Nasceu no concelho de Vila Velha de Ródão, mas foi em Paris, onde foi vizinho de Picasso, que o mestre Cargaleiro viveu grande parte da sua vida. Pintor, desenhador e ceramista, com fortes ligações ao Seixal, autor de uma obra que tem percorrido o mundo e um dos mais conceituados e internacionais artistas plásticos portugueses, morreu ontem, aos 97 anos, «tranquilo, rodeado pelos seus», disse a sua companheira.
«A Câmara Municipal do Seixal manifesta profundo pesar pelo falecimento do pintor e ceramista Manuel Cargaleiro», lê-se numa nota da autarquia, divulgada ontem. «O seu trabalho, caracterizado por um uso vibrante da cor e uma sensibilidade única, sempre transcendeu as fronteiras da arte tradicional, enchendo de vida e emoção todos os espaços por onde as suas obras passaram», refere o Município.
Com a Oficina de Artes Manuel Cargaleiro, o «pintor das cores» regressou ao Seixal e, em particular, à Quinta da Fidalga, local de onde guarda memórias e vivências da sua infância e juventude, quando residiu na Margem Sul do Tejo, «em virtude de o pai ter sido administrador da Cooperativa Agrícola de Almada e Seixal e o primeiro Provedor da Santa Casa de Misericórdia do Seixal».
Em 1999, foi distinguido pela Câmara do Seixal com a Medalha de Honra. Quase 20 anos depois, foi inaugurada na Quinta da Fidalga a Oficina de Artes Manuel Cargaleiro, uma homenagem ao artista e um equipamento cultural de referência, projectado pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira. A Oficina tem como objectivo promover a arte contemporânea, a obra do mestre e as colecções da sua fundação, quer através de temporárias, mas sobretudo através da divulgação da arte e do trabalho com jovens artistas, dando corpo à definição implícita na designação de Oficina.
Na Oficina de Artes Manuel Cargaleiro, aberta desde 2018, foram exibidas várias exposições de sua autoria, como, por exemplo, «A Essência da Forma», «Entre o Seixal e Castelo Branco», «A Essência da Cor» e «Gesto no Tempo», entre muitas outras.
O Município recorda que o nome do artista foi também atribuído à Escola Secundária do Fogueteiro, em 1994, passando a designar-se Escola Secundária Manuel Cargaleiro, e para a qual o mestre viria a criar um painel de azulejos. Em Fevereiro último, sete obras pertencentes a Manuel Cargaleiro foram doadas, a título gratuito, à Câmara Municipal do Seixal.
O ceramista recebeu, em Paris, em 2019, a medalha de Mérito Cultural do Governo português e a Medalha Grand Vermeil, a mais alta condecoração da capital francesa, onde viveu grande parte da sua vida.
Na altura, foi também inaugurada a ampliação da estação de metro de Champs Elysées-Clémenceau, com novas obras de Manuel Cargaleiro, depois de originalmente concebida e totalmente decorada pelo artista português, em 1995, incluindo o painel em azulejo «Paris-Lisbonne».
Em 16 de Março de 2017, dia do seu 90.º aniversário , o «operário da pintura e da cerâmica», como se auto-intitulou, foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique.
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