Nunca a diferença de votos entre o vencedor do voto popular e do colégio eleitoral havia sido tão grande. Clinton ganhou o voto popular por mais de 2,8 milhões de votos, um facto que qualquer interpretação da vitória de Trump não pode deixar de ter em conta. É tal a divisão do país e tão assustadora a perspectiva de Trump na Casa Branca, que parte do país toma medidas concretas para se preparar para algumas das medidas que se prevêem.
Face à promessa de Trump de deportar dois a três milhões de imigrantes ilegais, cresce o número de cidades e universidades que se afirmam santuários para imigrantes, recusando-se a colaborar com o serviço federal de Imigração e Fiscalização Aduaneira, com a sigla ICE.
Na lista incluem-se quatro estados (California, Connecticut, Colorado e Novo México), 39 cidades (incluindo Boston, Chicago, Nova Iorque e Washington DC) e centenas de condados, totalizando mais de 300 jurisdições. Mais de uma dezena de universidades (incluindo as prestigiadas Stanford e Yale) já se estabeleceram como campus santuário, recusando partilhar o estatuto de imigração dos seus estudantes com as autoridades federais, e em cerca de cem universidades têm lugar campanhas para alargar este número.
Trump já prometeu que entre as suas prioridades para os primeiros cem dias na Casa Branca está o cancelamento do apoio financeiro federal às cidades santuárias. Mas apesar das ameaças, presidentes de câmara têm reafirmado o seu estatuto.
As anteriores declarações de Trump e as nomeações para sua Administração também fazem prever hostilidade face à ciência. A nomeada para Secretária do Departamento de Educação, Bestry DeVos, tem sido uma séria opositora das escola pública e defensora de apoio federal para as escolas privadas.
Mas é fundamentalista cristã com uma longa história de oposição à ciência, embora não existam afirmações públicas suas sobre o ensino da evolução nas escolas. Porém, durante a candidatura do esposo a governador de Michigan este afirmou claramente que gostaria de ver o ensino do desenho inteligente («que muitos cientistas consideram uma alternativa viável»).
A próxima administração promete ser muito favorável aos hidrocarbonetos e hostil a energias renováveis. Como em muitos domínios, Trump apoia as suas posições citando factos errados. Na sua batalha (perdida) contra os moinhos de vento junto ao seu campo de golf na Escócia, Trump afirmou que os moinhos não são feitos nos EUA (falso) e que estes estão a devastar as populações de aves.
Na verdade, os moinhos são responsáveis por uma porção ínfima da mortalidade antropogénica anual de aves (que pode atingir mil milhões de indivíduos), sendo largamente excedido por choques com janelas, cabos eléctricos, torres celulares, e carros).
Mas a apreensão é particularmente aguda face às posições da futura administração face às alterações climáticas. Tendo afirmado antes da sua candidatura tratar-se de uma burla chinesa, recentemente, e já após as eleições, Trump declarou que «Tenho a mente aberta. Ninguém realmente sabe.».
Mas o consenso na comunidade científica é quase completo, como confirmado na mais recente síntese de Abril deste ano. Contudo, Trump nomeou Scott Pruitt para liderar a Agência de Protecção do Ambiente (EPA), alguém que nega as alterações climáticas e que tem combatido legalmente as regulações desta agência, incluindo restrições na quantidade de mercúrio nas emissões de usinas de carvão.
Na semana passada, foi divulgado que a equipa de transição de Trump pediu ao Departamento de Energia para listar funcionários que participaram em encontros das Nações Unidas sobre o clima. Face ao que foi interpretado como uma preparação de purga, o porta-voz do departamento afirmou claramente que não iriam ser dados quaisquer nomes individuais.
Vários investigadores começaram a criar cópias dos dados públicos com receio do que poderá suceder quando Trump assumir a presidência. O populismo autoritário da futura administração Trump revela-se claramente, e formas de resistência já vão surgindo.
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