O ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa acusou forças especiais americanas, britânicas e francesas de «envolvimento directo» na guerra da Síria, operando «ilegitimamente» a partir do território deste país.
«Há forças especiais em território sírio, dos Estados Unidos (EUA) – já não o desmentem – do Reino Unido, da França e de outros países», afirmou Serguei Lavrov em entrevista à cadeia estatal cazaque, citada pela iraniana PressTV1. «Isto não é tanto uma «guerra por procuração» como um envolvimento directo na guerra», referiu o diplomata, acrescentando que a coligação dirigida pelos Estados Unidos, supostamente para lutar contra o Daesh, é «ilegítima» do ponto de vista da lei internacional e da Carta das Nações Unidas.
Lavrov referiu que Moscovo está em «permanente diálogo» com o comando do estado-maior-general dos EUA e oficiais de comunicações que «efectivamente dirigem as operações no terreno», ajuntando que «coordenamos acções pelo menos para prevenir confrontos não intencionais».
O diplomata condenou os ataques contra forças sírias e seus aliados em áreas controladas pelos Estados Unidos, os quais diz continuarem a ter lugar apesar das repetidas promessas americanas de a sua presença militar na Síria visar «exclusivamente» a luta contra o terrorismo.
Quanto à atitude da embaixadora americana nas Nações Unidas, Nikki Haley, que na semana passada afirmou estar Washington preparado para «agir unilateralmente» contra a Síria, tal como fez o ano passado, quando bombardeou uma base aérea governamental após alegações de um ataque com armas químicas, denunciou-a como «totalmente irresponsável».
«Paz para a Síria» reuniu em Astana
A entrevista de Serguei Lavrov ocorreu por ocasião de um novo encontro, na passada sexta-feira, dia 16 de Março, dos países garantes do Processo de Astana/Paz para a Síria, que reuniu os ministros dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, da República Islâmica e da República da Turquia.
A declaração conjunta resultante do encontro realçou o «elevado nível de coordenação tripartida» e acordou em «continuar a interacção efectiva» das partes no sentido de uma melhoria da situação «na Síria e na região».
Rússia, Irão e Turquia sublinham o «formato Astana» como um «instrumento efectivo para a paz e estabilidade» na Síria e a sua vontade em obter uma «irreversível redução da violência no terreno», exigindo ao mesmo tempo o respeito pela «soberania, independência, unidade e integridade territorial da República Árabe Síria».
Os três países pretendem ver lançado um processo «inclusivo, livre, justo e transparente», conducente à aprovação de «uma constituição apoiada pelo povo sírio» e à realização de «eleições livres, sob a devida supervisão das Nações Unidas», e apelam à criação de um «Comité Constitucional» em que participem tanto o governo sírio como as forças da oposição.
De imediato, acolhem favoravelmente a resolução 2401 do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a «grave crise humanitária» afectando diversas regiões da Síria, «incluindo Ghuta Oriental, Foua and Kefraya, a província de Idlib, a província de Northern Hama, Rukhban e Raqqa» e sublinham a necessidade de assegurar «acesso humanitário rápido e seguro às áreas afectadas».
Em Ghuta Oriental milhares de civis já foram resgatados
Apenas na sexta-feira, dia 16, cerca de 17 mil civis conseguiram sair das zonas controladas pelos jihadistas em Ghuta Oriental através de corredores seguros pelo exército sírio nas zonas de Harasta e Hammoriyeh.
O total de civis resgatados atinge já os 30 mil, segundo a agência Sana. Unidades do exército, médicos e enfermeiros do Ministério da Saúde, o Crescente Vermelho sírio e a Cruz Vermelha estão a prover às necessidades imediatas dos civis, na sua maioria mulheres e crianças mas também famílias inteiras. Os deslocados estão a ser transportados para alojamentos temporários mas devidamente equipados.
O alívio entre os civis evacuados era evidente, como constataram diversos correspondentes estrangeiros ao entrevistarem-nos. Diversos refugiados queixaram-se das violências sofridas às mãos dos ocupantes «rebeldes», que os impediram de abandonar as áreas sob ataque do exército sírio, a fim de os usar como «escudos humanos».
«Dispararam, sobre nós, não queriam que fugíssemos, dispararam para as rodas do carro» - disse um dos refugiados.
A ofensiva prossegue
As operações militares prosseguem em Ghuta Oriental. Em três semanas de ofensiva o Exército sírio libertou já 70% do território anteriormente ocupado pelos «rebeldes» e o seu avanço prossegue sobre as três bolsas de resistência (Douma, Harasta e o triângulo Jobar/Kafr Batna/Irbeen) originadas fragmentação do enclave depois da queda de Mesraba e Madyara.
- 1. A totalidade da entrevista pode ser lida no sítio do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa.
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