|iémen

«Ainda ouvimos drones por cima das nossas cabeças»

Ahmed e Khalid bin Ali Jaber recorreram para o Tribunal Constitucional Federal alemão, num caso que respeita à morte de dois familiares por um drone dos EUA, em 2012, lançado a partir de uma base alemã.

Créditos / MintPress News

Em nome dos dois iemenitas, na terça-feira passada, o European Center of Constitutional and Human Rights (ECCHR) apresentou um recurso junto do Tribunal Constitucional Federal da Alemanha, responsabilizando este país pelo ataque que, em Agosto de 2012, matou familiares seus. Argumentam que os EUA utilizaram a base aérea de Ramstein, no Sudoeste do país, para lançar o ataque mortífero.

De acordo com o processo, dois membros da família Ali Jaber terão sido mortos no ataque com drones quando estavam a jantar. O apelo para a mais alta instância judicial alemã é o episódio mais recente de uma longa batalha.

|

A Alemanha violou normas sobre exportações de armas durante décadas

Nos últimos 30 anos, a Alemanha violou de forma sistemática normas relativas à exportação de armamento, fomentando a escalada de conflitos armados no mundo, revelou um grupo de investigadores.

Os tanques de guerra Panzer Leopard 2 integram a brigada que os alemães vão enviar para a Lituânia
Um tanque Leopard 2 participando num exercício militar Créditos / dw.com

Ao longo dos anos, a Alemanha tem vendido armas de guerra e munições «a países afectados pela guerra e por crises, a países com violações de direitos humanos e a regiões em tensão», afirma o Peace Research Institute Frankfurt (PRIF).

Um novo estudo do PRIF, publicado este domingo, analisou a política alemã de exportação de armamento desde 1990 e até que ponto essa política cumpria os critérios estabelecidos pela União Europeia (UE).

Pelo menos no papel, os critérios da UE estabelecem que o país receptor final do armamento deve respeitar os direitos humanos e o direito humanitário internacional, bem como manter a paz e a estabilidade na sua região. De acordo com o estudo, a Alemanha «violou repetidamente esses critérios», e houve guerras alimentadas e graves violações dos direitos humanos cometidas com armas alemãs, informam RT e DW.

Os investigadores do PRIF dão como exemplo o facto de, em Setembro de 2014, a Polícia ter reprimido violentamente os protestos estudantis no México usando espingardas de assalto G36, da empresa alemã Heckler & Koch.

O estudo revela ainda que armas de fabrico alemão estão a ser utilizadas na guerra de agressão ao Iémen. Os investigadores dão ênfase particular ao longo historial de Berlim no que respeita ao fornecimento de tecnologia militar à Arábia Saudita e à Turquia.

Em 2019, os tanques Leopard 2A4, de fabrico alemão, foram usados na incursão militar das forças invasoras turcas na Síria. No que respeita a Riade, desde 2015 que lidera uma brutal ofensiva contra o mais pobre dos países árabes, com armamento e tecnologia alemães.

Apesar dos inúmeros relatórios publicados sobre muitos milhares de baixas civis no terreno, o governo alemão aprovou venda de armas à Arábia Saudita no valor de 1,5 mil milhões de euros desde o início da campanha de ataques e bombardeamentos, aponta o estudo, sublinhando que até os aviões de combate Tornado e Eurofighter Typhoon, vendidos pelo Reino Unido à Arábia Saudita e que levam a cabo ataques aéreos nas cidades iemenitas, «contêm peças fabricadas na Alemanha».

Grupos de defesa dos direitos humanos fizeram pressão para que a Alemanha pusesse fim à exportação de armas a Riade, e alguns políticos de partidos da oposição pressionaram o governo para que travasse a implementação do acordo com a Ancara, revela a RT. O governo alemão acabou por suspender a exportação de armas à Arábia Saudita e à Turquia, em 2018 e 2019, respectivamente.

Não obstante, o estudo considera que a medida não é suficiente, defendendo que «a moratória sobre a exportação [de armas] tem lacunas e é limitada no tempo».

Tipo de Artigo: 
Notícia
Imagem Principal: 
Mostrar / Esconder Lead: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Imagem: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Vídeo: 
Esconder
Mostrar / Esconder Estado do Artigo: 
Mostrar
Mostrar/ Esconder Autor: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Publicação: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Actualização: 
Esconder
Estilo de Artigo: 
Normal

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui

Com a ajuda do ECCHR e da organização de defesa dos direitos humanos Reprieve, em 2014, três iemenitas apresentaram uma queixa contra o governo de Berlim por permitir que os EUA utilizem a base aérea para coordenar ataques com drones no estrangeiro. Em simultâneo, pediam ao governo alemão que deixasse de autorizar os EUA a usar a base para efectuar ataques que violam as leis internacionais, indica o Middle East Eye.

