Na comunicação enviada esta quarta-feira à CMVM, a empresa que em 2016 mudou a sede fiscal para a Holanda, autora do slogan «sabe bem pagar tão pouco», justifica os resultados com o crescimento das vendas, que aumentaram 7,1% para 15,2 mil milhões de euros.
A Jerónimo Martins, acusada de «usar e abusar» dos horários de trabalho, argumenta no texto que o «bom desempenho operacional, combinado com gestão disciplinada do capital investido, impulsionou a forte geração de caixa».
O Pingo Doce retira aos trabalhadores «um dia descanso semanal» e «usa e abusa do banco de horas», denuncia o CESP, sindicato que classifica o prémio de 20% anunciado pelo Grupo Sonae como um «truque». Na sua folha sindical, o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN) afirma que, nestes tempos de pandemia, em que estão «na linha da frente», os trabalhadores do Pingo Doce/Jerónimo Martins «estão extenuados». Neste sentido, considera «urgente» o respeito pelos «limites máximos dos períodos normais de trabalho, nomeadamente as oito horas diárias», bem como «a salvaguarda de que todos os trabalhadores gozam duas folgas semanais». A estrutura sindical lembra que «o estado de emergência determina que só as autoridades públicas competentes têm poderes para suspender a obrigatoriedade de dois dias de descanso semanal e oito horas de trabalho diárias», não estando previsto em lado algum que «as empresas possam fazer tábua rasa de todos os direitos dos trabalhadores», que estão constitucionalmente consagrados e constam «no contrato colectivo de trabalho e/ou na lei geral, como, por exemplo, o descanso semanal». Na mesma folha, alerta-se que os trabalhadores do Pingo Doce/Jerónimo Martins se vêem confrontados com «a insuficiência de medidas de prevenção do contágio», e que não têm a «garantia da limitação da entrada e aglomeração de clientes nas lojas». Uma situação que, segundo o sindicato, é extensível aos demais «trabalhadores da distribuição que diariamente assumem os seus postos de trabalho para garantir à população o acesso a produtos alimentares, considerados essenciais em momento de pandemia». Numa campanha de comunicação interna, publicitada na comunicação social, o Grupo Sonae prometia aos «trabalhadores que estão na linha da frente nos locais de trabalho durante a pandemia» um «prémio de 20% do seu salário». No entanto, o CESP esclarece que não é bem assim: «tal informação não corresponde inteiramente à verdade», afirma num comunicado aos trabalhadores do grupo. Aquilo que devia ser «uma justa recompensa pelo esforço dos trabalhadores não é mais que uma campanha de branding [gestão de marca], de divisão dos trabalhadores e de pressão para que estes abdiquem dos seus direitos», acusa o CESP. No texto, afirma-se que vários trabalhadores «não receberam o dito prémio, mesmo não tendo faltado nenhum dia de trabalho» e que outros «receberam valores muito distintos, apesar de terem salários semelhantes» – segundo o CESP, estes trabalhadores «discriminados e penalizados cometeram o "crime" de não terem aceitado o banco de horas e de se terem atrasado um ou dois minutos após o intervalo para o almoço ou para o jantar». Para além disso – revela o texto –, o prémio «não foi aplicado aos trabalhadores da insígnia Worten», pese embora serem trabalhadores do mesmo grupo e estarem expostos aos mesmos riscos que os restantes. O CESP lamenta que o Grupo Sonae utilize a situação que o País enfrenta «para ganhar a opinião pública, leia-se clientes, anunciando um prémio que não é aplicado a todos os trabalhadores» e que ainda é usado como «instrumento de pressão para os obrigar a trabalhar mais tempo e aceitar o banco de horas». «No meio disto tudo, o que é verdade, mas não é noticiado, é que os trabalhadores deste grupo continuam a receber um salário muito próximo do salário mínimo nacional», denuncia a estrutura sindical, enquanto o Grupo Sonae «fechou o exercício de 2019 com resultados líquidos de 165 milhões de euros», sendo que a sua presidente «aumentou os rendimentos em 10%, tendo recebido, em 2019, 812 267 euros». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Trabalho|
Nem respeito pelos direitos dos trabalhadores, nem prémios «a valer» na distribuição
Prémio anunciado pelo Grupo Sonae foi «truque»
Contribui para uma boa ideia
Mas nas contas entra também o trabalho barato, seja pelos baixos salários, pela desregulação dos horários de trabalho ou pela imposição dos bancos de horas, que permitem a realização de horas extraordinárias sem a devida compensação do trabalhador.
Recorde-se que a dona do Pingo Doce cortou o subsídio de Natal aos cerca de dois mil trabalhadores que em 2020 ficaram em casa em assistência aos filhos, em virtude do encerramento das escolas. A decisão acabou por ser revertida graças à intervenção do sindicato, tendo ocorrido em Março o pagamento do valor em falta.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui