôtre-Dame de Franz Schmidt, O Carnaval Romano de Berlioz e o muito tocado e conhecido Carnaval dos Animais de Saint-Saëns.

Por todo o Portugal, para os foliões, há carnavais para todos os gostos e de todos os géneros. Para os menos dados a folias com o frio que atravessa o país, com temperaturas pouco usuais,  aproveitem o calor da casa para ler, ouvir música, ou vão ao cinema ou ao teatro. A paleta é imensa e não é interrompida pelos desfiles de  Carnaval.
Na quarta feira, do Carnaval ficam as cinzas, como Vinicius e Toquinho lembram.

A vida e a luta continuam depois deste interregno que de facto não as fazem nem esquecer nem abrandar.

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