O presidente do Sindicato dos Estivadores e da Actividade Logística (SEAL) acusou hoje as empresas portuárias de quererem protelar a precariedade e a perseguição a alguns trabalhadores, responsabilizando-as pelo fracasso das negociações para um acordo laboral no Porto de Setúbal.
«As negociações foram interrompidas, porque as empresas e o Governo quiseram misturar uma questão local de Setúbal com um problema nacional, relacionado com a perseguição aos trabalhadores filiados no SEAL - 50 no Porto de Leixões e 25 no Porto do Caniçal, na Madeira», afirmou à Lusa o presidente do SEAL, António Mariano, no final das negociações promovidas pelo Ministério do Mar.
«Até nos disponibilizámos para suspender temporariamente a greve ao trabalho suplementar no Porto de Setúbal, sendo que no prazo de 15 dias essas perseguições a trabalhadores filiados no SEAL teriam de terminar, mas as entidades patronais recusam qualquer acordo se não suspendermos a greve ao trabalho extraordinário», acrescentou.
António Mariano defende, no entanto, que o sindicato não pode suspender a greve ao trabalhado extraordinário e abandonar os seus filiados que estão a ser perseguidos em outros portos do País, e garante que a própria «ministra do Mar já foi confrontada com provas da perseguição que está a ser feita aos trabalhadores do SEAL nos portos de Leixões e do Caniçal, na Madeira».
«A senhora ministra já viu os recibos de trabalhadores do nosso sindicato, que recebem metade do salário só porque são filiados no SEAL, comparativamente com outros trabalhadores, que entraram no mesmo dia e fazem exatamente o mesmo trabalho. Mas a senhora ministra entendeu que em 15 dias não havia condições para resolver estes problemas», disse.
«Para resolver o problema dos automóveis, das cargas de Setúbal - questões complicadas, incluindo contratos colectivos e tudo o mais -, juntou-se uma bateria de interesses para as resolver. Mas para resolver a vida das pessoas que já estão a ser perseguidas há 22 meses, não há forma de se acabar com essas perseguições em 15 dias. E eu acho que 15 dias era tempo mais do que suficiente para resolver esse problema», acrescentou o dirigente do SEAL.
«Pela nossa parte, o Porto de Setúbal poderia estar a trabalhar na segunda-feira, com 180 trabalhadores a fazerem o seu turno. Preferem ter o porto parado por uma birra», acrescentou.
«No fundo o que as empresas querem fazer é integrar alguns trabalhadores e manter todos os outros em situação de precariedade nas próximas décadas. E nós não queremos isso. Queremos um regime integrado, em que alguns possam entrar, e que os outros também possam vir a ter uma contrato a médio prazo, ou a longo prazo que seja», disse António Mariano.
Convicto de que teria sido possível ultrapassar algumas divergências e chegar a um acordo para a integração de 56 trabalhadores, António Mariano não dá por encerrado o processo negocial e admite a possibilidade de nova ronda de negociações, em novos moldes, já partir da próxima semana, embora não haja ainda qualquer confirmação de que o processo negocial será retomado.
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