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Chico Buarque: a Festa do «Avante!» 1980 foi a «maior plateia»

Chico Buarque regressa a Portugal, 38 anos depois de ter ficado «apavorado», e depois rendido, com uma das maiores plateias da sua vida, num concerto de «clima perfeito» e pelo qual nem cobrou cachê.

Chico Buarque
Créditos / Notícias Magazine

«Depois do concerto, ele reconheceu que foi especial e disse: "Nunca mais se vai repetir uma coisa destas". Não sei se foram os astros, houve ali um clima perfeito naquilo tudo, e o Chico, pela atitude dele, foi fundamental», contou à Lusa o jornalista António Macedo, que acompanhou o músico brasileiro nos dias que passou em Portugal, que culminaram no concerto de encerramento da Festa do Avante!, a 13 de Julho de 1980.

O concerto, o primeiro de Chico Buarque em Portugal depois do 25 de Abril de 1974, reuniu uma «embaixada» de músicos brasileiros, com Edu Lobo, os MPB 4 e Simone, como conta um dos responsáveis pela programação da festa anual do PCP, Ruben de Carvalho: «O Chico é um pai de santo, vai toda a gente atrás».

Para o «clima perfeito» terão concorrido o momento histórico, com os «brasileiros cheios de "pica"» contra a ainda vigente ditadura militar – rumo ao movimento «Diretas, já» –, aponta Ruben de Carvalho, a química entre os músicos gerada numa viagem recente a Angola, ainda muito presente, e a emoção da morte de Vinicius de Moraes, dias antes do concerto que se realizou no Alto da Ajuda, então recinto da Festa do Avante!.

O concerto foi encenado por Ruy Guerra, o cineasta moçambicano que levou o Cinema Novo para o Brasil, e os ensaios decorreram no antigo edifício do Teatro Aberto, em Lisboa.

António Macedo assistiu a esses ensaios, passou muito tempo com Chico Buarque, que estava instalado com a mulher, Marieta Severo, e as filhas, no Hotel Penta – «só me faltou dormir com ele» –, e acompanhou-o numa visita ao recinto do Alto da Ajuda, antes do início da Festa do Avante!.

«Quando olhou para aquela vastidão de terreno à frente, ele que é um tipo muito envergonhado, que não gosta de concertos, disse: "Isto é tudo para o povo?"», conta.

Estava «completamente apavorado», recorda António Macedo, que se lembra de lhe ter ouvido um «Eu não canto». Cantou. «Transcendeu-se. Esteve praticamente duas horas em palco», lembra, naquela que António Macedo escreveu para o jornal Se7e ter sido «a maior plateia» que Chico jamais tivera pela frente.

António Macedo lembra um alinhamento «em crescendo nas canções políticas»: «A parte final do concerto começa com o Apesar de Você, é para aí a sexta antes do fim, e depois ele começa a ligar isso com Portugal, canta o Fado Tropical, estreia a Morena de Angola – é a primeira vez que a canção é cantada pelo Chico, já era conhecida porque tinha sido cantada pela Clara Nunes.»

O relato do jornal O Diário refere também as canções Geni e o ZepelimConstrução, Roda Viva, Cio da Terra, Cálice, e, naturalmente, Tanto Mar.

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