Falando no reencontro com arte, este deve acontecer com maior normalidade e voltar a fazer parte das nossas rotinas, nunca sendo demais referir que serão apresentadas algumas restrições, como a utilização de gel desinfetante, o uso obrigatório de máscara, manter as distâncias e o limite dos visitantes em simultâneo.
Na sequência de mais algumas propostas, sugere-se a visita a exposições de colecções de arte contemporânea e individuais em espaços entretanto encerrados e que agora reabriram ao público como lugares de reencontro com a arte, como a reflexão sobre a «ideia espectral das imagens» e a apresentação das «tendências da arte desde o pós-II Guerra Mundial até à atualidade» em Alpiarça, na ilha de São Miguel, em Coimbra e em Castelo Branco.
O primeiro espaço de reencontro, que agora divulgamos, é a Casa dos Patudos-Museu de Alpiarça1 , que além da sua exposição permanente apresenta, neste momento, aguarelas do artista Carlos Cerveira, «Margens», podendo ser visitada até 30 de agosto. O aguarelista Carlos Cerveira nasceu em Almeirim e apresenta nesta exposição paisagens urbanas de várias localidades nas margens do Tejo.
A Casa dos Patudos, em Alpiarça, foi inaugurada como Museu, em 15 de maio de 1960, aloja a coleção de arte e o património de José Relvas, mais conhecido como político republicano português. O edifício foi inicialmente construído em 1905 com projeto do arquiteto Raul Lino. Desta coleção fazem parte diversas peças de «mobiliário, porcelanas, pinturas e tapeçarias que constituem o núcleo principal da coleção de José Relvas. No que se refere à pintura, escultura e artes decorativas, podemos destacar as obras de Silva Porto, José Malhoa, Columbano Bordalo Pinheiro e Constantino Fernandes, além de notáveis artistas de escolas estrangeiras. Podem, ainda, ser apreciadas porcelanas de Sèvres e de Saxe, azulejaria, peças da Companhia das Índias, cerâmicas da Fábrica das Caldas da Rainha (Rafael Bordalo Pinheiro), Rato, Bica do Sapato e Vista Alegre (primitiva) e bronzes de Chapu, de Mercié e de Frémiet».
O Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas (CAC)2, situado na Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, nos Açores, está alojado num edifício com mais de cem anos. Inicialmente ocupado pela Fábrica de Destilação da Ribeira-Grandense, criada em 1893, foi também utilizado como sequeiro de tabaco e aquartelamento militar. Em 2006 foi vendido à Região Autónoma dos Açores, recebendo entretanto a intervenção do projeto arquitetónico em coautoria de Francisco Vieira Campos, Cristina Guedes e João Mendes Ribeiro. Esta obra de requalificação termina em 2014 e, em 2015, o equipamento acolhe o Arquipélago–CAC. «(Re)encontrando, em cada tempo, o respetivo lugar na comunidade, constitui-se hoje uma estrutura que assume dimensão ainda mais arquipelágica, definitivamente atlântica e universal, através daquela forma de comunicação singular que é a arte.»3
A Exposição «Desvendar: uma mostra da Coleção Arquipélago», ocupa atualmente os espaços de exposição do Arquipélago-CAC, até 6 de setembro. Desvendar é uma mostra constituída por obras da coleção Arquipélago, criada desde 2008 e centrada na criação artística do século XXI, integrando uma seleção de 20 obras de 13 artistas, nunca antes expostas. O comissário Diogo Aguiar criou um circuito «que incorpora fragmentos informativos das obras, fomenta o diálogo entre trabalhos de artistas da América do Sul, como Barrão e Amália Pica, de África do Sul, como Nicholas Hlobo, de Portugal Continental, como João Pedro Vale, Miguel Pacheco e Noémia Cruz, assim como artistas de diferentes ilhas do agrupamento arquipelágico açoriano, nomeadamente Vera Bettencourt, da ilha Graciosa, Rui Melo e Sandra Rocha, da ilha Terceira, André Laranjinha, Maria José Cavaco, Sofia de Medeiros e Joe Lima, da ilha de São Miguel.»
Em 2003 foi inaugurado o Centro de Artes Visuais4 no Palácio da Inquisição de Coimbra, antigo Colégio de Jesus, depois de ser requalificado a partir do desenho do arquiteto João Mendes Ribeiro. O Centro de Artes Visuais (CAV) tem-se afirmado, desde os Encontros de Fotografia, como o principal divulgador da fotografia em Portugal, ao longo das décadas de oitenta e noventa do século XX, tendo-se assumido como uma instituição única e pioneira nas artes visuais em Portugal. No contexto da arte portuguesa, foi pioneira na divulgação das artes da imagem, na estratégia de colecionismo no campo da fotografia e também na sua atividade expositiva e editorial que privilegia a contemporaneidade da fotografia no contexto da arte contemporânea.
«Museu das Obsessões» é o ciclo de programação para o CAV-Centro de Artes Visuais, em Coimbra, de autoria e curadoria de Ana Anacleto para os próximos anos, à volta dos conceitos de Spectrum (2020) e de Vertigem (2021). Atualmente, até 10 de setembro, podemos ver no CAV a exposição coletiva de fotografia e desenho sobre os 40 anos dos Encontros de Fotografia do CAV com o título «Spectrum» e, na sala do Project Room, a exposição individual «Cápsula» de Pedro Henrique.
