Para o realizador português, em declarações divulgadas pela organização do festival, o Leopardo de Ouro significa que «tudo é possível, mesmo para um tipo velho (...) que fez um filme pequeno sem dinheiro», e acrescentou que foi «uma grande honra» e espera que «possa abrir portas para o filme ser visto em mais sítios do mundo».
Vitalina Varela tornou-se no favorito dos observadores logo após a sua projecção para a imprensa na quarta-feira, com muitos dos críticos presentes a considerarem-no «o filme» do certame.
Com esta distinção, o novo filme de Pedro Costa, que teve em Locarno a sua estreia mundial, torna-se também no primeiro filme português a receber o prémio máximo de uma competição principal de um festival desta envergadura desde O Bobo, de José Álvaro Morais, Leopardo de Ouro em 1987. O festival suíço tem, aliás, trazido sorte ao realizador portuguềs que já vencera o Leopardo de Melhor Realização em 2014 por Cavalo Dinheiro, o Prémio Especial do Júri em 2007 pelo filme colectivo Memories, e uma menção especial em 2000 por No Quarto da Vanda.
Vitalina Varela, ela própria, figura central de um filme inspirado na sua vida, recebeu o Leopardo para a Melhor Interpretação Feminina, depois de na sexta-feira ter já vencido um prémio paralelo, o Boccalino d’Oro, entregue por um grupo de jornalistas presentes no festival. Segundo Costa, em declarações à organização, «este filme pertence a Vitalina. Ela é uma força da natureza, do passado e do presente e também do nosso futuro.»
Também num depoimento ao festival, a actriz confessou-se «muito feliz por vencer este prémio» e garante que é «um testemunho do amor com que rodámos este filme e do amor que recebemos aqui no festival».
Numa edição que ficou marcada pela retrospectiva de cem anos de cinema negro Black Light, as escolhas dos vários júris acabam por convergir numa mesma celebração – do outro, da multiplicidade de experiências, de vidas, de olhares. Desde a experiência emigrante de Vitalina, que conta a sua própria história no filme de Pedro Costa, à cidadezinha senegalesa de Baamum Nafi, passando pelo choque cultural entre os índios e a cultura ocidental de A Febre ou pela ideia da arte como experiência universal em Les Enfants d’Isadora, tudo no palmarés de Locarno 2019 responde ao mundo em que vivemos; abre-se à diferença e à multiculturalidade, recusa muros, fronteiras, paredes.
A 72.ª edição de Locarno encerra oficialmente esta noite com a estreia de To the Ends of the Earth, do japonês Kiyoshi Kurosawa. A 73ª edição terá lugar de 5 a 15 de Agosto de 2020.
Com Público
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