«Endless Sun» é um projeto de investigação artística de Hugo de Almeida Pinho que se vai apresentar em duas exposições, «The Cinematic Sunrise» no espaço gnration1, em Braga (até 4 janeiro 2025), e «Capital Blindness» nas Carpintarias de São Lázaro2, em Lisboa (novembro 2024 a janeiro 2025). O projeto curatorial é da responsabilidade do artista-curador Paulo Mendes.
Como refere Hugo de Almeida Pinho: «O sol é um elemento medial na imaginação coletiva, enquanto configuração cultural, autoridade e impulso espiritual, transportando um importante poder ideológico e biopolítico. A sua energia mantém o planeta funcional, regulando os ritmos metabólicos de plantas e animais, mas nesta sua relação dialética com o planeta Terra, é um elemento vital de um capital global contemporâneo que se traduz em poder tecnológico e económico; constituindo-se como um dos temas mais urgentes no atual contexto da geopolítica internacional, a energia pode ser utilizada como um mecanismo de promoção de certas formas de autoritarismo, neocolonialismo, sistemas autocráticos, ou crises climáticas.»
Segundo o texto de Paulo Mendes, o projeto «Endless Sun» [Sol Sem Fim], é «sobre a ideia de políticas solares e as suas implicações críticas em diversas esferas energéticas, biopolíticas e tecnológicas». «(…) Enquanto comunidade assistimos, embalados por slogans trendy e reformulações de estratégias de marketing temporárias, ao colapso ambiental e ao agudizar das tensões geopolíticas globais, numa convergência de factores favorável a um cenário de risco para a humanidade, onde a crise energética, e o controle sobre a produção de energia, é determinante.»
Acerca da exposição no espaço gnration, em Braga, o curador Paulo Mendes acrescenta que «The Cinematic Sunrise apresenta-se numa câmara escura, onde uma instalação constituída por um filme-escultura em loop, película analógica de 16 mm, com o seu som mecânico revela o avançar das imagens captadas no único observatório solar português e um dos mais antigos em operação no mundo; imagens de arquivo, história, mitologia, ciência e natureza, são convocadas para um encontro simbólico. Essa máquina-escultura convoca elementos, entre outros, como o helióstato, a divindade solar egípcia Áton, e a ópera futurista de Mikhail Matyushin, com guarda-roupa de de Kazimir Malevich, estreada em 1913, Victory over the Sun.»
A obra de Ana Vidigal (Lisboa, 1960), Como é Antigo o Passado Recente, poderá ser novamente vista, decorrendo a apresentação pública na Sala do Capítulo do Convento São Francisco3, em Coimbra, até dia 10 de dezembro.
Esta obra já tinha sido apresentada entre abril e junho de 2022, de forma inédita, no Convento São Francisco, onde a artista trabalha sobre a Memória e o Tempo, temáticas muito presentes em toda a obra da artista. Como escreveu o curador Hugo Dinis na folha de sala da exposição: «Ocupando a totalidade das paredes do espaço expositivo com a ampliação de imagens do seu arquivo pessoal, a artista questiona os acontecimentos presentes à luz de um passado histórico recente».
Pensada para a Sala do Capítulo do Convento São Francisco, a instalação Como é antigo o passado presente foi doada por Ana Vidigal passando, a integrar o Património Artístico do Município de Coimbra.
Ana Vidigal é uma das artistas portuguesas mais reconhecidas da sua geração, com um percurso relevante na cena artística contemporânea portuguesa e internacional. Acerca desta obra Ana Vidigal escreveu em 12 de março de 2022 que o seu trabalho sempre foi sobre aquilo que não lhe pertence, assumindo ser «uma espécie de roubo autorizado, pois na maior parte das vezes é consentido por quem, generosamente me confia a sua identidade como se se tratasse de uma caixa de chocolates, onde na minha intimidade, me lambuzo e me reconstruo», acrescentando ainda, que ao ver a sala do Convento «imaginei-me dentro de uma das minhas caixas de memórias alheias, submersa em centenas de papeis vegetais grosseiramente dobrados, mas delicadamente desenhados a lápis por uma das minhas avós, a materna, com os elementos decorativos que me aconchegaram a infância dourada e a conturbada adolescência, nos lençóis da minha cama de solteira».
