A cerimónia decorreu no passado dia 17 de Agosto, em Díli, e a condecoração foi entregue pelo Presidente da República Democrática de Timor-Leste.
No decreto de condecoração, o chefe de Estado recorda, além do trabalho literário, o papel de Luís Cardoso durante a luta pela independência, período em que exerceu funções de representação do Conselho Nacional da Resistência Maubere (CNRM) em Portugal.
José Ramos-Horta destacou o «privilégio e o prazer de trazer de volta a Timor-Leste, à sua terra natal, o grande escritor timorense», que comparou a «Mia Couto, Pepetela e outros grandes escritores de Cabo Verde, Brasil e Portugal».
O presidente timorense exprimiu o orgulho de Timor-Leste pela actividade literária de Luís Cardoso, que «enriquece a cultura e a literatura timorense», e afirmou a vontade das autoridades timorenses em «incentivar a leitura» e, por intermédio do escritor, «também tentar incentivar ainda mais a leitura entre os nossos jovens».
Luís Cardoso, que se encontra radicado em Portugal desde os anos 80, expressou o seu profundo agradecimento pela condecoração, admitindo que o momento o deixou «profundamente emocionado».
«Aceito esta condecoração como homenagem aos meus professores timorenses que me ensinaram a ler e a escrever», afirmou, recordando depois, por nome, os seus «mestres» nas escolas onde estudou na ilha de Ataúro, em Soibada, em Fuiloro.
Quanto à possibilidade de expansão e crescimento da literatura timorense, o autor manifestou-se optimista: «Timor tem um povo extraordinário, tem uma história extraordinária, uma liderança extraordinária que conduziu o povo à independência, tem uma literatura oral extraordinária. Acredito que mais cedo ou mais tarde teremos também escritores extraordinários em Timor-Leste», afirmou.
Biografia breve
Luís Cardoso de Noronha (1958) é um dos mais importantes escritores timorenses. Nasceu em Cailaco, vila do interior de Timor-Leste. Na casa de seus pais a língua corrente era o tétum-praça.
Estudou nos colégios missionários de Soibada, Fuiloro e no Seminário de Dare. Quando se deu a revolução do 25 de Abril de 1974 em Portugal frequentava o Liceu Dr. Francisco Machado em Díli.
Veio para Portugal para prosseguir os estudos e formou-se em em Silvicultura pelo Instituto Superior de Agronomia de Lisboa. O contacto com a obra de Ruy Cinatti ajudou-o a regressar ao mundo físico e sobrenatural de Timor-Leste.
Desempenhou as funções de representante do Conselho Nacional da Resistência Maubere, foi contador de histórias timorenses e professor de Tétum e Língua Portuguesa nos cursos de formação especial para timorenses.
Em 1997 estreou-se na literatura com Crónica de Uma Travessia, que foi bem acolhido pelos leitores e pela crítica.
Publicou depois Olhos de Coruja Olhos de Gato Bravo (2001), A Última Morte do Coronel Santiago (2003), Requiem para o Navegador Solitário (2007), O ano em que Pigafetta completou a circum-navegação (2013), Para Onde Vão os Gatos Quando Morrem? (2017) e O Plantador de Abóboras (2020), com o qual se tornou tornou o primeiro escritor timorense a vencer o prémio literário Oceanos, um dos mais importantes para os países lusófonos.
Contribui para uma boa ideia
Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.
O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.
Contribui aqui