Face à reivindicação dos trabalhadores pelo aumento dos salários, um dos argumentos recorrentes passa pela «sustentabilidade» das contas das empresas, que poderia ficar em risco com a subida dos gastos com pessoal.
No entanto, o que os dados da central de balanços do Banco de Portugal mostram é que esta rúbrica representa apenas 14% das despesas totais das empresas não financeiras portuguesas, em 2016 – 10,8% quando contabilizadas apenas as remunerações.
14%
Peso dos gastos com pessoal das empresas não financeiras (2016, Banco de Portugal)
Para além dos custos com mercadorias vendidas e matérias consumidas, também os fornecimentos e serviços externos pesam mais nas contas das empresas do que os salários – 22,5%. Nesta rúbrica, integram-se os chamados custos de contexto, ou seja, as despesas com energia, combustíveis ou telecomunicações: serviços que, em Portugal, são prestados por empresas monopolistas ou cuja actuação tem estado sob suspeita de cartelização.
E as micro, pequenas e médias empresas?
Se é verdade que os salários pesam menos nas despesas das grandes empresas, também é um facto que nas micro, pequenas e médias empresas os gastos com pessoal representam menos de um quinto do total: 16%, 17% e 14,7%, respectivamente.
Em todos os segmentos, a estrutura de custos mantém-se idêntica, com as despesas com fornecimentos e serviços externos acima do que pagam em salários.
Valorização salarial: reivindicação no centro das lutas dos trabalhadores
Nos últimos meses, grande parte das lutas laborais têm tido como uma das reivindicações aumentos salariais, seja no sector público ou no privado.
580€
O salário mínimo nacional continua abaixo dos 600 euros, por via de um acordo entre o PS e o BE
Se para a Função Pública ainda não se iniciaram as negociações prometidas pelo primeiro-ministro, nas empresas públicas as greves por aumentos salariais têm sido várias: na Casa da Moeda, na EMEF ou na Infraestruturas de Portugal.
No sector privado, as últimas semanas foram marcadas pelas greves na grande distribuição pelo aumento do salário, como na Lidl, na Sonae ou no Pingo Doce. Também na indústria esta tem sido uma reivindicação presente, como aconteceu nas recentes greves na Preh, na Sacopor, na Bimbo e que já deu frutos na Manitowoc, onde já foram garantidos aumentos de 2,5%.
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