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Patrões querem dificultar, mas CESP reitera que horários do comércio são para reduzir

Dias depois de se saber que a faturação nos centros comerciais aumentou 7% em comparação com o ano passado, a Associação Portuguesa de Centros Comerciais atacou a Iniciativa Legislativa do CESP pelo encerramento do comércio aos domingos e feriados.

CréditosJosé Coelho / Agência Lusa

Foi a própria Associação Portuguesa de Centros Comerciais (APCC) que confirmou que a actividade dos centros comerciais voltou a bater recordes em 2024. Segundo a mesma, os dados indicam que a faturação com vendas com meios de pagamento eletrónico aumentou 7% em comparação a 2023. 

Numa comparação mais alargada, este aumento corresponde a mais 14% face a 2022 e 31% face a 2019. A par destes dados, a APCC indica também que além do valor das compras efectuadas, também subiu a quantidade de visitantes dos centros comerciais, o que indica que o sector não está a passar por dificuldades, antes pelo contrário.

No seu comunicado, a APCC dá conta que o valor médio de cada compra foi de 33,80 euros ao longo do ano. Focando apenas em Dezembro, o tradicional mês com maior actividade dada a quadra festiva e o Black Friday, esse valor médio da transação foi de 40,97 euros, sendo que o melhor dia do ano para os centros comerciais foi 23 de Dezembro.

Apesar de todo o sucesso, a ganância patronal não tem fim e esta semana, a directora-geral da APCC atacou a Iniciativa legislativa do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN) pelo encerramento do comércio aos domingos e feriados e pela redução do seu funcionamento até às 22 horas.

Não conseguindo justificar a sua posição nem alinhar num debate saudável, a APCC acorreu à imprensa para fazer passar a ideia de que o encerramento do comércio aos domingos e feriados, e o seu funcionamento até às 22h levaria à perda de 18 mil empregos. 

«Uma vez mais, aqueles que lucram todos os dias com a exploração de quem trabalha, decidem lançar o fantasma e o medo do desemprego para evitar falar do que realmente importa», considerou o CESP num comunicado em que reage às declarações dos patrões.

O sindicato considera que a APCC não coloca que o encerramento do comércio aos domingos e feriados apenas alterava o horário semanal do trabalhador para que uma folga fixa fosse ao domingo; que o aumento do número de lojas em vários sectores, nomeadamente na grande distribuição, não corresponde proporcionalmente ao aumento de trabalhadores, existe falta de trabalhadores no sector, para que poucos façam muito e os lucros sejam maximizados à custa da vida de quem lá trabalha; e que a grande maioria dos países Europeus o comércio encerra ao Domingo, sem que isso tenha este efeito dramático no desemprego.

«Os argumentos utilizados – como o de que “16% das vendas dos lojistas são feitas aos domingos” ou ainda de que “38% das compras são feitas no horário pós-laboral” são exactamente argumentos que comprovam que não é significativo, e até levam a questionar o que se considera pós-laboral nesta afirmação», sublinha o sindicato.

O CESP acusou ainda a APCC de representar apenas os interesses das grandes empresas, que praticam os salários mais baixos e horários mais desregulados do sector. «A APCC promove uma cultura de medo para proteger os lucros de quem explora os trabalhadores», afirmou a organização.

Além disso, o CESP criticou duramente PS e PSD, acusando-os de alinharem automaticamente com os interesses do capital e dos patrões, ignorando as reivindicações dos trabalhadores. «Eles compactuam com a abertura de creches até à meia-noite, como se isso fosse solução para a conciliação entre vida pessoal e profissional. Isso não é progresso, é perpetuar a exploração», destacou o comunicado.

O comunicado finda com o CESP a reiterar o seu compromisso com a Iniciativa Legislativa de Cidadãos, defendendo que a redução dos horários de funcionamento e o encerramento aos domingos e feriados são medidas justas, necessárias e possíveis. «Um país desenvolvido não pode deixar a qualidade de vida de quem trabalha nas mãos do mercado. É hora de priorizar as pessoas, não os lucros», concluiu a estrutura sindical.
 

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