«Spectrum» é uma exposição comemorativa dos 40 anos dos Encontros de Fotografia no CAV em Coimbra, com obras de 33 artistas, composta por fotografias e um desenho (de Paulo Brighenti). Os trabalhos apresentados fazem parte de uma coleção do Centro de Artes Visuais, que conta com mais de mais de duas mil obras, da qual fazem parte tanto artistas nacionais como estrangeiros, referindo-se Daniel Blaufuks, Fernando Lemos, Jorge Molder, José Luís Neto, Julião Sarmento, Nuno Cera e Paulo Nozolino, mas também Robert Frank, entre muitos outros. Os encontros iniciaram-se com a exposição «Quatro Olhares sobre Coimbra» onde participou Paulo Nozolino, em 1980, e terminaram em 2000. São quatro os subnúcleos que organizam esta ideia espectral de uma presença muitas vezes intuída: um dos núcleos é «muito centrado na representação de espaços vazios, na sua maioria urbanos, que nos fariam acreditar que são habitados», passando pela representação da paisagem, retrato, luz, sombra e da natureza morta e por último, «as figuras já não fogem. Estão presentes, mas sob o espectro da morte, seja factual (como nas duas fotografias de Nozolino)5, ou em representações simbólicas», afirma a curadora.
O Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco (CCC)6 foi inaugurado em 2013, está instalado num edifício de autoria do arquiteto catalão Josep Lluis Mateo em colaboração com o arquiteto português Carlos Reis de Figueiredo e tem como principal objetivo a divulgação da cultura contemporânea, o estímulo à criação artística e a formação de novos públicos.
O CCC de Castelo de Branco, em colaboração com o Centro de Arte Oliva, apresenta a exposição «Sonho Europeu: Obras da Coleção Norlinda e José Lima», que estará aberta ao público até 20 de setembro7 . Esta exposição tem dois momentos, o que está atualmente em exposição e outro a acontecer em 2021. A curadoria é de Miguel Amado, o título de «Sonho Europeu» está relacionado com o nome dado a uma peça de Carla Cruz, reflete sobre «as tendências da arte desde o pós-II Guerra Mundial até à atualidade e inclui obras de artistas portugueses e estrangeiros, históricos e contemporâneos, consagrados e jovens. Ocupando três pisos do Centro de Cultura Contemporânea, apresentam-se cerca de 100 obras de artistas portugueses e internacionais, nomeadamente dos países da Europa, como a Espanha e a Alemanha, e Estados Unidos da América, e também de países africanos de expressão portuguesas ou de países latino-americanos, referindo-se, entre os participantes, Anna Moreno, Bindu Mehra, Dan Graham, Elmgreen & Dragset, Leon Golub, Lizette Chirrime, Joaquim Rodrigo, João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira, Karel Appel, Malangatana, Marianne Keating e Rigo 23.»
Em Castelo Branco poderá ainda visitar o Museu Cargaleiro8, constituído por dois edifícios contíguos, o histórico «Solar dos Cavaleiros», do século XVIII, que abriu ao público em 2005, e um contemporâneo, do século XXI, inaugurado em 2011. Este museu integra obras do acervo do artista Manuel Cargaleiro, não só de sua autoria, mas também de outros artistas nacionais e do estrangeiro. As exposições disponíveis são «Cargaleiro – 60 anos a celebrar a cor», «Manuel Cargaleiro – Vida e Obra» e «Cargaleiro e Amigos», preenchendo os diversos pisos do edifício histórico e do edifício contemporâneo.
- 1. Casa dos Patudos-Museu de Alpiarça. Rua José Relvas, 2090-102 Alpiarça. Horário: terça-feira a domingo, das 10h-12h30 e das 14h-17h30.
- 2. Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas. Rua Adolfo Coutinho de Medeiros, s/n.º, 9600-516 Ribeira Grande, São Miguel, Açores. Horário: terça-feira a domingo, das 10h às 18h.
- 3. Texto de Rute Dias Gregório, Diretora da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, publicado na CulturAçores – Revista de Cultura, e que pode ser lido aqui.
- 4. CAV-Centro de Artes Visuais. Colégio das Artes, Pátio da Inquisição, n.º 10, 3000-221 Coimbra. Horário: terça-feira a domingo, das 14h às 19h.
- 5. Fotografias apresentadas pela primeira vez em 2009 por Paulo Nozolino, na exposição «Bone Lonely» na Galeria Quadrado Azul em Lisboa, onde se apresentaram 32 imagens a preto e branco, captadas entre 1976 e 2008. Entre estas obras, haviam imagens de morte, de uma morgue, em Sarajevo.
- 6. Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco. Campo Mártires da Pátria (Devesa), 6000-156 Castelo Branco. Horário: terça-feira a domingo, das 10h às 13h e das 14h às 18h.
- 7. Como se refere no site do Centro de Arte de Oliva.
- 8. Museu Cargaleiro. Rua dos Cavaleiros, n.º 23, 6000-189 Castelo Branco. Horário: terça-feira a domingo, das 10h às 13h e das 14h às 18h.
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