«Elaborei um projeto, onde nas paredes dessa caixa, "seria sempre meia noite no lugar de alguém”, aquela estranha hora em que nos equilibramos entre o que já passou e o que vamos passar. Utilizaria para isso uma coleção de fotonovelas de Corín Tellado oferecida pelo Nuno Nunes-Ferreira, manipulando esquadrias, imagens, textos e como sempre a alienação da escala», esclareceu ainda Ana Vidigal.
Na Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca4, em Santiago do Cacém, está patente a exposição de Escultura «Objetos do Inconsciente» de Inês Duarte Justo, inserida na programação do «Outono Literário», decorrendo até 30 de novembro.
«Desde experiências arriscadas, à descoberta de vidrados incomuns, à brincadeira com os pesos e equilíbrios, até à simplificação de formas através da tentativa erro, cheguei às peças presentes nesta exposição. São resultado da minha transparência em criar, do valor que reconheço no "ser vulnerável" e a partir daí deixar o nosso (meu) inconsciente falar por si. Tal permite-me observar estes projetos de uma perspetiva nostálgica e orgulhosa, pois sei que fazem parte, ou fizeram em tempos, da verdade que existe em mim», segundo a artista Inês Justo.
O Espaço+5, em Aljezur, apresenta a exposição «Alquimia de Papel» de Maya Mitten, podendo ser visitada até 29 de novembro. «Utilizando livros e revistas antigas como paleta, Maya cria paisagens surreais intemporais com histórias visuais à espera de serem exploradas e traduzidas a partir da sua perspetiva», segundo a folha de sala da exposição.
Maya é uma artista gaulesa, que vive em Portugal e que se tem dedicado à criação artística ao longo dos últimos 16 anos. As suas obras têm inspiração nas raízes gaulesas e nas paisagens e personagens da vila onde reside atualmente.
Embora sem grandes tradições locais de exposições de Arte Contemporânea, o Espaço+ abre ao público em 2006, apresentando desde então o que de mais relevante e interessante se tem vindo a produzir em artes plásticas em Portugal, referindo apenas as exposições de Bartolomeu Cid dos Santos, Clara Meneres, Joaquim Baltazar, Moisés, Paula Rego, Rocha Pinto ou Teresa Magalhães, entre muitas outras, de Desenho, Pintura, Banda Desenhada, Arqueologia, Gravura ou Escultura. Este espaço desenvolve também outras atividades na área da cultura, como workshops, ateliers criativos, conferências, concertos e ensaios.
- 1. O espaço gnration – Praça Conde de Agrolongo, n.° 123, 4700-312 Braga. Horário: segunda a sexta, das 9h30 às 18h30, sábado, das 10h às 18h30.
- 2. Carpintarias de São Lázaro - Centro Cultural - Rua de São Lázaro n.º 72 Lisboa, Portugal. Horário: quinta a domingo, das 12h às 18h.
- 3. Convento São Francisco - Av. da Guarda Inglesa 1a, 3040-193 Coimbra. Horário: quarta a segunda, das 15h às 20h (última entrada às 19h30).
- 4. Biblioteca Municipal Manuel da Fonseca – Rua Eng. Costa Serrão 25 Santiago Do Cacém. Horário: segunda a sexta, das 9h30 às 18h30; sábado, das 13h30 às 18h30.
- 5. Galeria Municipal Espaço+ - Rua da Escola - Igreja Nova – Aljezur. Horário: segunda a sexta, das 10h às 14h30. Encerra aos domingos, sábados e feriados.
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