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Palavras leva-as o vento: Efacec já prepara despedimento colectivo

Estão salvos os accionistas, enquanto o Estado português, pela mão do Governo PS, já assumiu os custos de mais uma privatização ruinosa. Está na hora de a Mutares, nova gestão da Efacec, avançar com o despedimento colectivo.

Concentração durante a greve dos trabalhadores do Grupo Efacec contra os despedimentos, no Parque Industrial da Arroteia, em Matosinhos, 23 de Março de 2018
CréditosRui Farinha / Agência Lusa

Em momento oportuno, o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Norte (SITE Norte/CGTP-IN) alertou que «o domínio do capital estrangeiro, nesta empresa estratégica, não serviria para beneficiar o País nem os trabalhadores». As recentes declarações da nova administração privada da Efacec (o grupo alemão Mutares), comprovam a actualidade das advertências dos trabalhadores e os seus sindicatos.

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Que papel teve a Comissão Europeia na venda da Efacec?

A pergunta foi endereçada à entidade liderada por Von der Leyen pelo deputado comunista João Pimenta Lopes, depois de o ministro da Economia dizer que a Comissão Europeia esteve envolvida nas negociações.

Créditos / Efacec

O Estado vendeu a Efacec ao fundo alemão Mutares com o compromisso de injectar mais 160 milhões de euros, a somar aos 200 milhões de euros que já tinha posto na empresa. A Mutares receberá assim, «de mão beijada», uma das «principais empresas industriais portuguesas, capitalizada, com crédito e garantias, trabalhadores altamente qualificados, capacidade de investigação, líder em vários segmentos de mercado e com encomendas de centenas de milhões de euros em carteira», critica o deputado do PCP no Parlamento Europeu. 

Na pergunta dirigida à Comissão Europeia sobre «A privatização da EFACEC e a interferência da Comissão Europeia no processo», João Pimenta Lopes assume que se trata, «evidentemente, de uma decisão profundamente lesiva dos interesses nacionais». Recorde-se que a Efacec, com cerca de 2300 trabalhadores, exporta para mais de 60 países e desenvolve soluções de alta tecnologia para geração, transmissão e distribuição de energia, destacando-se a nível internacional na produção de transformadores.  

Segundo o ministro da Economia, António Costa Silva, citado na imprensa, a Comissão Europeia, através da DGComp (Direcção-Geral da Concorrência), na sigla em inglês, «terá estado sempre envolvida nas negociações que terão ditado este desfecho». As notícias em causa referem que a operação foi aprovada pela Comissão Europeia, tendo passado no chamado «teste de mercado». A informação levantou várias dúvidas ao PCP, que pretende saber que tipo de «aprovação» foi dada a este negócio e que critérios estiveram subjacentes. 

Neste sentido, solicita à Comissão Europeia informação detalhada sobre a intervenção que teve neste processo e, em particular, no seu desfecho. «Procurou a Comissão Europeia impor ao Governo Português esta solução, que resulta numa cada vez maior concentração de capital, favorecendo designadamente o grande capital alemão?», lê-se na missiva. 

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Numa videoconferência realizada na passada quinta-feira, a empresa informou os trabalhadores, em inglês, de que o plano de reestruturação em marcha implicava o abandono de sectores da Efacec que não sejam rentáveis para os novos patrões e, potencialmente, um processo de despedimento colectivo abrangendo dezenas de trabalhadores.

O foco principal da Efacec passará agora pela mobilidade eléctrica, automação e transformadores, deixando de produzir em áreas como as baterias. Cai por terra a narrativa do PS (na voz da antiga ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, em 2020) de que esta privatização permitiria «viabilizar a continuidade da empresa, garantindo a estabilidade do seu valor financeiro e operacional e permitindo a salvaguarda dos cerca de 2500 postos de trabalho»: nem um coisa, nem outra.