Em 2015, um tribunal alemão indeferiu esta acção. Seguiu-se um recurso e, em 2019, o Tribunal Administrativo de Muenster determinou que o governo da Alemanha era em parte responsável por garantir que os ataques com drones levados a cabo a partir da base de Ramstein tinham de cumprir as leis internacionais.

No entanto, o ano passado, um tribunal federal em Leipzig deliberou de forma bastante diferente, decidindo que os esforços diplomáticos alemães sobre os ataques eram suficientes, independentemente do direito internacional, e concluindo que não havia um envolvimento directo da Alemanha no caso.

«O governo alemão tem de fazer mais»

Num comunicado emitido esta terça-feira, o ECCHR sublinha que o significado da base aérea de Ramstein para os ataques norte-americanos com drones no Iémen é muito maior do que a deliberação do tribunal federal assume.

Afirma igualmente que a Alemanha tem de fazer mais para proteger o direito à vida da família Jaber e avaliar a violação do direito internacional pelos EUA ao usar a base de Ramstein para os seus ataques.

|

Estudo aponta para mais de 10 mil mortos por ataques com drones norte-americanos

Um relatório conjunto assinado por uma organização de juristas dos EUA e por um grupo de reflexão iemenita afirma que o número de vítimas mortais por ataques com drones pode ser cinco vezes superior aos dados oficiais.

Um drone MQ-9 Reaper, na Base Aérea de Creech (Nevada, EUA), capaz de transportar bombas guiadas por laser, misséis ar-ar e ar-terra, utilizados no Afeganistão, na Líbia ou na Somália
CréditosStaff Sgt. N.B. / Força Aérea dos EUA

De acordo com o The Intercept, as estimativas oficiais que apontam para cerca de 3 mil mortes através de ataques conduzidos por aviões não tripulados (drones), em quatro países (Afeganistão, Iémen, Paquistão e Somália), representam apenas cerca de 20% do total de vítimas mortais na última década.

A Clínica de Direitos Humanos da Columbia Law School (EUA) e o Centro de Estudos Estratégicos de Saná (Iémen) apontam para a falta de transparência que envolve a divulgação do número de vítimas.

As estimativas oficiais reconhecem apenas 2935 vítimas mortais, enquanto o The Bureau of Investigative Journalism (TBIJ), uma organização de jornalistas de investigação sem fins lucrativos, aponta para entre 6382 e 9240 mortos por ataques com drones desde 2004.

O número de civis vitimados é estimado pelo TBIJ entre 739 e 1407, a que se somam entre 240 e 308 crianças. De acordo com o The Intercept, os dados podem esconder um número ainda superior de vítimas civis, já que os EUA têm conduzido ataques com drones sobre «homens em idade militar» nas zonas onde operam – inclusivamente durante «casamentos, funerais e outras ocasiões comunitárias».

A frequência dos ataques com drones norte-americanos tem aumentado nos últimos meses – quatro vezes superior à média dos últimos oito anos. Apesar de a maioria dos ataques e das vítimas mortais se registarem no Afeganistão, o número de ataques no Iémen tem vindo a crescer desde 2011.

Tipo de Artigo: 
Notícia
Imagem Principal: 
Mostrar / Esconder Lead: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Imagem: 
Mostrar
Mostrar / Esconder Vídeo: 
Esconder
Mostrar / Esconder Estado do Artigo: 
Mostrar
Mostrar/ Esconder Autor: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Publicação: 
Esconder
Mostrar / Esconder Data de Actualização: 
Esconder
Estilo de Artigo: 
Normal

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui

«O programa de drones armados dos EUA é responsável por milhares de vítimas civis e não poderia funcionar sem o apoio dos parceiros europeus, incluindo a Alemanha», disse Jennifer Gibson, da Reprieve.

Por seu lado, Andreas Schuller, do ECCHR, afirmou que «o perigo colocado pelos ataques com drones via Ramstein não foi evitado», sendo por isso que dediciram avançar para o Tribunal Constitucional Federal, refere o Middle East Eye.

«Ainda ouvimos drones por cima das nossas cabeças e ainda vivemos com medo. Não é possível viver uma vida normal – famílias ainda se sentem em perigo. Temos grande esperança no tribunal alemão», disse Ahmed bin Ali Jaber em comunicado, citado pela mesma fonte.

«Ainda vivemos com medo. Não é possível fazer uma vida normal»

ahmed bin Ali Jaber

Uma acção semelhante foi apresentada, em Janeiro último, pela Reprieve em nome de duas famílias iemenitas que perderam 34 membros, incluindo nove crianças, em seis ataques com drones ilegais perpetrados pelos EUA entre 2013 e 2018.

A acção foi apresentada contra a administração norte-americana junto da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e visa impedir mais mortes e destruição causadas por ataques com drones, informa o Peoples Dispatch.

Invocando a luta contra o terrorismo, o presidente norte-americano Barack Obama autorizou um grande número de ataques com drones no estrangeiro, em países como o Afeganistão e o Iémen, provocando inúmeras mortes entre a população civil.

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui