«A lavoura em defesa do leite nacional», «basta de ditadura na produção de leite», «paguem a quem trabalha» ou «insucesso da Lactogal abre portas ao leite estrangeiro» foram algumas das frases hoje inscritas nas faixas levantadas pelas várias centenas de trabalhadores e produtores do sector do leite.
«Já temos contabilizadas 160 explorações que fecharam desde 1 de Janeiro até hoje», avançou à Lusa Jorge Oliveira, presidente da Associação de Produtores de Leite de Portugal (APROLEP), durante a manifestação que decorreu no Porto, onde está localizada a sede administrativa da Lactogal.
A título de exemplo, a redução de um cêntimo numa exploração que produza «75 mil litros de leite mensal representa 750 euros», explica Marisa Costa, referindo que esses 750 seriam o «salário de uma pessoa da exploração», que já desde 2015 passa por períodos «muito negativos».
As largas centenas de manifestantes que chegaram ao Porto em 12 autocarros, vindos de todo o Norte de Portugal, tomaram recentemente conhecimento da decisão da Lactogal em baixar o preço do litro de leite em um cêntimo, a partir de 1 de Agosto, propondo ainda aos produtores pagar-lhes para desistirem de fornecer leite ou reduzirem os seus contratos.
Segundo Jorge Oliveira, a Lactogal «não se preparou para as exigências do mercado» e isso é demonstrado pelas medidas que têm sido tomadas, como as «baixas de preço de leite e redução da produção», cujas consequências estão à vista com os encerramentos das explorações.
Por sua vez, Marisa Costa, vice-presidente da APROLEP, afirmou «que não há capacidade [da Lactogal] de resolver ou de olhar para o produtor de forma diferente, (...) isto porque têm necessidade de reduzir 60 milhões de litros de leite à produção e, além disso, reduzir um cêntimo ao produtor», medidas que têm «impacto considerável nas explorações», frisou.
CNA solidária com produtores de leite
Em comunicado, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) demonstrou a sua solidariedade para com os «produtores de leite nacionais, que têm muitos motivos para estar descontentes».
Segundo a CNA, a descida do preço do leite «volta a provar a ineficácia das opções – em especial as direcionadas para a redução e o abandono de produção - tomadas alegadamente para melhorar o escoamento e o preço», sobretudo quando conjugada com o «grande impacto da especulação promovida pelas cadeias de grandes hipermercados».
Para a estrutura, «é necessário repor mecanismos públicos de controlo da produção e do mercado, como foram as "quotas leiteiras", (...) uma medida a retomar na reforma da PAC, que já está em marcha para o pós-2020».
«A CNA não só protesta contra as baixas do preço na produção como reclama o aumento do preço do leite na produção. É esta uma condição fundamental para assegurar o trabalho produtivo da grande maioria dos produtores nacionais de leite e para defender a soberania alimentar do nosso País também neste sector, que aliás, é bastante emblemático no plano nacional», lê-se.
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