SITE Norte: trabalhadores não devem assinar qualquer documento que os venha a comprometer 

«O plano para o despedimento colectivo já era conhecido desde que chegaram ao fim as mal ditas "rescisões amigáveis". A intenção de despedimento colectivo, provavelmente, vai ter como primeiro alvo os trabalhadores que não aceitaram alienar o seu posto de trabalho pela via dessas "rescisões amigáveis"», afirma o SITE Norte, em comunicado enviado ao AbrilAbril.

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Depois de privatizada, Efacec ganha contratos de 2,3 milhões e 100 milhões de euros

Mais uma prova de que a nacionalização da Efacec só serviu os interesses privados. A empresa privatizada ao capital alemão fechou um contrato de 2,3 milhões com o Metro do Porto e outro de 100 milhões de euros com uma empresa francesa.

CréditosAntónio Cotrim / Agência Lusa

No futebol costuma-se dizer que «são 11 contra 11 e no final ganha a Alemanha». Neste caso não há um confronto desportivo, mas sim a submissão dos interesses nacionais ao capital estrangeiro, e, no final, ganhou a empresa alemã que comprou a Efacec ao Estado, a Mutares.

Importa recordar que o Estado detinha 71,73% da empresa e ao longo de 20 meses injectou 200 milhões de euros, sendo que ainda irá injetar mais 160 milhões de euros, segundo o ministro da Economia, António Costa Silva. Com a privatização à Mutares, esta foi apenas «obrigada» a investir 15 milhões de euros e disponibilizar outros 60 milhões de euros em garantias. Um investimento claramente inferior ao do Estado.

Tendo este contexto em conta, sabe-se agora que a empresa tinha toda a viabilidade. Veja-se que no final de Outubro a Efacec fechou um negócio com o Metro do Porto para uma empreitada no valor de quatro milhões de euros, dos quais foram agora contratualizados 2,3 milhões correspondentes à primeira fase do projeto.

Duas semanas antes, a Efacec tinha já fechado um acordo com a Rede de Transporte de Eletricidade (RTE) francesa, empresa do sector dos transformadores de potência, para a modernização e desenvolvimento da rede eléctrica em França, o qual «ultrapassa as dezenas de milhões de euros». 

Se nesse negócio os números não foram divulgados, esta semana a Efacec fechou mais um contrato com a RTE e aí os dados foram tornados públicos. O novo negócio com a empresa gaulesa para o fornecimento de «dispositivos adicionais para três novos sistemas de automação e proteção, a instalar em subestações digitais durante o ano de 2024, bem como para as plataformas de testes laboratoriais e de formação do pessoal técnico e de engenharia da RTE» irá ascender aos 100 milhões de euros. 

Feitas as contas, em poucos dias, após a privatização, a Efacec fechou já um conjunto de negócios que se aproximam do que fora injetado pelo Estado em 20 meses, demonstrando que a empresa tinha toda a viabilidade para se manter lucrativa e na esfera pública. Quem se fica a rir são os alemães que, por quase nada, conseguiram comprar a Efacec e já sabem que conseguem ganhar milhões sem nenhuma dificuldade. 

Este caso é, então, prova cabal que o Governo PS, o mesmo que se diz de esquerda, usou dinheiro público, ou seja, socializou os prejuízos, para entregar de mão beijada uma empresa limpa e em condições de ser lucrativa ao capital alemão. Os interesses portugueses, assim como o socialismo do PS, parecem ter ficado na gaveta, mais uma vez.  

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Os trabalhadores da Efacec, pressionados por esta nova ofensiva, devem tomar todas as providências para se protegerem, recusando-se a assinar qualquer documento sem informar antecipadamente o sindicato: o SITE Norte assegura a capacidade de dar apoio aos trabalhadores que o requererem. «A principal preocupação dos fundos de investimento são os números e a folha de Excel», não é, nem nunca será, uma preocupação altruísta com a vida de quem lhes cria, todos os dias, a riqueza.

Para fazer face a este anunciado processo de despedimento colectico, o sindicato apela à unidade dos trabalhadores em defesa dos postos de trabalho ameaçados, sejam, ou não, visados. Só assim será possível defender todos os trabalhadores assim como «a afirmação e consolidação de uma empresa que é crucial para o desenvolvimento da nossa região e do País: a Efacec.

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