«Este prémio representa toda uma história, toda uma dedicação destes movimentos em Portugal e dos trabalhadores em geral, que têm feito uma trajectória muito importante», revelou à agência Lusa o ex-mineiro António Minhoto, que também foi distinguido.
António Minhoto considera que este prémio de Honra, que também lhe foi atribuído, e o de melhor filme na categoria Pesquisa de Arquivo para o documentário Cem anos de Urgeiriça «deu uma imagem internacional importante sobre a exploração de urânio a nível mundial».
«Portugal tem, e este festival mostrou, uma grande importância, porque temos um grande papel de introdução de exploração e das difusões a nível mundial e também no nuclear. Portugal foi o primeiro a contribuir com urânio para a criação da bomba nuclear», contou.
Nascido em 1952, este ex-mineiro criou a associação ambientalista Ambiente em Zonas Uraníferas (AZU) e a Associação dos Antigos Trabalhadores das Minas da Urgeiriça (ATMU), cuja missão é lutar em prol dos direitos de quem trabalhou na exploração do urânio, e integra também o Movimento Ibérico Anti-Nuclear (MIA).
Um prémio, diz, que a organização atribuiu pela luta que tem travado nas últimas três décadas em prol da compensação dos trabalhadores e das suas famílias e para a recuperação ambiental das minas de urânio da Urgeiriça que se situam na freguesia de Canas de Senhorim, concelho de Nelas.
Apesar de já ter visto o seu trabalho reconhecido pela Assembleia da República, António Minhoto não esconde que esta menção internacional «tem um significado mais amplo» e acaba por ser «um estímulo para uma causa que está a ganhar cada vez mais interesse», porque, diz, «não é alternativa a questão do nuclear».
Cem Anos de Urgeiriça
O outro destaque no Festival Internacional do Rio de Filmes sobre Urânio foi para o documentário Cem Anos de Urgeiriça, que recebeu o prémio de Melhor Filme na categoria de Pesquisa de Arquivo, do realizador escocês Ramsay Cameron.
Segundo a directora da organização do festival, Ramsay Cameron «usou um rico material de arquivo e depoimentos, revelando a importante participação da mina de urânio no programa das primeiras bombas nucleares dos EUA e da Inglaterra», tendo sido realizado a propósito do centenário das minas, 1915-2015.
«É um filme excelente para abrir os nossos olhos sobre a história desta mina de urânio no Centro-Norte de Portugal, que é uma das mais antigas do mundo e que foi explorada primeiro pelos ingleses para fornecer radio para o laboratório de Marie Curie e depois com participação do governo dos Estados Unidos para o Programa Manhattan», acrescentou Márcia Gomes de Oliveira.
Um filme que, no entender de António Minhoto, «é um bom contributo, apesar de ter algumas limitações, porque resume-se muito ao que foi o tempo dos ingleses e à bomba atómica e não se resume depois no que foi o sacrifício dos mineiros, no passivo ambiental na questão humana e todo este processo que faz a história, porque a história não pode ser cortada ao meio».
Os antigos trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio (ENU), que teve a sua sede na Urgeiriça, lutam há vários anos para que sejam pagas indemnizações aos familiares dos colegas que morreram com cancro, por exposição à radioactividade.
O International Uranium Film Festival Rio foi criado em 2010, no Rio de Janeiro.
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